Ucrânia ataca posições russas no sul e "resiste" na batalha crucial do Donbass
A área está praticamente sob controle total de Moscou
A Ucrânia anunciou nesta sexta-feira (10) que suas forças atacaram posições russas na região de Kherson (sul), uma área que está praticamente sob controle total de Moscou, e que continua "resistindo" em Severodonetsk, a cidade estratégica que é cenário de combates que pode determinar o destino do Donbass (leste).
"Nossa aviação atacou posições russas, pontos onde estão reunidos equipamentos, funcionários e depósitos em cinco localidades de Kherson", afirmou o Estado-Maior do exército ucraniano no Facebook.
Kherson foi uma das primeiras regiões a cair sob controle das tropas russas após o início da invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro.
Depois do recuo em outras partes da Ucrânia, a Rússia concentra atualmente sua ofensiva no leste do país, especificamente no Donbass, formado pelas províncias de Lugansk e Donetsk e parcialmente controlado por rebeldes pró-Rússia desde 2014.
Os combates são intensos em Severodonetsk e na vizinha Lysychansk, pontos cruciais para a conquista do território.
As tropas russas já controlam parte da antiga zona industrial. O governador de Lugansk, Serguei Gaiday, anunciou que os russos destruíram o Palácio de Gelo de Severodonetsk, um dos símbolos da localidade.
Na quinta-feira à noite, no entanto, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que "Severodonetsk, Lysychansk e outras cidades do Donbass, que os ocupantes tomam como objetivos, resistem".
Zelensky também destacou que as Forças Armadas avançaram nas regiões de Zaporizhzhia (sul) e Kharkiv (nordeste). "Estão no processo de libertar nossa terra", disse.
Mas diante da pressão russa na frente leste, as autoridades ucranianas intensificam os pedidos às potências ocidentais por armas de longo alcance, como os sistemas Himars anunciados no início de junho pelo governo dos Estados Unidos.
"Crime de guerra"
Além do armamento, as tropas ucranianas receberam reforços de milhares de voluntários estrangeiros que se alistaram para combater a invasão da Rússia.
Três deles, dois britânicos e um marroquino, foram condenados à morte na quinta-feira pelas autoridades separatistas da região de Donetsk, acusados de atuar como "mercenários" da Ucrânia, informou a imprensa russa.
Os condenados são os britânicos Aiden Aislan e Shaun Pinner, que se renderam em abril na cidade portuária de Mariupol (sudeste), e o marroquino Saadun Brahim, capturado em março na cidade de Volnovakha.
A chefe da diplomacia britânica, Lizz Truss, citou uma "farsa de julgamento, sem absolutamente nenhuma legitimidade". Um porta-voz do governo exigiu um tratamento de "prisioneiros de guerra".
A ONU também expressou preocupação. "Desde 2015, observamos que o chamado sistema judicial das autoproclamadas repúblicas (de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia) não cumpre as garantias essenciais de um processo justo (...) Estes julgamentos contra prisioneiros de guerra constituem um crime de guerra", disse a porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani.
"Ameaça à Otan"
A Rússia, que repetidamente alerta os países ocidentais para que não se envolvam no conflito, afirmou na quinta-feira que bombardeou um centro de treinamento para "mercenários estrangeiros" na região de Zhytomyr, ao oeste de Kiev.
E o presidente russo, Vladimir Putin, comparou a ofensiva na Ucrânia às ações do czar Pedro, o Grande, que no século XVIII lutou contra a Suécia e ocupou, entre outros, parte de seu território.
Nesta sexta-feira, os líderes de nove países do leste e do centro da Europa se reunirão em Bucareste para pedir o reforço ao flanco leste da Otan.
A Romênia, que tem fronteira com a Ucrânia, pedirá que a Rússia seja classificada como "ameaça", informou o presidente do país, Klaus Iohannis.
Polônia, Bulgária, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, República Tcheca e Eslováquia são os países que participam no encontro. A próxima reunião de cúpula da Otan acontecerá de 28 a 30 de junho em Madri.
Ameaça de fome global
Três meses e meio de resistência à invasão provocaram estragos na economia ucraniana. Mas as consequências do conflito têm escala global dada a importância dos dois países beligerantes no mercado internacional de matérias-primas e alimentos.
A Ucrânia tem milhões de toneladas de cereais paralisadas, que não consegue exportar devido ao bloqueio. Ao mesmo tempo, as sanções ocidentais impedem a Rússia de vender grande parte de sua produção agrícola ao exterior.
A ONU expressou o temor de crises alimentares, que podem afetar em particular a África e o Oriente Médio.