Bolsonaro sugere 'sombra da suspeição' sobre eleições e volta a pedir participação das Forças Armada
Presidente também atacou Judiciário
O presidente Jair Bolsonaro afirmou, em discurso durante o Congresso Mercado Global de Carbono nesta quinta-feira no Rio, que as sugestões das Forças Armadas ao processo eleitoral "não vão ser jogadas no lixo" e sugeriu que haveria uma "sombra de suspeição" sobre as eleições. Bolsonaro, que tem atacado as urnas eletrônicas sem apresentar evidências, também voltou a criticar o Poder Judiciário, e disse passar "mais da metade do tempo" se defendendo do que chamou de "interferências indevidas" em seu governo.
Bolsonaro e aliados têm alegado que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não acatou sugestões de militares a respeito da contagem e totalização dos votos. O TSE, no entanto, respondeu e rebateu os supostos erros apontados em documento assinado pelo general Heber Garcia Portella, que participa da Comissão de Transparência das eleições. Uma das afirmações rebatida pela Justiça Eleitoral é a de que existiria uma "sala escura" de apuração, o que não procede, e vem sendo um argumento citado por bolsonaristas para questionar a lisura da contagem de votos.
Nesta quinta-feira, o vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Alexandre de Moraes afirmou que a Justiça Eleitoral tem "vontade de democracia e coragem" para combater quem é contrário aos ideais constitucionais e republicanos. A fala aconteceu durante o evento de comemoração dos 90 anos da Justiça Eleitoral, em Brasília.
No Rio, Bolsonaro afirmou ainda que os votos precisam ser "contados publicamente e auditados".
— As Forças Armadas foram convidadas a participar do processo eleitoral, e não vão ser jogadas no lixo suas sugestões e observações. Quem porventura votar no outro lado, queremos que seja respeitado, e quem votar do lado de cá também. Não podemos enfrentar um sistema eleitoral (sobre o qual) paire a sombra da suspeição — disse o presidente.
Leia: Toffoli nega abertura de ação de Bolsonaro contra Moraes no STF
O discurso foi feito ao lado dos ministros Joaquim Leite (Meio Ambiente) e Ciro Nogueira (Casa Civil), durante visita de Bolsonaro ao congresso, realizado no Jardim Botânico, no Rio. Depois de sua fala, Bolsonaro deixou o parque para almoçar em um restaurante no outro lado da rua. Entre os integrantes da comitiva de Bolsonaro estão militares da reserva, como o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello -- pré-candidato a deputado federal pelo PL no Rio — e o ex-ministro da Defesa, Walter Braga Netto, cotado como vice de Bolsonaro este ano.
— O voto é a alma da democracia, e por isso tem que ser contado publicamente e auditado. Não vão ser duas ou três pessoas que vão bater no peito, dizer que vai ser desse jeito, e que vão cassar registro e prender quem agir diferente — afirmou Bolsonaro.
O presidente alegou que "joga nas quatro linhas" da Constituição e argumentou que "geralmente o que acontece é o chefe do Executivo conspirar para se perpetuar no poder", mas que, no Brasil, estaria ocorrendo o "o contrário". Bolsonaro acusou o Judiciário, sem citar nomes, de interferência "explícita" e "indevida". Na quarta-feira, Bolsonaro acionou a Procuradoria-Geral da República após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli negar um pedido do presidente para investigar o também ministro Alexandre de Moraes.
— Muitos dos meus ministros sofrem com interferências explícitas do Judiciário, o que é muito lamentável. Mais da metade do tempo passo me defendendo de interferências indevidas — disse o presidente.