Desemprego recua para 10,5% em abril e atinge 11,3 milhões, aponta IBGE
Ainda assim, há 11,3 milhões de brasileiros em busca de uma vaga no mercado de trabalho
A taxa de desemprego no Brasil ficou em 10,5% no trimestre encerrado em abril, a menor para esse trimestre desde 2015, quando foi de 8,5%. É o que aponta a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (Pnad Contínua Mensal), divulgada na manhã desta terça-feira pelo IBGE.
Houve uma queda de 0,7 ponto percentual no número de desocupados em relação ao trimestre anterior de novembro a janeiro (11,2%), que serve de base de comparação. Ainda assim, há 11,3 milhões de brasileiros em busca de uma vaga no mercado de trabalho.
Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisa do IBGE, explica que a queda do desemprego está relacionada a um processo contínuo de aumento da ocupação pós-pandemia, agora mais disseminado entre as atividades.
Número recorde de trabalhadores
Cerca de 1,1 milhão de pessoas ingressaram no mercado de trabalho neste trimestre, levando a população ocupada a subir 1,1% e atingir o patamar de 96,5 milhões. É o maior contingente da série histórica, iniciada em 2012.
A perda de renda nos lares brasileiros pode estar por trás da maior procura por emprego, de acordo com a pesquisadora. Com menos recurso disponível, mais membros familiares vão em busca de oportunidades para recompor renda.
— É possível que em função de um rendimento individual menor via trabalho, mais pessoas acabem buscando trabalho. É uma hipótese. A renda do trabalho representa cerca de 74% da renda total dos domicílios — avalia Adriana.
Houve uma expansão de 2% do emprego com carteira assinada no setor privado, com a entrada de 690 mil trabalhadores entre fevereiro e abril, frente ao trimestre anterior. Na comparação anual, o acréscimo foi de 3,7 milhões de pessoas, ou alta de 11,6%.
Segundo Adriana, até meados de 2021, o aumento do emprego, principalmente formal, ocorreu em atividades que ofereciam certa "infraestrutura" para o funcionamento da economia em meio à pandemia, como serviços de TI, administrativos e financeiros. Com o processo de reabertura econômica e normalização das atividades, houve um crescimento de vagas em setores como transporte, comércio, educação e demais serviços prestados às famílias.
Há 152 mil novos trabalhadores no setor de transporte, armazenagem e correio no trimestre. Já no segmento de "outros serviços" são 233 novos profissionais a mais, puxado pelo aumento de vagas na área de serviços de embelezamento, em meio à retomada dos eventos. Houve também expansão no segmento de administração pública, saúde e educação, com destaque para aumento de trabalhadores na educação pública, ainda que sob contratos temporários.
Renda cai 7,9% no ano
Puxada pelas vagas formais, a expansão da ocupação não foi capaz, porém, de se traduzir em aumento do rendimento. A remuneração média ficou em R$ 2.459 no trimestre encerrado em abril, uma estabilidade frente ao trimestre anterior. Em relação a um ano atrás, a queda na renda é de 7,9%.
Alguns fatores vem pesando sobre o indicador de rendimento, segundo a coordenadora do IBGE. Além da inflação elevada que corrói o rendimento dos trabalhadores, houve a queda de 2,2% da renda média do trabalhador do setor público neste trimestre em função dos contratos por designação, que são contratos temporários.
Além disso, há atividades que, embora tenham expandido sua ocupação, historicamente pagam menos. É o caso dos outros serviços, com destaque para os de embelezamento, como manicure, cabeleireiro e esteticista.
— A soma desses efeitos trouxeram essa estabilidade para o rendimento médio real no trimestre — contextualiza Adriana.
Recuperação gradual
A reabertura econômica impulsionou o avanço da população ocupada no início deste ano, mas a expectativa dos economistas para os próximos meses é de desaceleração da geração de postos de trabalho. Analistas projetam desaceleração da atividade econômica no segundo semestre e um recuo menor da taxa de desemprego ao longo do ano.
Isso porque a combinação de inflação de dois dígitos, juros elevados e riscos políticos impactam a atividade econômica, o que dificulta o otimismo dos empresários no que se refere à contratação de profissionais.