Abrigos, disponibilizados por Estado e prefeituras, acolhem vítimas de enchentes em Pernambuco
De acordo com o último balanço da Central de Operações da Codecipe, mais de 6.100 pessoas estão desabrigadas no Estado
Em meio às fortes chuvas que atingiram Pernambuco nos últimos dias, milhares de pessoas perderam seus móveis e suas casas. De acordo com o último balanço da Central de Operações da Codecipe, mais de 6.100 pessoas estão desabrigadas no Estado. Com isso, as prefeituras e o Governo do Estado disponibilizaram escolas, creches e igrejas como abrigos para as famílias.
No Recife, a Escola Municipal de Água Fria, em Campina do Barreto, é um dos centros de apoio para a população da comunidade ribeirinha de Cajueiro. Em média 200 pessoas estão sendo assistidas, porém, somente algumas estão dormindo na escola.
A população está recebendo serviços de assistência médica como vacinas contra Covid-19, Gripe e Hepatite B, consultas, e prescrição de remédios, assistência social, refeições, roupas, produtos de higiene pessoal e limpeza.
A voluntária que está à frente do abrigo, Maria do Livramento, relatou que a Prefeitura do Recife está dando o apoio necessário, com entrega de colchões, lençóis, materiais de limpeza e alimentação. Além disso, a população também está empenhada em ajudar com a entrega de várias doações.
“Essas pessoas perderam tudo porque moram em palafitas feitas de madeirite que caíram e perderam fogões, cama, entre outras coisas. Quem puder doar um fogão, uma mesa, uma cadeira, utensílios para serem usados, porque eles perderam tudo. A necessidade maior é material de limpeza, como vassoura, e rodo, e kits de limpeza e higiene pessoal”, destacou Maria.
O auxiliar de jardinagem Paulo Roberto Souza dos Santos, de 37 anos, é morador da comunidade e foi uma das vítimas perdendo tudo o que tinha. Além de ser assistido pelo abrigo, Paulo tornou-se voluntário.
“Foi um desespero, a gente pegou uma caçamba de geladeira para socorrer as pessoas que não estavam conseguindo sair, porque foi muita demanda para o Corpo de Bombeiros e os moradores se mobilizaram para resgatar as pessoas. A gente tem que se unir, a união faz a força, a gente tem que ajudar ao próximo. Mesmo diante da situação, da tragédia ocorrida, de eu ter perdido tudo, a gente tem que buscar forças, se a gente desanimar é pior”, disse Paulo.
Moradora da comunidade, Daniela Cristina, de 30 anos, vive com o marido e os dois filhos. Ela relata que tudo na comunidade foi destruído. No abrigo, ela e a família têm acesso a roupas, médico e alimentação.
“A gente já vem sofrendo há anos com essa situação, mas essa água acabou com tudo. A minha sobrinha que tem 3 anos teve que ser tirada pelos moradores, porque infelizmente o Corpo de Bombeiros estava em outras áreas, e a gente teve que se mobilizar. Todo ano a gente conta com o apoio da dona Livramento, que é ela que corre atrás de recursos para ajudar a gente, se não fosse ela, não sei como estava a nossa situação”, pontuou.
Em Prazeres, no município do Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, a Escola de Referência em Ensino Médio Saturnino de Brito é um dos locais de acolhimento para os moradores da região. A maioria das pessoas são moradoras do bairro da Muribeca e perderam tudo com as cheias. Até esta terça-feira (31), 17 famílias estavam abrigadas no local, totalizando 60 pessoas.
A nutricionista da Educação da Prefeitura do Jaboatão, Wiviane Marques Silva, afirmou que a gestão municipal está oferecendo café da manhã, almoço e jantar para os desabrigados, além da assistência social e médica, com testes de Covid-19, vacinação, medicamentos, acompanhamento nutricional e psicólogos.
“As pessoas começaram a chegar no sábado a noite e a primeira providência foi o acolhimento. Elas estão tendo assistência médica e de enfermagem, tivemos gente que chegou ferido, não muito, mas com algum ferimento, então estão fazendo curativos, medicações. Além disso, também está sendo oferecida assistência social para providenciar documentações para quem perdeu na enchente. As crianças estão tendo brincadeiras, dinâmicas, atividades de pintura, lanches e quando chegam os brinquedos, distribuímos para elas”, explicou.
No local, as doações estão chegando em grande quantidade, porém, no momento, a urgência são produtos de limpeza, higiene pessoal e brinquedos.
Moradora da Muribeca com o marido e os três filhos, Kelliny Maria viu tudo ser destruído em questão de instantes. Quando ela e família foram socorridas, a água estava chegando no pescoço. Ela faz um apelo para que a população doe brinquedos para as crianças.
“Para quem puder doar brinquedos, roupas, produtos de limpeza, fraldas para bebês, leite, qualquer coisa que vier já é uma ajuda pra gente. Estamos precisando muito diante dessa tragédia que aconteceu, estamos precisando muito e muito mesmo. O que vier vai ser bem-vindo. O que eu mais quero é ter tudo de volta, faz mais de 10 anos que eu moro lá e nunca tinha entrado água na minha casa”, destacou.
Uma das filhas de Kelliny, Ester Paula da Silva Santos, de 8 anos, tem o desejo de poder retornar para casa.
“Lá em casa eu tinha muitos brinquedos, mas só que quando encheu lá, eu perdi. Eu queria ficar lá, mas só que eu vim pra cá, e está muito ruim a situação. Como eu estou aqui, pelo menos vai ser bom ter brinquedo. Eu queria voltar para a minha casa, ficar lá, passar um dia, mas a situação está muito ruim por causa da cheia da chuva”, disse.
Todos os brinquedos de Douglas José da Silva Santos, de 10 anos, também foram embora com a água.
“Estamos necessitando de brinquedos, fralda para bebê, leite e lanche. Eu quero qualquer brinquedo. Os meus brinquedos foram embora na cheia, e a cheia estava muito grande e destruiu tudo”, disse.
Moradora da comunidade de Sapolândia, na Muribeca, Maria Sueli da Silva, de 62 anos, pensou que ela, seu filho e seu marido iriam morrer na inundação. Por mais que tentasse pedir ajuda, apenas depois de muito tempo a família conseguiu sair da casa onde moravam. Atualmente, a família tem como única renda o benefício do filho Wellington, de 32 anos, que é uma pessoa com deficiência. Ela e o marido dedicam os dias para cuidar do filho.
“Com essa tragédia piorou a situação, a gente saindo debaixo da água, eu pensava que a gente ia morrer pedindo socorro para as pessoas que entravam lá. Não podemos voltar, o medo que faz é a gente voltar, e acontecer de novo a mesma situação e a gente ser socorrido de novo. Eu prefiro sair de lá, porque nós três tomamos remédio controlado e numa hora dessa para um socorro fica difícil, porque não entra carro nenhum. Mas não tenho condições de sair no momento”, pontuou.