União Europeia

Presidente da Comissão Europeia visita Kiev para falar da integração da Ucrânia à UE

A Ucrânia considera a adesão ao bloco como uma forma de reduzir sua vulnerabilidade geopolítica

Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen - Olivier Hoslet / Pool / AFP

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, chegou neste sábado a Kiev para conversar com o presidente Volodymyr Zelensky sobre o desejo da Ucrânia de integrar a União Europeia (UE), no momento em que a ofensiva russa é cada vez mais intensa no leste do país.

"Estou de volta a Kiev para encontrar o presidente Zelensky e o primeiro-ministro (Denys) Shmygal. Vamos avaliar o trabalho comum necessário para a reconstrução e os progressos alcançados pela Ucrânia no caminho para a Europa", disse Von der Leyen à imprensa.

Os líderes da UE devem se pronunciar na próxima semana sobre a ambição da Ucrânia de aderir ao bloco, antes da reunião de cúpula de 23 e 24 de junho que abordará o tema. 

A Ucrânia pede um "compromisso jurídico" concreto dos europeus até o fim de junho para obter o status de candidata oficial para a adesão à UE, mas os 27 países do bloco estão divididos sobre a questão.

Ursula von der Leyen disse que sua equipe terá pronta "até o final da próxima semana" a avaliação da possível candidatura da Ucrânia à (UE).

"As conversas que tivemos hoje (sábado) nos permitirão ter nossa avaliação até o final da próxima semana", disse ao presidente Zelensky.

Vários altos funcionários e líderes do bloco alertaram que, mesmo que a Ucrânia obtenha o status de país candidato, um processo de admissão pode levar anos ou até décadas.

A Ucrânia considera a adesão ao bloco como uma forma de reduzir sua vulnerabilidade geopolítica. 

Em uma declaração ao lado de Zelensky, Von der Leyen não fez nenhuma promessa.

"Aconteceram avanços no fortalecimento do Estado de Direito, mas ainda é necessário implementar reformas para lutar contra a corrupção, por exemplo, ou para modernizar este governo que trabalha para atrair investidores", disse.

Von der Leyen também abordou a futura reconstrução da Ucrânia, uma vez que a guerra termine. "Este deve ser um processo plenamente liderado pela Ucrânia", com a UE pronta para ajudar e contribuir a um roteiro para ajudar o país em seu "caminho para a Europa".

Von der Leyen, que já havia visitado Kiev em 8 de abril, desembarcou na Ucrânia desta vez em um momento de intensificação dos combates na região do Donbass.

Em seu relatório diário sobre a situação, o gabinete do presidente Zelensky citou neste sábado bombardeios noturnos dos "ocupantes" em várias localidades da região, que concentra os objetivos de Moscou: as zonas de Kharkiv, Lugansk e Donetsk em particular.

"A Rússia quer devastar cada cidade do Donbass, cada uma delas, sem exagero", declarou Zelensky.

"As tropas ucranianas estão fazendo de tudo para frear a ofensiva dos ocupantes, com armas pesadas e a artilharia que a Ucrânia possui, com tudo o que pedimos e continuamos pedindo aos nossos aliados", acrescentou.

A batalha pela cidade crucial de Severodonetsk e por Lysychansk é cada vez mais violenta.

"O inimigo continua executando ofensivas na cidade de Severodonetsk", afirmou neste sábado o comando do Estado-Maior do exército ucraniano, que citou 14 ataques repelidos nas regiões de Donetsk e Lugansk em 24 horas, mas que as tropas russas conseguiram um "êxito parcial" perto da localidade de Orikhovo.

- Abrir o caminho -
A tomada de Severodonetsk abriria caminho de Moscou para outra grande cidade, Kramatorsk, uma etapa importante para conquistar a totalidade da bacia do Donbass, uma região essencialmente de língua russa, parcialmente controlada por separatistas pró-Rússia desde 2014.

Em Lysychansk, os moradores enfrentam um dilema: ficar e suportar os bombardeios ou fugir e abandonar suas casas.

No sul do país, as autoridades locais entregaram neste sábado os primeiros passaportes russos a 23 moradores de Kherson, cidade ocupada pelas tropas de Moscou, em um "procedimento simplificado" baseado em um decreto assinado no fim de maio pelo presidente russo Vladimir Putin.

O chefe da administração presidencial ucraniana Andriy Yermak anunciou neste sábado a morte de um jornalista militar, Oleksiy Shubashev, responsável por um programa de recrutamento e pela televisão militar ucraniana, sem especificar as circunstâncias.

As consequências do conflito afetam o mundo, especialmente o mercado de alimentos devido ao papel importante de Ucrânia e Rússia como exportadores de trigo.

Um conselheiro do presidente francês Emmanuel Macron disse que o país está disposto a ajudar a garantir o acesso ao porto ucraniano de Odessa.

Desde o início da invasão, a saídas marítimas da Ucrânia estão bloqueadas, o que impede a exportação de milhões de toneladas de trigo.

Zelensky voltou a pedir uma pressão internacional maior para acabar com o bloqueio naval que a Rússia impõe aos portos ucranianos no Mar Negro, o que permitiria a exportação de grãos e evitaria uma crise alimentar. 

Antes da invasão russa, a Ucrânia era o maior produtor mundial de óleo de girassol e um dos principais exportadores de trigo, mas agora milhões de toneladas de cereais estão bloqueadas.

Em um vídeo exibido no Diálogo de Shangri-La, um fórum de segurança que acontece em Singapura, Zelensky alertou que, se a Ucrânia não retomar as exportações, "o mundo enfrentará uma grave crise alimentar, incluindo fome", em vários países da Ásia e da África.