Irã critica relatório da AIEA sobre áreas nucleares não declaradas
Relatório de agência da ONU aponta falta de "respostas satisfatórias" do Irã sobre vestígios de urânio enriquecido encontrados em três locais não declarados
O ministério das Relações Exteriores do Irã afirmou, nesta terça-feira (31), que o último relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) sobre as instalações nucleares não declaradas do país "não é equilibrado nem justo".
"Infelizmente, este relatório não reflete a realidade das negociações entre o Irã e a AIEA", disse o porta-voz do ministério, Said Khatibzadeh.
"Não é um relatório equilibrado nem justo", acrescentou.
A agência da ONU publicou um relatório na segunda-feira no qual aponta a falta de "respostas satisfatórias" do Irã sobre os vestígios de urânio enriquecido encontrados em três locais não declarados: Marivan (oeste), Varamin e Turquzabad (na província de Teerã).
A AIEA afirma que pediu aos funcionários iranianos que explicassem a presença deste material nessas locais, mas que não recebeu resposta.
"Tememos que a pressão do regime sionista e de outros atores empurre a agência a transformar seus relatórios técnicos em algo político", acusou Khatibzadeh.
"Roubo de documentos"
Por sua vez, o primeiro-ministro israelense, Naftali Bennett, acusou o Irã de ter "roubado documentos confidenciais da AIEA e usado essa informação para escapar sistematicamente das inspeções" da agência.
A declaração do primeiro-ministro foi acompanhada de um link com documentos em persa, apresentados como confidenciais e traduzidos ao inglês. Também havia fotos que supostamente provam a denúncia de Israel.
O Estado hebreu considera uma ameaça para sua segurança o programa nuclear do Irã, o qual acusa de querer desenvolver a bomba nuclear, o que Teerã nega.
As autoridades israelenses declararam várias vezes que não descartam a possibilidade de uma ação militar para impedir que o Irã se torne uma potência nuclear.
Segundo Teerã, seu programa nuclear já foi alvo de várias campanhas de ciberataques, sabotagem e assassinatos seletivos de cientistas, dos quais acusa Israel.
Urânio enriquecido
Na segunda-feira, após a publicação do relatório da AIEA, o responsável da missão do Irã nos organismos internacionais em Viena, Mohamad Reza Ghaebi, pediu à agência que "seja consciente das consequências destrutivas da publicação desses relatórios tendenciosos".
Em abril, Teerã disse que havia enviado documentos à agência da ONU sobre as instalações não declaradas, dizendo esperar que a "ambiguidade" sobre os locais fosse dissipada até junho.
Em um relatório separado divulgado na segunda-feira, a AIEA estimou que os estoques de urânio enriquecido do Irã aumentaram para mais de 18 vezes o limite acordado no acordo internacional de 2015.
O porta-voz da diplomacia americana, Ned Price, pediu ao Teerã que "coopere plenamente" e "sem novos prazos" com a agência da ONU, a qual reiterou sua "confiança".
A França expressou nesta terça-feira sua "grande preocupação" após a publicação do relatório da AIEA e pediu ao Irã que responda sem demora às perguntas e necessidades da agência da ONU.
Essas trocas entre o Irã e a AIEA acontecem paralelamente às conversas que acontecem há um ano em Viena com China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha para salvar o acordo internacional de 2015.
O objetivo desse pacto era que a República Islâmica não adquirisse a bomba atômica, em troca da suspensão das sanções que sufocam sua economia. O Irã sempre insistiu que seu programa nuclear é pacífico.
O acordo patina desde a retirada unilateral dos Estados Unidos em 2018, durante o governo de Donald Trump.