Blinken diz que EUA não querem 'Guerra Fria' com a China
Após a fala de Biden sobre a defesa de Taiwan, secretário afirma que os EUA não mudaram sua política em relação à China
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, instou nesta quinta-feira (26) a competição vigorosa com a China para preservar a ordem mundial vigente, mas informou que os Estados Unidos não buscam uma "Guerra Fria".
Em discurso que era aguardado como o mais explícito sobre a política do presidente Joe Biden em relação a Pequim, Blinken disse que a China é "o mais sério desafio de longo prazo para a ordem internacional" apesar de há meses o foco de Washington estar na invasão russa da Ucrânia.
"A China é o único país que tenta reformular a ordem internacional e cada vez mais tem o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo", disse Blinken em um discurso na Universidade George Washington.
"A visão de Pequim nos afastaria dos valores universais que tanto sustentaram o progresso do mundo nos últimos 75 anos", disse.
"O presidente Biden acredita que esta década será decisiva. As ações que adotarmos internamente e com outros países do mundo determinará se nossa visão de mundo se tornará realidade", afirmou.
Blinken admitiu que há um consenso crescente de que os Estados Unidos não podem mudar a trajetória da China quando seu presidente, Xi Jinping, assume uma posição cada vez mais firme tanto dentro quanto fora de seu país.
"De forma que devemos dar forma ao ambiente estratégico em torno da China para avançar na nossa visão de um sistema internacional aberto e inclusivo", disse Blinken.
"Guerra Fria não"
Sem pomposidade retórica, nem surpresas, Blinken fez um contraste implícito com o governo anterior de Donald Trump, que se referia em termos muito duros aos conflitos com a China.
Blinken, que em viagens a África e América Latina buscou mitigar a influência chinesa nestas regiões, não pediu aos países que escolhessem ao lado de qual potência se situam.
"Não buscamos um conflito ou uma nova Guerra Fria. Ao contrário, estamos decididos a evitar as duas coisas", disse Blinken.
"Não buscamos bloquear a China em seu papel de grande potência, nem buscamos impedir a China - ou outro país - a fazer sua economia crescer ou avançar em benefício de seu povo", disse.
Mas destacou que a defesa da ordem mundial, incluindo o direito internacional e acordos, "tornaria possível a todos os países, incluindo os Estados Unidos e a China, coexistir e cooperar".
Funcionários dos Estados Unidos querem trabalhar com a China na questão das mudanças climáticas, sendo os dois países os maiores emissores de gases de efeito estufa, que aquecem a atmosfera.
Estas áreas de colaboração geraram críticas em regiões áreas dos Estados Unidos onde consultas apontam para uma grave deterioração nas opiniões sobre a China nos últimos anos.
Os Estados Unidos têm trabalhado com a China apesar de acusarem Pequim de estar cometendo um genocídio na região de Xingiang, onde mais de um milhão de muçulmanos uigures e outros majoritariamente muçulmanos falantes de turco foram detidos.
Novo enfoque para a Ásia
Após afirmar que a China "porá à prova a diplomacia americana como nunca antes", Blinken anunciou a formação de uma 'Casa China' nos Estados Unidos para coordenar políticas nas diferentes regiões.
Seu discurso foi a última tentativa do governo Biden de mostrar que presta atenção na Ásia apesar da guerra na Ucrânia.
Biden visitou este mês aliados como Japão e Coreia do Sul e convidou líderes do sudeste asiático para uma cúpula em Washington.
Joshua Shifrinson, especialista em política de grandes potências no Wilson Center, disse que Biden parece ansioso por redirecionar sua política externa depois de 15 meses de um mandato marcado pela guerra na Ucrânia, a retirada do Afeganistão e a pandemia.
"Está tentando deixar de brincar de gato e rato na política externa e voltar" à aposta "estratégica de longo prazo que quer deixar como legado", assegurou.
O discurso de Blinken foi proferido dias depois de Biden agitar as águas em Tóquio, ao afirmar que os Estados Unidos defenderiam militarmente Taiwan, uma democracia autônoma reivindicada por Pequim.
Blinken acusou Pequim de aumentar as tensões com Taiwan e insistiu em que os Estados Unidos não mudem sua política depois de o presidente Joe Biden afirmar que Washington defenderia a ilha.
"Nossa política não mudou. O que mudou foi a crescente coerção de Pequim, como se tentasse amputar Taiwan das relações com outros países e bloquear sua participação nas organizações internacionais", disse Blinken em seu discurso.
Os Estados Unidos mudaram o reconhecimento de Taipé a favor de Pequim em 1979. Washington fornece a Taiwan armas para autodefesa, enquanto se mantém deliberadamente ambígua sobre se interviria militarmente caso a ilha fosse invadida