Guerra na Ucrânia

EUA anunciam novos envios de armas à Ucrânia e pedem à China que se distancie da Rússia

Presidente norte-americano anunciou ainda o enviou de 225 milhões de dólares em assistência humanitária para a Ucrânia

O presidente Joe Biden anunciou nesta quarta-feira (15) novos envios de armas à Ucrânia - Saul Loeb/AFP

Os Estados Unidos anunciaram nesta quarta-feira (15) novos envios de armas à Ucrânia, que as solicita para tentar impedir a conquista da região do Donbass pelas tropas russas, e pediram à China que não fique "no lado errado da História" alinhando-se a Moscou.

A remessa, no valor de 1 bilhão de dólares, inclui artilharia, sistemas de defesa anti-navio, munição e sistemas avançados de mísseis já usados pela Ucrânia. "Reafirmei meu compromisso de que os Estados Unidos estarão com a Ucrânia na defesa de sua democracia e sua soberania e integridade territorial diante de uma agressão russa não provocada", disse Biden, segundo um comunicado.

O presidente também anunciou 225 milhões de dólares em assistência humanitária para a Ucrânia. O dinheiro será destinado a alimentos, água potável, suprimentos médicos e outros bens essenciais. "A coragem, resiliência e determinação do povo ucraniano continuam a inspirar o mundo", disse Biden.

Em nota, o Pentágono detalhou que o material militar inclui especialmente 18 obuses Howitzers com seus veículos de transporte e 36.000 obuses, além de lançadores de mísseis antinavios Harpoon destinados à defesa costeira da Ucrânia no mar do Norte.

Os Estados Unidos também planejam enviar foguetes guiados de alta precisão para os quatros sistemas Himars prometidos à Ucrânia no início de junho que devem chegar ao campo de batalha no final do mês, informou um alto funcionário que pediu anonimato e não quis especificar o número de foguetes destinados a Kiev.

Mas Washington não despachará imediatamente os lançadores Himar, já que primeiro quer garantir que sejam empregados com sucesso.

O sistema Himars, que transporta seis foguetes com um alcance de mais de 70 quilômetros - o dobro dos obuses americanos já utilizados em campo de batalha -, poderia dar aos ucranianos um maior distância de tiro e mais precisão na região do Donbass, no leste do país, onde se concentram os principais combates.

Em Bruxelas, o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin, pediu nesta quarta-feira (15) aos países ocidentais que mantenham o compromisso com a Ucrânia e enviem as armas que Kiev solicita com veemência para resistir à invasão russa.

Quase 50 ministros de Defesa, incluindo o ucraniano Oleksiy Reznikov, participaram do encontro paralelo a uma reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).

"Não podemos nos dar o luxo de cruzar os braços e não podemos perder força. O que está em jogo é muito grande. A Ucrânia enfrenta um momento crucial no campo de batalha", acrescentou.

O principal tópico de discussão é como atender à demanda por armas pesadas e em maiores quantidades para responder ao avanço russo sobre o Donbass. "Bruxelas, esperamos uma decisão", tuitou Myjailo Podoliak, assessor da presidência ucraniana.

A Ucrânia resiste à invasão com apoio econômico e militar ocidental, mas pede o envio de armas pesadas e em maior quantidade para conter o avanço russo no Donbass.

'Situação muito crítica'
O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, destacou a "necessidade urgente" de aumentar as entregas de armas modernas à Ucrânia. No entanto, alertou que será preciso tempo para estrear as forças ucranianas no uso desse novo armamento.

"É um fato que, com a transição das armas da era soviética para as armas mais modernas da Otan, também precisaremos de um pouco de tempo para que os ucranianos estejam prontos para usar e operar esses sistemas", apontou em coletiva de imprensa.

A Rússia, por sua vez, tenta interceptar as entregas de armas ocidentais e anuncia periodicamente que destruiu carregamentos fornecidos pela Otan.

Apoio da China à Rússia
O presidente chinês Xi Jinping garantiu nesta quarta-feira ao russo Vladimir Putin o apoio de Pequim em questões de "soberania" e "segurança" durante uma conversa por telefone. 

"A China está disposta a continuar o apoio mútuo com a Rússia em questões de soberania, segurança e outras questões de interesse fundamental e preocupações importantes", disse Xi, segundo um comunicado da agência oficial de notícias Xinhua.

A transcrição da conversa não cita exemplos específicos, como Ucrânia ou Taiwan.

O Kremlin, por sua vez, informou que os dois líderes concordaram em "expandir a cooperação nos campos de energia, financeiro, industrial, transporte e outros, levando em conta a situação econômica global que foi prejudicada por sanções ocidentais ilegítimas".

"O alinhamento da China à Rússia nos preocupa", indicou um porta-voz da diplomacia americana, que não quis ser identificado. "A China diz ser neutra, mas seu comportamento deixa claro que ainda investe em laços estreitos com a Rússia. Os países que escolhem o lado de Vladimir Putin irão se situar, inevitavelmente, no lado errado da História", advertiu.

Diante das sanções ocidentais, a gigante russa de hidrocarbonetos Gazprom anunciou nesta quarta-feira uma nova redução em suas entregas de gás para a Europa através do gasoduto Nord Stream, argumentando que foi forçada a paralisar equipamentos da fabricante alemã Siemens.

A redução do fluxo por esse gasoduto submarino que leva gás da Rússia à Alemanha pelo mar Báltico chega a 60% em dois dias.

A Alemanha considerou, no entanto, que a Gazprom buscava com essas medidas "aumentar o preço do gás".

Bombardeios constantes
Autoridades ucranianas admitiram que perderam o controle do centro de Severodonetsk, no Donbass, uma região já controlada em grande parte por separatistas pró-russos desde 2014.

Segundo o prefeito de Severodonetsk, Oleksandre Striuk, uma parte das tropas ucranianas está entrincheirada -com mais de 500 civis- em Azot, uma enorme planta química dessa cidade, que tinha 100.000 habitantes antes da guerra.

A Rússia acusou a Ucrânia de ter impedido a criação de um "corredor humanitário" para evacuar os civis dessa instalação. "Autoridades de Kiev fizeram fracassar cinicamente a operação humanitária", afirmou o Ministério da Defesa russo.

A presidência ucraniana confirmou que os ataques russos contra Severodonetsk e a vizinha Lysychansk continuavam, sem dar mais detalhes. Até agora, Kiev desmente que suas tropas estejam cercadas.

Assim como Severodonetsk, Lysychansk está praticamente vazia de habitantes e sem eletricidade. "Os russos bombardeiam constantemente o centro da cidade", disse à AFP um polícia. 

'Sinais políticos claros'
Kiev espera uma decisão antes de 24 de junho sobre sua solicitação de ser aceita como candidato oficial à adesão à União Europeia (UE), o que supõe o início de um processo e negociação que pode durar anos.

Segundo meios de comunicação alemães, o presidente francês Emmanuel Macron, cujo país exerce a presidência semestral da UE, visitará Kiev na quinta-feira ao lado dos chefes de governo da Alemanha, Olaf Scholz, e da Itália, Mario Draghi.

Esta será a primeira visita dos dirigentes das três principais economias europeias desde o início da invasão russa em 24 de fevereiro.

"Creio que estamos em um momento no qual necessitamos enviar sinais políticas claros, como União Europeia, para a Ucrânia e o povo ucraniano, que está resistindo heroicamente há vários meses", disse Macron durante uma visita a uma base da Otan na Romênia.