Crítica

"Lightyear": filme de origem do herói de "Toy Story" é aventura mediana

Longa-metragem da Pixar traz história diferente da animação lançada em 1995

Cena do filme "Lightyear" - Divulgação

A animação "Lightyear", que chega nesta quinta-feira (16) aos cinemas brasileiros, é o tipo de projeto idealizado para o sucesso sem riscos. Afinal, o que pode dar errado na tentativa de dar uma nova abordagem a um personagem amado pelo público há mais de duas décadas? O "calcanhar de Aquiles" do longa-metragem, talvez, esteja nesse sentimento de confiança.
 


Personagem carismático

Ao lado do cowboy Woody e de outros brinquedos fantásticos, o patrulheiro do espaço Buzz Lightyear ganhou o carinho dos fãs desde o lançamento do primeiro "Toy Story", em 1995. Numa indústria cinematográfica viciada em remakes, filmes de origem e spin-offs, era uma questão de tempo para o personagem finalmente estrela seu próprio longa.

Para os desavisados, é preciso deixar claro que o protagonista do novo desenho animado não é o mesmo visto na franquia original. O esclarecimento é feito já na introdução da obra: a história seria o filme visto no cinema pelo garoto Andy, que acabou ganhando de presente de aniversário um boneco inspirado no herói da produção.



Buzz antes de "Toy Story"

Na trama, o patrulheiro espacial e uma equipe com centenas de pessoas acabam ficando presos em um planeta hostil a 4,2 milhões de anos-luz da Terra. Ciente de sua culpa no ocorrido, Buzz busca obstinadamente um caminho que possa levar a todos de volta para casa.

A bordo de um foguete, o astronauta se lança em sucessivas viagens no espaço para testar a fórmula certa que permitirá o retorno à Terra. Enquanto o trajeto dura apenas alguns minutos para ele, já se passaram anos no novo planeta. Cada tentativa de atingir a hipervelocidade o distancia mais de todos os outros em relação ao tempo.  



Agrada, mas é mediano

Com apelo nostálgico, aspecto visual irretocável e ação de sobra, "Lightyear" tem o necessário para agradar adultos e crianças. O problema é que, se comparado a outras produções da Pixar, o filme é apenas mediano. Nas últimas décadas, o estúdio (hoje uma subsidiária da Disney) acostumou seu público a acompanhar animações realmente inovadores, tanto na tecnologia empregada como no que diz respeito às narrativas desenvolvidas.

Embora o longa-metragem dirigido por Angus MacLane dê um passo além em termos de animação, o mesmo não pode ser dito sobre o seu roteiro. Sua trama se assemelha à de qualquer aventura espacial produzida nas últimas décadas e algumas delas, como "Star Wars", surgem como referências ao longo do texto. O sentimento de responsabilidade que faz Buzz perder décadas ao lado de seus companheiros bem que poderia gerar reflexões profundas, mas sem perder a leveza (algo que a Pixar sabe fazer como ninguém), mas essa discussão acaba diluída em meio ao foco na ficção científica.

"Ao infinito e além!"

Para os apaixonados por "Toy Story", o filme traz a possibilidade de descobrir, por exemplo, a origem da icônica frase "Ao infinito e além!" ou saber qual é a real identidade do vilão Zurg. O desenvolvimento da história, no entanto, não apresenta muita originalidade, e seus personagens coadjuvantes (com exceção do gatinho robô Sox) não são lá os mais carismáticos. A sensação é de que a garantia de êxito fez o estúdio se acomodar em fórmulas prontas. 

É necessário reconhecer o avanço que "Lightyear" traz para a representatividade LGBTQIA+, algo que já vinha sendo cobrado por essa comunidade em produções da Pixar. A comandante Alicia Hawthorne, melhor amiga de Buzz, é lésbica e surge beijando a esposa. Tal cena rendeu a proibição do filme em 14 países do Oriente Médio e da Ásia. A escolha de Marcos Mion como dublador do protagonista no Brasil (em inglês, a voz é do ator Chris Evans) superou as críticas iniciais e se mostrou essencial para ajudar a diferenciar o herói apresentado somente agora pela animação do boneco já conhecido pelo público.