Venda de ações

Mercado estima que procura por papéis da Eletrobras superou oferta entre três e quatro vezes

Operadores afirmam que grandes investidores como o Fundo Soberano de Cingapura participaram da oferta

Eletrobras - Valter Campanato/Agência Brasil

Operadores de mercado estimam que a operação de venda de ações da Eletrobras superou entre três e quatro vezes a oferta. A capitalização da empresa deverá movimentar algo como R$ 35 bilhões, considerando a oferta primária de 627,6 milhões de ações e mais um lote adicional de 104,6 milhões de ações.

A reserva das ações com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) através de fundos mútuos também superou a oferta, chegando próximo a R$ 9 bilhões. Portanto, deverá acontecer um rateio entre os interessados.

A parcela reservada para a compra de ações com recursos do FGTS é de R$ 6 bilhões. Quem comprou ações usando o FGTS terá que ficar pelo menos 12 meses na aplicação. A reserva para quem usou o FGTS terminou ao meio dia.

Ao menos 19 fundos de 11 bancos e instituições se habilitaram para oferecer investimentos com recursos do FGTS. Banco do Brasil, Bradesco, BTG, Caixa, Daycoval, Genial, Guide, Itaú, Santander, Safra e XP já se credenciaram junto à Caixa, gestora do FGTS, para fazer a reserva das contas dos trabalhadores.

Ainda segundo os operadores, que falaram na condição de anonimato, o Fundo Soberano de Cingapura (GIC) atuou como investidor âncora, conforme O Globo havia adiantado. O investidor âncora garante que a operação saia e sinaliza antes mesmo do prazo de reserva quanto pretende investir.

O Fundo de pensão canadense CPPIB também atuou como âncora, segundo o mercado. Já Itaú e o 3G Radar, que têm posições relevantes de Eletrobras em seus portfólios, também fizeram grandes reservas. Estes investidores tinham prioridade na oferta e a estimativa é que tenham movimentado pouco mais de R$ 5 bilhões.

Na lista dos investidores que também reservaram papéis da Eletrobras ficar com parte estão gestoras como SPX, Squadra e Truxt.

Operadores estimam que o volume comprado por pessoas físicas, que adquiriram diretamente as ações sem passar por fundos, tenha ficado entre R$ 2,6 bilhões e R$ 3 bilhões.

Nesta quinta-feira, dia 9, será definido o preço da ação com base na demanda. Depois disso, no dia 13, começa a negociação na B3 dos novos papéis.

A capitalização da Eletrobras promete ser a maior operação do ano na Bolsa com a participação desses grandes fundos de investimento estrangeiros e gestoras nacionais.

A Eletrobras já tem investidores privados, mas seu controle está nas mãos da União. O que a empresa vai fazer é emitir nova leva de ações. Como a União não vai adquirir os papéis, sua participação será diluída, devendo recuar de 72% das ações com direito a voto para 45%.

A oferta está sendo coordenada por BTG, Bank of America, Goldman Sachs, Itaú BBA, Citigroup, Credit Suisse, JPMorgan e Safra.

Gestores observam que a capitalização da Eletrobras deverá ser a grande operação com ações este ano. Com a taxa básica de juros (Selic) em 12,75% ao ano dificilmente haverá movimento de novas empresas ofertando papéis na Bolsa (IPO, na sigla em inglês).

- Embora a operação da Eletrobras não seja IPO, mas sim uma capitalização, deverá ser a principal do ano com ações por seu volume, que deve chegar a R$ 35 bilhões. Neste caso, o que está acontecendo é uma troca de sócios - diz Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos.

Marcatti observa que os juros elevados enxugam recursos do mercado. Além disso, o valuation (valor) das empresas tende a ficar menor com a Selic em alta. Portanto, uma empresa que valia R$ 1 bilhão ano passado, quando os juros básicos da economia estavam em 2%, hoje vale até 40% menos. O mesmo movimento se observa nos EUA, que elevaram os juros recentemente.

Dados da B3 mostram que este ano não houve nenhuma abertura de capital no pregão. As operações de follow on (lançamento secundário de ações) somam dez e movimentaram R$ 13,1 bilhões. No ano passado, foram movimentados R$ 154 bilhões entre ofertas na B3 e de empresas brasileiras nas bolsas americanas, incluindo IPOs e follow-ons.

Pedro Lang, chefe de renda variável da Valor Investimentos, observa que enquanto a política monetária estiver restritiva no país para tentar combater a inflação haverá pouco volume de recursos para a Bolsa - e para novas ofertas de ações. Lang acredita que este ano e em 2023 os juros ainda devem permanecer elevados, fechando a janela para novos IPOs.

- Vamos ver follow ons de empresas que precisam captar porque os juros ficaram muito altos. Mas novas ofertas, se houver, serão pouquíssimas - diz.

Danielle Lopes, sócia e analista de ações da Nord Research, observa que mesmo que o processo eleitoral fique mais claro não há perspectivas de novas empresas abrirem capital na Bolsa. Segundo ela, é o que está nos bastidores da eleição que freia o ímpeto das empresas em ir ao pregão.

- Há incerteza sobre qual política fiscal virá, se o teto de gastos será respeitado, se os juros continuam subindo, se inflação arrefece, se as reformas vão andar - diz a analista.

Ela lembra que a Bolsa está sofrendo e que muitas empresas estão recomprando suas ações. Neste ano, houve 37 anúncios relacionados a programas de recompras de ativos, e entre as empresas que fizeram este movimento estão a Vale e a JBS.

- Esse movimento sinaliza que muitas ações estão baratas e a recompra, dos papéis, reforça a confiança na gestão da empresa - diz a analista.