Bolsonaro cita Amazônia em reunião com Biden
Presidente brasileiro também falou sobre eleições, afirmando que sistema eleitoral brasileiro não é auditável
O presidente Jair Bolsonaro declarou nesta quinta-feira (9) que a soberania do Brasil é "por vezes" ameaçada em relação à Amazônia, durante um encontro com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
"Por vezes nos sentimos ameaçados na nossa soberania naquela área", afirmou Bolsonaro durante a reunião bilateral entre os dois presidentes na Cúpula das Américas em Los Angeles.
"O Brasil preserva muito bem o seu território", insistiu Bolsonaro, cujo governo é pressionado internacionalmente para tomar medidas mais firmes de proteção da região amazônica.
Com suas posições favoráveis à exploração comercial da selva amazônica, Bolsonaro é repetidamente criticado por ambientalistas e representantes indígenas. Estas semana, foi alvo de protestos do Greenpeace e de ativistas.
As declarações aconteceram antes dos dois presidentes se reunirem a portas fechadas em uma sala do Centro de Convenções de Los Angeles, onde acontece parte da agenda da reunião hemisférica.
Biden, em tom conciliador, disse que o Brasil fez "verdadeiros sacrifícios" na proteção da selva amazônica. "Acredito que o restante do mundo deveria poder ajudar o Brasil para preservar o máximo possível", completou.
Bolsonaro também citou as eleições no Brasil, que serão realizadas em outubro, num momento em que as pesquisas apontam o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva como favorito.
"Queremos eleições limpas, auditáveis", declarou Bolsonaro, um aliado do ex-presidente Donald Trump, que sempre colocou em dúvida os resultados eleitorais que levaram Biden a assumir a Casa Branca em 2020.
"Cheguei pela via democrática e tenho certeza de que sairei do governo democraticamente", completou.
Biden não falou do tema, mas, na quarta-feira, seu assessor de segurança, Jake Sullivan, havia revelado que o presidente americano enfatizaria a importância de "eleições livres e democráticas" na reunião.
Sem aperto de mão, os dois líderes posaram para fotos sentados em poltronas distantes, flanqueados por bandeiras de Brasil e Estados Unidos. O tom da conversa foi educado, mas frio.
"Não auditável"
Mais cedo, Bolsonaro conversou com jornalistas na porta do hotel onde está hospedado em Los Angeles, antes da reunião da Cúpula.
Apesar de Bolsonaro insistir que a Amazônia está protegida sob seu governo, o presidente insinuou que o desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, que estavam em missão numa região remota da sela, foi fruto da falta de uma escolta.
"Naquela região geralmente você anda escoltado", afirmou. "Foram pra uma aventura, a gente lamenta pelo pior".
Em relação às eleições, também houve contradições.
"Você confia na eleição brasileira?", Bolsonaro perguntou a uma jornalista, que lhe respondeu que sim. "Parabéns pra você", completou o presidente, afirmando que o sistema eleitoral brasileiro "não é auditável".
Bolsonaro desembarcou em Los Angeles na manhã de quinta-feira. Ele disse que realizará mais quatro reuniões bilaterais, inclusive com seus homólogos da Colômbia e do Equador, mas não deu detalhes de sua agenda.
Em suas primeiras palavras à imprensa, Bolsonaro reiterou suas críticas à Argentina e ao Chile, governados pelos presidentes de esquerda Alberto Fernández e Gabriel Boric.
"Somos escravos das eleições que fazemos", disse, referindo-se indiretamente à vitória dos dois líderes sem mencioná-los.
Bolsonaro discursará no plenário da Cúpula na manhã desta sexta-feira e à tarde partirá para Orlando para inaugurar um consulado.