Ucrânia

Em plena ofensiva russa, Congresso dos EUA aprova ajuda bilionária à Ucrânia

Pacote inclui US$ 6 bilhões para ajudar a Ucrânia a adquirir veículos blindados

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos - Ludovic Marin/ AFP

O Congresso americano aprovou nesta quinta-feira (19) um pacote gigantesco de US$ 40 bilhões para ajudar a Ucrânia a enfrentar a ofensiva da Rússia, que conseguiu uma vitória simbólica com a rendição de centenas de combatentes entrincheirados há semanas em uma siderúrgica em Mariupol (leste).

O pacote inclui US$ 6 bilhões para ajudar a Ucrânia a adquirir veículos blindados e reforçar seu sistema de defesa antiaérea. A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro e nas últimas semanas concentrou seus ataques no leste e no sul do país.

O projeto de lei tem que ser sancionado pelo presidente Joe Biden, que o tinha solicitado depois de ter obtido em meados de março um pacote inicial de US$ 14 bilhões.

As potências ocidentais do G7 também discutem o aporte de fundos para apoiar a economia da antiga república soviética, em uma reunião de dois dias iniciada nesta quinta na Alemanha.

"Heróis"
A Rússia anunciou que cerca de 800 ucranianos entrincheirados havia semanas nos túneis do complexo siderúrgico Azovstal na cidade portuária de Mariupol se renderam nas últimas 24 horas, elevando o total a 1.730 desde a segunda-feira.

Entre os combatentes que entregaram as armas estão 80 feridos, que foram levados para um hospital em território controlado pela Rússia, informou o ministério da Defesa da Rússia.

O ministério divulgou um vídeo que mostra soldados saindo da usina, alguns visivelmente feridos e outros utilizando muletas. 

De acordo com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, "centenas de prisioneiros de guerra ucranianos" estariam na usina de Mariupol, cidade às margens do Mar de Azov, devastada por bombardeios russos que deixaram, segundo Kiev, ao menos 20.000 mortos.

O governo ucraniano não mencionou qualquer rendição. O presidente Volodymyr Zelensky referiu-se na segunda-feira a uma "evacuação", obtida graças à mediação internacional para proteger a vida destes "heróis".

Confirmando implicitamente a versão de uma solução negociada, como tinha ocorrido anteriormente sob os auspícios do CICV para evacuar outros civis de Mariupol, a ONU mencionou uma mediação, ao afirmar que deveria servir de base para negociações de paz.

"Me alegra saber que o fato de que esta cooperação tenha funcionado relativamente bem, em todo caso muito melhor do que em semanas anteriores, é algo sobre o qual podemos construir" um "diálogo para pôr fim a esta guerra", declarou o encarregado da ONU para situações de emergência, Martin Griffiths, em Genebra.

A maioria dos militares entrincheirados integravam a unidade de marinheiros do exército ucraniano e do batalhão Azov.

Um vice-comandante deste batalhão, Sviatoslav Palamar, informou em um vídeo divulgado na noite desta quinta que ele ainda estava na siderúrgica com o restante do comando, sem revelar os detalhes da "operação" em curso. 

Apesar da queda de Mariupol, Zelensky afirmou que a invasão russa foi um "fracasso absoluto" e assegurou que seu povo se mantém "forte, inquebrantável, corajoso e livre".

Na frente militar, as forças ucranianas estão lentamente perdendo terreno na frente oriental do Donbass, uma área de mineração parcialmente controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014.

Pelo menos 12 pessoas morreram e 40 ficaram feridas em bombardeios russos na cidade de Severodonetsk, no leste da Ucrânia, sobre a qual as tropas russas estão tentando fechar o cerco, informou o governador regional.

Suécia e Finlândia, a caminho da Otan
A operação militar iniciada por Moscou em 24 de fevereiro empurrou Suécia e Finlândia para uma aproximação da Otan.

O principal obstáculo é a Turquia, que acusa os dois países nórdicos de abrigar extremistas separatistas do Curdistão, que estão em conflito há décadas com Ancara.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, recebeu os chefes de Governo de Suécia e Finlândia e assegurou que os dois países cumprem "todos os requisitos" e contam com "o apoio total e completo dos Estados Unidos" para entrar na Aliança Atlântica.

O presidente russo, Vladimir Putin, que justificou em parte a invasão da Ucrânia pela expansão da Otan até as fronteiras de seu país, afirmou que a entrada dos dois países nórdicos "não representa uma ameaça direta".

Mas ele destacou que a "expansão da infraestrutura militar a estes territórios vai gerar uma resposta" da Rússia, que compartilha 1.300 quilômetros de fronteira com a Finlândia.

"Peço perdão"
Mais de seis milhões de ucranianos fugiram para o exterior e mais de oito milhões viraram deslocados internos, para fugir das tropas russas que acumulam acusações de crimes de guerra de Kiev e dos países ocidentais.

O primeiro soldado russo julgado na Ucrânia por crimes de guerra pediu "perdão" nesta quinta-feira (19) em um tribunal de Kiev ao detalhar como matou um civil no início da invasão russa.

"Sei que você não poderá me perdoar, mas, mesmo assim, peço perdão", afirmou o sargento russo Vadim Shishimarin, de 21 anos, à esposa do civil de 62 anos que ele admitiu ter matado no nordeste da Ucrânia em 28 de fevereiro.

A Promotoria solicitou prisão perpétua para o réu - a pena máxima prevista na Ucrânia.

O governo russo afirmou que não tem informações sobre o caso, mas que a maioria das denúncias na Ucrânia são "falsas ou encenações".

As acusações também são investigadas pelo Tribunal Penal Internacional, que enviou 42 observadores ao país, e pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU.