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Bolsonaro diz que encontraram "vísceras humanas" nas buscas por desaparecidos na Amazônia

A sobrinha do jornalista, Dominque Davies, informou que seus familiares souberam que dois corpos foram encontrados, mas que aguardavam uma confirmação da Polícia Federal

A Polícia Federal da Amazônia investiga o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira - João Laet / AFP

O presidente Jair Bolsonaro disse, nesta segunda-feira (13), que "foram encontradas boiando no rio vísceras humanas" durante as buscas pelo jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista Bruno Pereira, desaparecidos há uma semana na Amazônia.

As declarações de Bolsonaro ocorreram em meio a anúncios contraditórios sobre a suposta descoberta de dois corpos, o que gerou grande confusão sobre o caso.

"As buscas continuam. Agora, os indícios levam a crer que fizeram alguma maldade com eles, porque já foram encontradas boiando no rio vísceras humanas que já estão em Brasília para fazer o DNA", disse Bolsonaro em entrevista à CBN Recife. 

"Pelo prazo, pelo tempo já temos hoje, 8 dias, indo para o nono dia que isso aconteceu, vai ser muito difícil encontrá-los com vida. Peço a Deus que isso aconteça, mas os informes, indícios, levam ao contrário", acrescentou.

A sobrinha do jornalista, Dominque Davies, informou que seus familiares souberam que dois corpos foram encontrados, mas que aguardavam uma confirmação da Polícia Federal sobre se são de Dom e Bruno. 
 

A Polícia Federal (PF) afirmou, no entanto, que "não procedem as informações que estão sendo divulgadas a respeito de terem sido encontrados os corpos do Sr. Bruno Pereira e do Sr. Dom Phillips". 

A PF reforçou que está analisando "materiais biológicos" e objetos pessoais dos desaparecidos, encontrados nos dias anteriores.

Beatriz Matos, esposa de Bruno Pereira, afirmou no Twitter que a polícia confirmou "que nenhum corpo foi encontrado". 

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA), que participa das buscas, também negou que dois corpos foram encontrados.

Um detido
Phillips, de 57 anos, e Pereira, de 41 anos, foram vistos pela última vez no domingo, 5 de junho, enquanto viajavam pela região do Vale de Javari, no extremo-oeste do estado do Amazonas, na fronteira com Peru e Colômbia.

O jornalista, autor de dezenas de reportagens sobre a Amazônia, estava preparando um livro sobre conservação ambiental e Pereira o acompanhava como guia por esta região remota onde atuam traficantes de drogas, madeireiros e pescadores ilegais.

O especialista, que já fez parte da Funai e é ativo defensor destas comunidades, recebeu ameaças de grupos criminosos que costumam invadir as terras protegidas para explorar seus recursos.

Autoridades encontraram no domingo objetos pessoais de ambos, como roupas, sapatos e também um cartão de saúde de Pereira.

Segundo os bombeiros, os pertences foram encontrados submersos nas proximidades da casa do único suspeito, Amarildo da Costa Oliveira, detido por posse de arma e de drogas. 

Testemunhas afirmaram que o viram passar de lancha em alta velocidade e na mesma direção que Phillips e Pereira pouco antes do desaparecimento.

Em sua embarcação foi encontrado um rastro de sangue, que está sendo analisado. 

U2 se soma à pressão
O desaparecimento de Phillips e Pereira suscitou uma onda de solidariedade internacional e novas críticas contra o governo de Jair Bolsonaro, acusado de incentivar as invasões de terras indígenas e de sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica. 

A banda britânica U2 se somou nesta segunda-feira à pressão para encontrá-los, como já tinham feito o cantor Caetano Veloso e o rei do futebol, Pelé.

"Estamos esperando saber o que aconteceu com estes homens corajosos", tuitou a banda junto de um cartaz em vermelho e preto que tem circulado nas redes sociais nos últimos dias, com a pergunta "Onde estão Dom Phillips e Bruno Pereira?". 

Dezenas de indígenas protestaram nesta segunda-feira, exigindo uma resposta sobre os desaparecidos em Atalaia do Norte, cidade com cerca de 20.000 habitantes próxima do local das buscas.

Também o Comitê para a Proteção dos Jornalistas, sediado em Nova York, denunciou "a resposta insuficiente do governo e a falta de transparência". "As autoridades brasileiras precisam deixar de arrastar seus pés" na busca, disse em um comunicado.