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Treta no 'grupo de zap': eleição na Câmara gera bate-boca no partido de Bolsonaro

Parlamentares que estão há mais tempo no partido se insurgiram contra a decisão de colegas recém-filiados, como Major Vitor Hugo (GO) e Carla Zambelli (SP)

Deputada Carla Zambelli - Cleia Viana / Câmara dos Deputados

A eleição para a primeira vice-presidência da Câmara, ocorrida na quarta-feira, deu origem a um bate-boca entre integrantes da bancada do PL, partido do presidente Jair Bolsonaro. O próprio titular do Palácio do Planalto foi acionado para pôr panos quentes na contenda. Após a desavença, por fim, o mineiro Lincoln Portela (MG), da velha guarda do partido, venceu a disputa pela segunda cadeira mais importante da Casa.

Antes disso, contudo, houve troca de acusações no grupo de WhatsApp do PL até que se decidisse quem representaria a legenda na eleição.

Parlamentares que estão há mais tempo no partido se insurgiram contra a decisão de colegas recém-filiados, como Major Vitor Hugo (GO) e Carla Zambelli (SP), de tentar concorrer ao posto. Ambos são ligados ao Palácio do Planalto. Normalmente, é dada a preferência a quadros mais antigos da sigla.

No grupo de WhatsApp da bancada, a bolsonarista Major Fabiana (RJ) trocou farpas com Giovani Cherini (RS), que está no PL desde 2016, sobre a possibilidade de a Carla Zambelli concorrer. Zambelli migrou do PSL para o PL durante a janela partidária, período em que os parlamentares podem mudar de legenda sem perderem o mandato.

A discussão começou na terça-feira, quando Zambelli disse que iria desistir da disputa para apoiar Vitor Hugo, ex-líder do governo e um dos deputados mais próximos de Bolsonaro.

Cherini reagiu, e o bate-boca esquentou. Escreveu ele: "Eu apoio quem o Valdemar Costa Neto (presidente do PL) apoiar. Mas eu acho que deveríamos eleger algum nome mais MODERADO e que não tenha tanta sede de aparecer. Uma pequena lembrança. Por exemplo: CAPITÃO AUGUSTO. Eu vou disputar a mesa no ano que vem".

Ao acusar colegas de atropelar tradições em busca de visibilidade (no ano eleitoral), Cherini irritou Major Fabiana.

"Necessidade de aparecer não. Pera aí. Concordo com a experiência, com a articulação, mas necessidade de aparecer temos todos nós", disse. "Ela (Carla Zambelli) não é diferente por isso. A diferença é que o nome dela dá match (sic) (...). Mesmo assim, vamos ficar calados e aguardar o PR VCN (Valdemar Costa Neto), o único apito com bolinha nessa tribo", respondeu Major Fabiana.

Cherini rebateu e criticou o PSL, antiga morada partidária de boa parte dos bolsonaristas que ingressaram no PL. "O PL sem Valdemar Costa Neto seria igual o PSL de vocês. EXISTE UMA FILA… mas não vou mais discutir aqui. Respeito a todos, pq será que o PL funciona e o PSL se matavam???", escreveu.ro

Após a bronca do colega, Major Fabiana também se despediu e encerrou a conversa. Por último, Zambelli quis se defender da acusação de querer "aparecer".

"Cherini, estou confortável em responder, pois eu já tinha aberto mão (de concorrer) às 07h, em favor de um projeto maior. Minha lealdade é ao PR Bolsonaro e meu respeito ao VCN por ter nos acolhido", escreveu. Mais adiante, continuou: "Se existe uma fila e isso nunca foi dito antes, então não vejo muita diferença da descrição que você fez do PSL. Sobre aparecer, como a Major Fabiana disse, todo e qualquer político tem necessidade", completou a deputada.

Zambelli, Cherini e Major Fabiana foram procurados pelo Globo, mas não comentaram a discussão.

O número de pré-candidatos gerou a necessidade de uma eleição interna, realizada na terça-feira. Concorreram Vitor Hugo e Lincoln Portela, da bancada evangélica. Cada um teve até dez minutos para defender sua candidatura. Vitor Hugo perdeu.

Quando o clima começou a esquentar durante a reunião em que a bancada acabou optando por Portela, o presidente Jair Bolsonaro foi consultado por telefone pela ala "não bolsonarista" do partido sobre o nome de Portela. O presidente, embora tenha deixado claro sua admiração por Vitor Hugo, disse que não se oporia.

— O PL é um partido muito mais organizado e estruturado do que era o PSL. A eleição mostrou como eles são estruturados para lidar com essas coisas (divergências) — diz Luiz Lima (RJ), que participou da votação. — Há um respeito à hierarquia e a quem tem mais experiência.

O ambiente continuou conflagrado mesmo depois da disputa interna. Isso porque outros deputados do PL — Fernando Rodolfo (PE), Bosco Costa (SE), Capitão Augusto (SP) e Flávia Arruda (DF) — que não participaram do processo interno, decidiram protocolar candidaturas independentes, desrespeitando a determinação do partido. Na eleição, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) começou a votação antes que o partido chegasse a um acordo para retirar os nomes.

Visita a Bolsonaro

No dia seguinte, na manhã de quarta-feira, data da eleição para a vice-presidência, Portela e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), presidente da Frente Parlamentar Evangélica, estiveram com o Bolsonaro. Segundo Portela, Sóstenes disse que estavam colocando a sua candidatura, que havia vencido Vitor Hugo no pleito interno, e o titular do Palácio do Planalto disse que ele era "um nome muito experiente".

— Ele (Bolsonaro) não pediu voto para mim, não apoiou. Apenas comentou isso — diz Portela.

Lincoln Portela diz que nunca houve uma manifestação "oficial" do governo de que queria Vitor Hugo na vaga e que seu nome foi lançado por um grupo — dos evangélicos dentro do PL —, e não por ele próprio.

Derrota da ex-ministra

A principal candidata, além de Portela, era Flávia Arruda, ex-ministra da Secretaria de Governo. Ela usou a oportunidade para pedir votos e se reafirmar internamente no partido. Flávia acabou com 83 votos, resultado considerado negativo pelo fato de ela ter acabado de sair do Palácio do Planalto, onde tinha a missão de atender às demandas dos parlamentares.

O episódio se somou a um desconforto anterior em relação à ex-ministra, que não tem boa relação com os bolsonaristas mais militantes e sofre percalços para manter sua candidatura ao Senado pelo Distrito Federal.

Mesmo parlamentares mais antigos do PL criticaram a sua candidatura a vice, mas aliados de Flávia acusam Arthur Lira de ter apressado o início da eleição para impossibilitar que ela e os demais candidatos avulsos retirassem seus nomes, com o intuito de expô-la negativamente.