Uma semana após massacre em escola, Uvalde começa a enterrar suas vítimas
Ataque em uma escola de ensino fundamental causou a morte de 19 crianças
A pequena localidade texana de Uvalde, perto da fronteira com o México, começou a enterrar, nesta terça-feira (31), as 19 crianças assassinadas no massacre da semana passada em uma escola de ensino fundamental que provocou grande comoção nos Estados Unidos, um dos mais violentos dos últimos anos.
O corpo de Amerie Jo Garza, de 10 anos, chegou em um caixão prateado e foi levado até a Igreja Católica do Sagrado Coração por seis carregadores vestindo camisas brancas com cravos vermelhos.
Os enlutados, alguns vestidos de roxo, a cor-símbolo da Robb Elementary School, se reuniram do lado de fora da igreja, que fica do outro lado da rua do local do massacre de 24 de maio, antes do funeral, em meio à forte presença policial.
Outra menina de 10 anos, Maite Yuleana Rodríguez, também seria enterrada nesta terça, e outras cerimônias estão programadas para as próximas semanas, incluídas as das duas professoras falecidas. Todos foram assassinados quando Salvador Ramos, de 18 anos, abriu fogo na escola na terça-feira da semana passada, antes de ser abatido pela polícia.
Em meio ao luto, os moradores de Uvalde também se indignaram com a resposta da polícia, amplamente criticada por ter demorado a intervir. Uma "decisão errada", admitiu o diretor do Departamento de Segurança Pública do Texas, Steven McCraw.
De acordo com a emissora ABC, a polícia de Uvalde e as autoridades do distrito escolar encerraram sua cooperação com a investigação do Departamento de Segurança Pública do Texas sobre a resposta da polícia.
"Eles podem dizer: 'cometemos um erro, tomamos a decisão errada'. Mas eles não vão me devolver minha bisneta", disse Ruben Mata Montemayor, 78, bisavô de uma das vítimas.
- 'Deixar de vender armas' -
Dezenove policiais permaneceram no corredor da escola de ensino fundamental sem intervir por quase 45 minutos, enquanto Salvador Ramos estava trancado em uma sala de aula com alunos. Por fim, a polícia entrou no local e matou o jovem armado.
Quando o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, visitou Uvalde no fim de semana, os gritos de "Faça alguma coisa!" ressoaram entre a multidão.
O massacre, o último de uma epidemia de violência armada nos Estados Unidos, aconteceu menos de duas semanas 10 pessoas morrerem em um ataque em um supermercado na cidade de Buffalo, em Nova York, cometido por um jovem que tinha como alvo afro-americanos, e provocou apelos desesperados em favor de uma reforma da legislação sobre armas.
O presidente "deve aprovar leis para que possamos proteger as crianças das AR-15", afirmou Robert Robles, de 73 anos, ao mencionar a arma semiautomática usada na escola Robb.
Ricardo García, de 47 anos e que trabalhava no hospital de Uvalde no dia do massacre, contou que "não consegue tirar da cabeça o choro das mães quando recebiam a notícia fatal".
"É necessário parar de vender armas, ponto", completou.
O ator Matthew McConaughey, que cresceu em Uvalde e até flertou com a ideia de concorrer a governador do Texas, também visitou o memorial para homenagear as vítimas.
Após a tragédia, McConaughey pediu "ação" contra uma "epidemia que podemos controlar", mas evitou questionar o direito de portar armas.
- 'Seguir pressionando' -
Enquanto os massacres realizados por atiradores abalam a opinião pública e provocam reivindicações momentâneas por mudanças, a regulamentação de armas enfrenta forte resistência da maioria dos republicanos e de alguns democratas em estados rurais.
Na segunda-feira, Biden prometeu "seguir pressionando" por uma regulamentação mais severa das armas de fogo.
"Acredito que as coisas ficaram tão graves que todo mundo está pensando de forma mais racional sobre o tema", disse o presidente democrata.
Um grupo bipartidário de legisladores trabalhou durante o fim de semana para buscar possíveis pontos de acordo.
Com base nas informações que vazaram da reunião, os legisladores querem aumentar a idade para a compra de armas ou permitir que a polícia confisque as armas de pessoas consideradas de risco, mas não buscam uma proibição total dos rifles de alta potência, como a arma utilizada tanto em Uvalde como em Buffalo.
No entanto, passar das palavras para a ação será difícil devido à estreita maioria dos democratas no Congresso.
Enquanto os Estados Unidos ainda choravam pelo massacre de Uvalde, o ataque escolar mais mortal desde que 20 crianças e seis adultos foram assassinados em Newtown, Connecticut, em 2012, uma dezena de ataques com mais de quatro mortes foram reportados em todo o país no fim de semana prolongado pelo feriado do "Memorial Day".
Segundo o site Gun Violence Archive, foram registradas ao menos 132 mortes por armas e 329 feridos em todo o país desde o sábado, 28, até a noite de ontem.
Em Uvalde, uma cidade majoritariamente latina de 15.000 habitantes, muitos clamavam por mudanças.
"Se um adolescente não pode sequer tomar um gole de vinho por ser muito jovem, então, quer saber? Ele também é muito jovem para comprar uma arma de fogo", frisou Pamela Ellis, que viajou de Houston para oferecer suas condolências