Economia

Teto do ICMS é aprovado. Preço do diesel vai cair? Faltará verba para educação? Entenda os impactos

Governo corre para aprovar, em ano eleitoral, três projetos que reduzem arrecadação estadual para segurar inflação. Entenda o impacto das medidas

Combustíveis - Rovena Rosa / Agência Brasil

A aprovação nesta terça-feira (14), na Câmara, do projeto que cria um teto de 17% para o ICMS sobre combustíveis, energia, telecomunicações e transporte público - apenas um dia depois de o Senado aprovar o texto com modificações - amplia as chances de que o governo emplaque um grande pacote para tentar segurar os preços sobretudo de gasolina e diesel neste ano eleitoral.

A preocupação no entorno do presidente Jair Bolsonaro é de que a alta da inflação dificulte sua reeleição, já que a economia é apontada como fator decisivo por eleitores nas pesquisas.

Nos últimos 12 meses, o preço da gasolina subiu 28,73%, o gás de botijão ficou 29,39% mais caro e o óleo diesel, 52,27%.

O governo federal calcula que a compensação aos estados com o teto do ICMS irá custar R$ 46,4 bilhões aos cofres públicos neste ano. O objetivo é reduzir em R$ 1,65 o litro da gasolina e em R$ 0,76 o do óleo diesel. Nas contas de luz, o impacto médio seria de 12%, de acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica.

O governo federal corre contra o tempo para aprovar um pacote no Congresso para reduzir tributos estaduais e, assim tentar segurar os preços principalmente de diesel, gasolina e gás de botijão.

As medidas enfrentam a resistência dos Estados, que temem perder arrecadação e alegam que pode faltar recursos para saúde e educação. E não há garantia de que o alívio nas bombas seja efetivo, já que o petróleo segue em alta no mercado internacional e o real tem se desvalorizado.

Segundo dados da Abicom, que reúne importadores de combustíveis, hoje a gasolina e o diesel estão sendo vendidos no Brasil com defasagem de 16% frente aos preços internacionais.

O governo já vinha tentando, sem sucesso, influenciar a Petrobras para mudar sua política de preços e anunciou a troca no comando da estatal – mas a chancela ao novo presidente da empresa ainda precisa passar pelos trâmites de governança da companhia.

Antes disso, zerou os impostos federais cobrados sobre o diesel, o que não trouxe alívio para o consumidor diante de uma cotação do petróleo no mercado internacional que não para de subir por causa da guerra na Ucrânia.

O governo tento também mudar a fórmula de cobrança do ICMS do diesel, o que acabou virando uma disputa judicial com estados no Supremo Tribunal Federal (STF).

Agora, aposta em um projeto de lei e duas PECs para tentar segurar os preços. Confira, abaixo, o que prevê cada uma dessas medidas:

Teto do ICMS

O que é?

Já aprovado na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, o projeto, que precisa de uma segunda avaliação dos deputados antes de ir à sanção, é a base de todo o pacote do governo. Hoje, cada estado tem a liberdade de determinar sua alíquota de ICMS, que chega a 34% em alguns casos.

Porém, a proposta classifica combustíveis, energia, telecomunicação e transporte público como bens essenciais. Assim, os estados só poderiam cobrar, no máximo, 17% de ICMS nesses produtos (ou 18% em alguns poucos estados que já adotam esta alíquota para bens essenciais).

Riscos

Este projeto poderia gerar uma perda imediata de arrecadação de até R$ 63,5 bilhões, segundo contas dos secretários de fazenda dos estados e municípios (as cidades ficam com 25% do ICMS). Isso, segundo governadores e prefeitos, levaria a uma forte redução de verbas para saúde e educação.

A União, por outro lado, alega que os estados estão tendo recorde de arrecadação. Mas economistas afirmam que parte deste resultado decorre da alta da inflação, que eleva o preço dos produtos e, consequentemente, o valor do ICMS arrecadado.

Os senadores criaram gatilhos setoriais, que obrigam a União a compensar a perda de arrecadação caso a queda de receita, em cada produto, chegue a 5%. Este ponto é polêmico e ainda vai ser analisado novamente pelos deputados.

Além disso, juristas afirmam que os estados podem recorrer à Justiça caso o projeto vire lei, lembrando que há decisões do próprio STF que estabelecem que é preciso escalonar mudanças tributárias para evitar uma perda abrupta de arrecadação para os estados.

PEC dos Combustíveis

- O que é?

Anunciada com pompa no Palácio do Planalto na semana passada, a PEC dos Combustíveis é a nova grande aposta de Bolsonaro para tentar algum alívio nos preços nas bombas. Prevê zerar o ICMS do diesel, gás de cozinha e transporte público a partir do teto de 17% já aprovado na proposta anterior. Mas esta redução seria temporária, só até dezembro de 2022. Ou seja, o ICMS ficaria zerado justamente no período eleitoral.

Em troca, o governo federal compensaria estados e municípios por esta perda de arrecadação. E o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que poderia usar R$ 25 bilhões da receita do governo com a privatização da Eletrobras para bancar parte deste subsídio.

A proposta ainda prevê zerar os impostos federais (PIS/Cofins e CIDE) sobre a gasolina e o etanol.

- Riscos

Estados e governo federal divergem sobre o valor da perda de arrecadação com o ICMS do diesel, do gás e do transporte público a zero até o fim do ano. O relator da PEC, senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), afirmou que a proposta deve custar R$ 29,6 bilhões aos cofres públicos — esse valor é referente somente à compensação federal para os estados que aderirem à isenção do ICMS. A conta do senador inclui só a renúncia fiscal com a redução do ICMS do teto de 17% (previsto no projeto anterior) para zero (objeto desta PEC).

Estados e municípios, por sua vez, afirmam que as perdas totais chegariam a R$ 115 bilhões, porque consideram a renúncia fiscal total, ou seja, a alíquota atual de ICMS praticada pelos governos estaduais, que chega a alguns casos a 34% e, com a aprovação dos dois projetos, seria zerada. Governadores e prefeitos querem, portanto, a compensação pelo valor total de perdas tributárias com o pacote, e não só a parte referente à redução de 17% para zero no ICMS.

PEC dos biocombustíveis

- O que é?

Os senadores também avaliam a PEC 15/2022, que pretende estimular a competitividade dos biocombustíveis em relação aos concorrentes fósseis, como gasolina e diesel. O relator, Fabio Garcia (União-MT), já protocolou seu parecer. A proposta foi apresentada pelo senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) na última semana.

- Riscos

Menos polêmica que as outras propostas, a ideia do projeto é garantir que os biocombustíveis continuem competitivos em um cenário de corte generalizado de impostos em outros produtos. Estes produtos poderiam se tornar comparativamente mais caros, o que poderia ser um desincentivo à sua produção, com impactos para as metas climáticas do país.