Chuvas em Pernambuco

Retorno com dor e incertezas para moradores de casas interditadas por deslizamentos

Neste domingo (5), uma semana após os deslizamentos que assolaram Pernambuco, as pessoas voltaram para pegar o pouco que sobrou de suas casas e reconstruir suas vidas

Carlos Alberto teve sua casa, no Jardim Monte Verde, destruida - Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

Como reconstruir a vida após perdas difíceis de familiares e bens materiais? As comunidades atingidas pelas fortes chuvas que causaram estragos irreparáveis estão tentando se reerguer, de forma gradativa.

Na segunda maior tragédia natural da história de Pernambuco - pois a primeira foi em 1966, com 175 mortos -, 128 pessoas perderam suas vidas; 61.596 ficaram desalojadas e 9.631, desabrigadas.

As outras vítimas das enchentes e deslizamentos se deparam, agora, com as perdas de parentes, amigos e vizinhos, além das próprias casas. Durante o dia de ontem, o tempo ficou parcialmente nublado e as pessoas aproveitaram para retirar o que restou das moradias.


Do lado de fora das únicas quatro paredes que ficaram em pé da sua casa, Marciely Bezerra, 40 anos, que trabalha em uma corretora de seguros, observava a perda da moradia, que era localizada em Jardim Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes. Juntamente com o marido, George Patricio, Marciely aproveitou a trégua da chuva para recolher os pertences que ainda sobraram depois da queda da barreira em cima do seu lar.


“Conseguimos recuperar cama, guarda-roupa, televisão e máquina de som. Perdemos os móveis de vários cômodos, a cozinha, caixas de ferramentas. Nunca imaginei que em 40 anos da minha vida iria passar por uma situação dessa, vi a cena da minha casa caindo”, contou Marciely.

Lamas ainda ocupam as ruas

Toda a retirada de pertences está sendo feita com cuidado pelos moradores, pois ainda o cenário é de muita lama nas ruas, o que dificulta o acesso a algumas residências. O casal Isabel Farias, de 42 anos, e Joab de Lima, de 41 anos, retiraram algumas sacolas de pertences pessoais que estavam dentro da área da casa. Uma das barreiras deslizou e atingiu a parte de trás da residência. Eles salvaram os móveis e eletrodomésticos. O quarto da filha, de 14 anos, ficou destruído.

“Morei 14 anos aqui, mas não pretendo voltar. Por enquanto, estamos na casa de um amigo, mas não dá para ficar por muito tempo. Então estamos vendo se conseguimos outra moradia, até mesmo por aqui perto”, contou Isabel.


Alguns metros depois, está a casa do técnico de informática Carlos Alberto Cristóvão, 44 anos, que foi atingida pela barreira na área do quintal, onde ele tinha construído um espaço para lazer. “Faz 15 anos que moro nessa casa e estou me vendo agora tendo que tirar o que sobrou. Não vamos voltar, vou ter que comprar uma casa em outro lugar”, contou o morador.


Rua deserta em Vila dos Milagres

Na Vila dos Milagres, no bairro do Ibura, Zona Sul do Recife, a situação ainda é bastante delicada. Na rua em que a barreira deslizou, nenhum morador voltou para o local. A dona de casa Cícera Lima, 44 anos, está com sua casa interditada pela Defesa Civil por ser considerada de risco. A água da chuva chegou dentro da residência e ela perdeu o sofá e o móvel da televisão. Em frente à casa, a rua ainda tem barro.
“No início eu fui para um abrigo, mas agora estou pagando um aluguel em uma área que não é de risco e que fica perto da minha casa. Penso um dia poder voltar para minha casa porque não tenho para onde ir”, relatou Cícera.

Somente 20 dias de moradia

Maria do Carmo Torres só estava há 20 dias na casa que caiu por causa das chuvas

Ao subir as ruas da Vila dos Milagres, é possível encontrar muitas casas que caíram do alto quando as barreiras cederam. Esse foi o caso da residência da aposentada Maria do Carmo Torres, 72 anos. Ela conseguiu construir sua casa, que ficou pronta apenas 20 dias antes da queda.

“Eu só tinha 20 dias morando aqui, ainda estou pagando os materiais. Ainda deu tempo do meu filho gritar e eu sair de casa. Depois só ouvi o estrondo. O que restou dos móveis e aparelhos eu levei para casa do meu filho. Não tenho mais coragem de voltar, vou ter que procurar uma casa em outra área”, disse a aposentada.