Guerra na Ucrânia

Combates alcançam 'intensidade máxima' no leste da Ucrânia

Presidente ucraniano acusa russos de praticar de genocídio na região

Fumaça e sujeira sobem da cidade de Severodonetsk, durante o bombardeio na região leste ucraniana de Donbas - Aris Messinis / AFP

Os combates no leste da Ucrânia atingiram sua "intensidade máxima" nesta quinta-feira (26), segundo as autoridades ucranianas, que continuam exigindo insistentemente o envio de mais armas dos países ocidentais para combater o poderio militar da Rússia.

A avassaladora ofensiva russa na região oriental do Donbass, alvo prioritário de Moscou após fracassar em sua tentativa de tomar Kiev, a redobrar seus pedidos de armas aos países ocidentais.

"A ofensiva atual dos ocupantes no Donbass poderia deixar a região inabitada", afirmou o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, em seu discurso televisivo diário, acusando a Rússia de querer "reduzir a cinzas" várias cidades da região.

A Rússia exerce a "deportação" e "os assassinatos em massa de civis" no Donbass, insistiu. "Tudo isso (...) é uma política evidente de genocídio desempenhada pela Rússia".

Ao iniciar sua invasão em 24 de fevereiro, Moscou argumentou, entre outros motivos, um suposto "genocídio" contra a população russófona no Donbass, cenário desde 2014 de uma guerra entre o governo ucraniano e os separatistas pró-russos.

Nesta bacia mineira, formada pelas regiões de Donetsk e Lugansk, "os combates alcançaram sua identidade máxima", declarou à imprensa a vice-ministra da Defesa da Ucrânia, Hanna Malyar.

"Temos diante de nós um período longo e extremamente difícil", acrescentou.

Concretamente, o exército russo tenta assumir o controle da cidade de Severodonetsk, que tinha cerca de 100.000 habitantes antes da guerra, em Lugansk, que o exército russo tenta cercar há dias. 

Sua tomada, juntamente com a vizinha Lysychansk, às margens do rio Donets, abriria o caminho para Kramatorsk, centro administrativo de fato da Ucrânia no Donbass, e pode ser chave para o controle de toda a região.

"O exército russo lançou todas as suas forças para tomar a região de Lugansk", disse o governador regional, Serguei Gaidai.

"Combates extremamente ferozes ocorrem nos arredores de Severodonetsk. Simplesmente estão destruindo a cidade, a bombardeiam diariamente, sem pausa", acrescentou.

Ucrânia pede mais armas
"Algumas cidades e vilarejos não existem mais" nessa região, que está sob forte bombardeio há dias, disse o ministro de Relações Exteriores ucraniano, Dmytro Kuleba, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

"Foram reduzidas a ruínas pela artilharia russa, pelos sistemas russos de foguetes de lançamento múltiplo", disse o ministro, acrescentando que esse é precisamente o armamento que seu país precisa agora.

"Os países que demoram no fornecimento de armas pesadas à Ucrânia devem entender que a cada dia que passam decidindo, ponderando diferentes argumentos, tem gente morrendo", insistiu.

Desde o início da invasão russa, mais de 8 milhões de ucranianos se tornaram deslocados internos e outros 6 milhões fugiram do país, que tinha 37 milhões de habitantes nos territórios controlados por Kiev. 

Os países-membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) condenaram, por ampla maioria, a invasão russa e os bombardeios de hospitais e instalações médicas na Ucrânia.

Segundo a OMS, foram registrados 256 ataques contra o serviço de saúde da Ucrânia desde o início da invasão. Destes, foram utilizadas armas pesadas em 212.

 'Saber que não estamos sozinhos'
Na região de Luhansk, uma das que formam o Donbass junto com Donetsk, as cidades na linha de frente ficaram sem seus habitantes e os que permanecem, muitos deles idosos, passam a maior parte do tempo abrigados em porões.

Como na cidade de Soledar, a dezenas de quilômetros de Severodonetsk, onde Natalia, de 47 anos, saiu às ruas "apenas para ver gente".

"Precisamos saber que não estamos sozinhos e que ainda existe vida por aqui", declarou.

Na cidade vizinha de Lysychansk, a polícia assumiu o controle do serviço funerário para enterrar os mortos, disse o governador de Luhansk, Serhiy Haiday. Pelo menos 150 pessoas tiveram que ser sepultadas em uma vala comum, acrescentou.

Segundo a presidência ucraniana, nas últimas 24 horas, pelo menos três pessoas morreram nesta cidade da região de Luhansk e outros quatro civis em Donetsk. 

A governador informou no aplicativo Telegram que todas as forças russas estavam posicionadas na região, o que tornou a situação "extremamente difícil". 

Em Kharkiv, no nordeste, sete pessoas foram mortas em novos bombardeios, e no sul, perto de Mikolayv, mais dois civis morreram nos combates. 

"Os países que hesitam no fornecimento de armas pesadas para a Ucrânia devem entender que, a cada dia que passam decidindo, ponderando diferentes argumentos, há gente morrendo", insistiu Kuleba em Davos.

Rússia acusa Ocidente
A guerra entre dois grandes exportadores de grãos, que produzem um terço do trigo mundial, provoca preocupação pelo risco de uma crise alimentar.

Kuleba informou que há conversas entre Kiev e a ONU sobre a possibilidade de criar uma passagem segura a partir do porto de Odessa, mas a Rússia nega que haja um bloqueio aos portos do país e atribui a situação a "medidas ilegais" adotadas pelos países ocidentais. 

Putin afirmou hoje, em conversa com o primeiro-ministro italiano Mario Draghi, que a Rússia "está disposta a aportar uma contribuição significativa para superar a crise alimentar", com a condição de que o Ocidente levante as sanções que lhe foram impostas "por motivações políticas".

Os países ocidentais "devem anular essas decisões ilegais que dificultam o afretamento de navios e as exportações de grãos", disse, por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov.