EDUCAÇÃO

Professores estão interessados em aplicar e aprender educação empreendedora, diz pesquisa

Apesar da abertura, tema é associado a ideias genéricas sobre mercado de trabalho, o que especialistas afirmam ser pouco para o potencial do campo

Internauta

Pesquisa encomendada pela Fundação Roberto Marinho e o Sebrae aponta que 78% dos professores estão interessados em aplicar educação empreendedora na sala de aula e 86% estariam dispostos a aprender mais sobre o tema.

O levantamento, realizado pelo Plano DCE, ouviu 605 profissionais e foi lançado nesta quarta-feira (1º) no primeiro Encontro do Ecossistema de Educação Empreendedora, realizado em Fortaleza.

Apesar da abertura para a aplicação, a pesquisa identificou que a educação empreendedora é associada a ideias genéricas sobre mercado de trabalho, o que na avaliação do pesquisador Rafael Camelo, responsável pelo estudo, é uma percepção rasa do tema.

— Não se trata de formar um empreendedor para negócios, mas pessoas com competências empreededoras. Ou seja, mais autônomas, mais criativas, com mais iniciativa, que são importantes para diversos aspectos da vida e não só sobre abrir um negócio — explica. — Quando muda a perspectiva, é possível aplicar a educação empreendedora para desenvolver essas habilidades em qualquer disciplina.

A percepção é compartilhada por Janio Macedo, gerente de Educação Empreendedora do Sebrae Nacional. Segundo ele, o primeiro passo é fazer com que os professores conheçam na integralidade a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
 

— O empreendedorismo não faz com que o aluno se interesse por negócios. Mas que ele se interesse em ser o seu próprio negócio. Eu preciso desenvolver as competências empreendedoras para qualquer coisa, ser jornalista, professor, trabalhar em qualquer lugar — afirma Macedo.

A pesquisa também apontou as barreiras percebidas pelos professores. A principal delas é a falta de tempo para desenvolver e passar o conteúdo obrigatório, o que, segundo Camelo, também parte de uma percepção equivocada da BNCC.

— A educação empreendedora não se trata de mais um conteúdo, mas de fazer de forma diferente. Essa é uma outra descontrução a ser feita. Não precisa inventar mais hora para mais conteúdo. Tem mais a ver com a partir do seu conteúdo, focar de forma diferente — explica.

A falta de interdisciplinaridadea resistência por parte dos professores também foram citados por 40% e 38% dos docentes. Por outro lado, só 7% dos profissionais rejeitam completamente a ideia. Mesmo assim, mesmo com receptividade, 56% dos entrevistados ainda não tentaram aplicar essa metodologia em sala de aula.

A Educação Empreendedora abrange uma série de conteúdos que estão alinhados com as dez competências gerais da BNCC, que acompanham o desenvolvimento dos alunos desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.

— A BNCC dá início a um monte de outros processos, como a Base Nacional para Formação Docente, por exemplo. Esse é um tipo de mudança que vai levar 10, 15 anos para chegar plenamente na ponta. Não é de se estranhar de que os professores não estão dominando completamente a base, não é um problema. É um processo — afirma João Alegria, secretário geral da Fundação Roberto Marinho.

De forma geral, a pesquisa apontou que muitos professores ainda parecem distantes de um conhecimento mais profundo sobre as competências gerais da BNCC ou sobre a temática das competências socioemocionais. Ao todo, 59% dos entrevistados afirmam já ter recebido alguma formação sobre as dez competências gerais, mas 52% ainda não se sentem familiarizados com o tema.

O levantamento assinala que 70% dos professores afirmam nunca ter recebido nenhuma capacitação sobre o trabalho com competências socioemocionais e 44% não se sentem confortáveis para trabalhar com o tema, na sala de aula. O desconhecimento da BNCC faz com que os professores menos interessados entendam competências socioemocionais somente como suporte emocional especializado aos alunos.

Em geral, os professores declaram conhecer e se interessar pela educação empreendedora, embora a pesquisa indique haver uma diversidade de entendimento sobre o conceito. Somente 25% dos docentes ouvidos afirmam conhecer muito sobre o tema. Muitos ainda associam o tema apenas à abertura de negócios, a trabalho e ao desenvolvimento de criatividade e autonomia.