RIO DE JANEIRO

"Levei tiro por causa de quatro reais", diz atendente do McDonald's baleado por bombeiro

Jovem perdeu o rim esquerdo e teve ferimentos no intestino. O militar foi preso preventivamente na sexta-feira

Atendente da Mc Donalds, Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos - Reprodução

“Eu levei um tiro por causa de quatro reais”. O desabafo em entrevista para o Fantástico, da TV Globo, foi feito pelo atendente do McDonalds Mateus Domingues Carvalho, de 21 anos, baleado no último dia 9, pelo sargento do Corpo de Bombeiros Paulo César de Souza Albuquerque, numa discussão que começou por causa de um cupom de desconto.

O rapaz que estava internado no hospital Marcos Moraes, na Tijuca, teve alta médica na quarta-feira. Ele foi operado no Hospital municipal Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. O acusado se entregou na 32ª Delegacia de Polícia (Taquara), na última sexta-feira, horas após a Justiça expedir mandado de prisão preventiva contra ele.

O jovem disse que o episódio mudou sua vida da noite para o dia. Ele contou que na madrugada do último dia 9, o salão da lanchonete estava fechando e com atendimento apenas no Drive Thru, em cujo caixa ele se encontrava quando, por volta das 2h da manhã, o sargento chegou. Tinha um carro na frente do dele e, demonstrando alteração o militar buzinava muito.

— Falei 'vou tratar ele bem, dar um bom-dia como eu faço com todo mundo, botar um sorriso no rosto pra amenizar a situação'. aí ele: 'a promoção do big mac.' Depois que eu finalizei a compra ele mostrou o cupom.
 

O rapaz contou ter explicado para o cliente que no sistema da empresa, o desconto tem que ser registrado primeiro e que, depois de finalizado, só o gerente pode mudar, mas ele não queria esperar e teria dito, segundo o atendente, “eu não tenho que mostrar nada, tô há duas horas na fila!”

O jovem contou também que o sargento dos bombeiros desceu do carro e perguntou se ele sabia com quem estava falando. “Tô falando com o senhor”, respondeu. E, “nisso ele já me deu um tapa na cara simplesmente. Eu não entendi por quê. Aí automaticamente eu revidei . Depois disso ele saiu, eu não sabia pra onde ele foi”, contou.

Imagens do vídeo de câmera de segurança mostram que o acusado tinha ido dar a volta para entrar no estabelecimento. As imagens mostram ainda Paulo César, que estava acompanhado por outro homem, gritando com o segurança, que estava dentro da loja. Ele guardou a arma.

— Aí ele veio andando com as mãos livres, normal, chegou bem perto de mim e perguntou: 'você sabe com quem você tá falando?' eu repeti: com o senhor. nisso ele me deu outro tapa na cara, revidei de novo, aí nisso que eu revidei, ele já sacou a arma e já me deu um tiro, eu caí — disse Matheus, acrescentado que depois disso o homem saiu caminhando lentamente.— Foi uma coisa muito fútil, cara. Se ele esperasse um minuto eu ia chamar o gerente, ele ia bater o cupom. Ele ia levar o que ele queria. Se eu não me engano o cupom dá uma diferença de quatro reais. Eu levei um tiro por causa de quatro reais.

Mateus foi levado inicialmente para um hospital público na Zona Oeste, onde passou por uma operação de emergência e depois foi transferido para uma unidade particular, na Zona Norte. A bala atingiu o rim esquerdo, que foi retirado. Atingiu também o intestino grosso e se alojou nas costas. O rapaz está usando uma bolsa de colostomia e dentro de dois meses vai passar por outra cirurgia pra retirar a bolsa. O atendente não quer mais voltar à loja onde tudo aconteceu e espera ser deslocado para outra filial, de fácil acesso.

Em nota, o Mc Donald’s informou que tem dado apoio à família e que tentará fazer com o que o jovem se sinta o mais confortável possível quando voltar ao trabalho. Paulo César, o acusado de ter feito os disparos, está preso preventivamente desde sexta-feira. Também por meio de nota sua defesa informou que não há requisitos para a prisão preventiva e que vai tentar revogá-la.

O Corpo de Bombeiros informou que Paulo Cesar está afastado da Corporação e ainda pode ser expulso. Sobre o momento em que atirou, Paulo Cesar disse em depoimento que recebeu um soco dele e apertou o gatilho de forma acidental.

Desde que deixou o hospital Mateus está morando com uma tia. Ele disse não ter condições de viver sozinho.

— Eu não consigo ir ao banheiro sozinho. Eu não consigo enxugar minhas pernas sozinho — lamenta o rapaz que sonha ser veterinário. Ele trabalhava com atendente para juntar dinheiro para fazer faculdade — Eu achei que eu tava tão perto . Acabou que aquela empolgação toda virou medo. Não machucou só o meu corpo. O estrago foi feito, isso é uma coisa que leva tempo pra curar... entendeu? ainda vai doer muito, muito, muito.