Reino Unido

Polícia britânica conclui investigação do 'partygate' sem novas sanções para Johnson

Um porta-voz de Johnson informou que a polícia "confirmou que não vai tomar nenhuma outra medida" contra o primeiro-ministro

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, enfrentarão multas por violar as leis de bloqueio do Covid-19 decorrentes do escândalo - Daniel Leal / AFP

A polícia britânica concluiu nesta quinta-feira (19) sua investigação sobre o "partygate", festas celebradas em Downing Street em meio às medidas restritivas para conter a covid-19, sem impor ao primeiro-ministro, Boris Johnson, novas multas que poderiam ameaçar sua permanência no cargo.

Pouco depois de a Scotland Yard anunciar o fim das investigações, um porta-voz de Johnson informou que a polícia "confirmou que não vai tomar nenhuma outra medida" contra ele.

Muitos deputados da maioria conservadora pediram para esperar o resultado da investigação para decidir se tentariam uma moção de censura interna para mudar seu líder e inquilino de Downing Street.

Em abril, o polêmico Johnson foi multado em 50 libras (R$ 306 reais) por participar de uma festa surpresa por ocasião de seus 56 anos em junho de 2020, em plena pandemia do coronavírus, na sala do conselho de ministros. Sua esposa, Carrie Johnson, e o ministro das Finanças, Rishi Sunak, tiveram a mesma sorte.

O líder conservador se desculpou "sem reservas" perante o Parlamento, mas descartou renunciar, assegurando que não lhe havia "ocorrido naquele momento, nem posteriormente", que sua participação no breve encontro "pudesse constituir uma infração das normas".

'Insulto terrível'

A Scotland Yard investigou durante meses uma dúzia de supostas festas organizadas nas dependências do governo durante os 'lockdowns' e a imprensa destacou a presença de Johnson em várias delas, gerando o temor de novas sanções à medida que o caso avançasse. Finalmente, o premiê foi multado apenas pelo evento que parecia menos grave e premeditado. 

Em um comunicado, a polícia anunciou que suas investigações, agora concluídas, geraram um total de 126 multas, correspondentes a oito datas diferentes, de 20 de maio de 2020 a 16 de abril de 2021. 

A operação, da qual participaram 12 investigadores em tempo integral, custou 460 mil libras (cerca de R$ 2 milhões de reais). 

A associação de parentes de vítimas da covid considerou que o dinheiro necessário para revelar os descumprimentos das normas em Downing Street é um "insulto terrível para quem perdeu seus entes queridos" para o coronavírus, que matou mais de 177.000 pessoas no Reino Unido.

Os investigadores examinaram 345 documentos, 510 fotos e gravações de vídeo e analisaram 204 questionários.

'Escala industrial'

A investigação revelou "infrações à lei em escala industrial", denunciou o líder da oposição, o trabalhista Keir Starmer, à emissora Sky News, reiterando seu pedido para que Johnson se demita. 

O primeiro-ministro é "responsável pela cultura" que reina em Downing Street, declarou.  

O fim da investigação policial agora abre a via para a publicação, possivelmente na próxima semana segundo a imprensa britânica, do relatório completo da investigação interna realizada pela alta funcionária Sue Gray. 

Um relatório anterior de Gray fez há meses uma antecipação mordaz, ao denunciar "erros de liderança e julgamento" em Downing Street.

A publicação deste relatório permitirá, por sua vez, iniciar os trabalhos de uma comissão parlamentar que deverá determinar se Johnson mentiu aos deputados quando disse a eles que as normas anticovid sempre haviam sido respeitadas nos locais onde ele mora e trabalha.

O código de conduta estabelece que um ministro que tenha enganado deliberadamente o Parlamento deve se demitir.

Starmer, que também foi acusado de compartilhar cervejas com sua equipe durante uma campanha eleitoral em abril de 2021, assegurou há duas semanas que se demitiria caso fosse multado.

"Não houve nenhum descumprimento das normas de minha parte, nem da parte de ninguém da minha equipe", reiterou na quinta-feira o líder da oposição. "Não há comparação" com a situação de Johnson, insistiu.