Recife está pronto para ouvir Caetano Veloso
Artista baiano apresenta nesta sexta (27) e sábado (28) show da turnê "Meu Coco", do álbum autoral recentemente lançado, com ingressos esgotados para as duas noites
“Tudo partiu de uma batida no violão” que lhe pareceu esboçar algo. Se “realizasse como sonhava, soaria original a qualquer ouvido em qualquer lugar do mundo”.
E ressoou, inclusive para ele próprio, Caetano Veloso, que discorreu dessa forma nas redes sociais e em tom explicativo, às vésperas do lançamento de “Meu Coco” (Sony Music, outubro de 2021) - disco de inéditas do cantor e compositor baiano, que será apresentado em duas noites, hoje e amanhã no Teatro Guararapes, em Olinda, com ingressos esgotados.
Álbum surgiu em 2019
Nove anos depois do também autoral “Abraçaço” (2012), um dos nomes incontestáveis da música brasileira ressurge arrebatador e com a consistência que talvez lhe tenha faltado no trabalho anterior, ao menos se comparado a toda uma discografia que pesa à sua trajetória de mais de cinquenta anos de excelência musical.
“Elas (as faixas do novo disco) representam como minha cabeça está agora, no sentido de capacidade de produzir canções”, comentou ele ainda durante as gravações do seu estúdio em casa, em maio de 2021, dois anos após ter concebido a ideia do álbum, aflorado em 2019 em Salvador e em seguida frustrado pela pandemia para só depois ser efetivado e apresentado ao público.
Caê novamente solo
Tal qual sucedeu “Abraçaço” como disco, “Meu Coco” também reestreia um Caetano solo em palcos Brasil afora. A capital mineira foi quem recebeu o show de abertura da turnê no Brasil, em abril, antes do tour europeu do disco – cuja direção musical é compartilhada entre o próprio artista, Lucas Nunes e Pretinho da Serra. Em Belo Horizonte, o repertório do novo trabalho – que por si só bastaria para ouriçar a plateia – foi incrementado pelas aclamadas “O Leãozinho” (1977), “Lua de São Jorge” e “Menino do Rio”, ambas de 1979.
Além delas, vai ser bem-vindo por aqui também se ele arriscar passos de dança antes, durante e depois de entoar (e empolgar) a inesgotável “Reconvexo” (1989). Especificamente de "Meu Coco", desde setembro do ano passado “Anjos Tronchos” foi apresentada em single que antecedeu o lançamento e em uma live realizada por ele em 2020, “Autocalanto” - canção que ele afirmou ser o retrato do neto Benjamin, atualmente com um ano de idade e filho de Tom, que no disco o acompanha no violão - também foi levada a público.
Caetano sobe ao palco acompanhado, além de Pretinho da Serra – que recentemente esteve por aqui em show memorável de Marisa Monte, com quem dividiu a faixa “Elegante Amanhecer” de “Portas” – e de Lucas Nunes, por Kainã do Jêje (bateria e percussão), Rodrigo Tavares (teclados), Alberto Continentino (baixo) e Thiago da Serrinha (percussão, bateria e teclados).
Música libertária desde...
E assim com tem sido em tempos de retomadas culturais País afora no pós-pandemia, não causará estranhezas se em meio à faixa carro-chefe homônima ao disco, cujos versos exaltam a “palavra bunda como o português dos Brasis” e a obviedade de que “somos mulatos híbridos e mamelucos”, bradem de um Guararapes lotado gritos libertários prontamente acolhidos por um Caetano que se vale também da arte como respiro para seguir adiante, afinal “(...) É muito amor, é muita luta, é muito gozo/É muita dor e muita glória” para culminar em esculachos com a nossa história.
Recados que estão na letra de “Não Vou Deixar”, lançada também em vídeo (visualizer) e disponível para os que não conseguiram chegar a tempo aos ingressos dos shows e não verão, ao vivo, o movimento de um artista que desde a ditadura de 1968 exalta esperança por entre “fotos e nomes, sem livros e sem fuzil, sem fome, sem telefone, no coração do Brasil”.
Serviço
Show de Caetano Veloso, turnê “Meu Coco”
Sexta-feira (27) e sábado (28) no Teatro Guararapes, 21h
Ingressos esgotados