Rio de Janeiro

Suspeitas de tortura durante operação policial em favela do Rio

O Ministério Público Federal abriu uma investigação sobre possíveis violações dos direitos humanos ocorridas durante a operação

Operação policial deixam mais de 20 motos, incluindo uma mulher que foi vítima de bala perdida - Mauro Pimentel / AFP

Alguns dos corpos encontrados após a operação policial que matou mais de 20 pessoas em uma favela do Rio de Janeiro mostravam sinais de tortura e execução sumária, descreveu à AFP nesta quinta-feira o procurador da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, Rodrigo Mondego.

"Conseguimos chegar até um cadáver que estava com o rosto cheio de um pó branco. Parecia cocaína. Quem o matou fez ele comer ou esfregou cocaína na cara dele, o que caracteriza tortura", indicou Mondego, acrescentando que houve depoimentos de pessoas mortas a faca.

Segundo o relatório mais recente das autoridades sanitárias, 26 pessoas morreram durante a operação policial dessa terça-feira (24) na favela Vila Cruzeiro, incluindo uma mulher que foi vítima de bala perdida. A polícia do Rio de Janeiro, no entanto, revisou nesta quinta-feira (26) o número de mortos para 23, explicando que três corpos procediam de uma favela localizada a 5 km de distância, onde há confrontos entre narcotraficantes.

Mondego disse que visitou a Vila Cruzeiro com membros da Defensoria Pública durante a operação, a pedido de representantes de uma associação de moradores. "Existem indicativos de execução. Segundo relatos de testemunhas, pessoas já rendidas na mata foram executadas", na parte alta da favela.

Segundo Mondego, o próprio relatório da operação policial reforça essas suspeitas de execuções extrajudiciais: “Pelas estatísticas internacionais, nunca vimos tiroteio onde morrem mais de 20 pessoas de um lado e nenhuma do outro."

O Ministério Público Federal abriu uma investigação sobre "possíveis violações" dos direitos humanos cometidas por agentes na Vila Cruzeiro.