Crime

Detido confessa ter enterrado corpos de desaparecidos na Amazônia

Polícia Federal confirma localização de "remanescentes humanos" em buscas

Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira - Joao LAET / AFP e Arquivo Pessoal/AFP

Um dos dois detidos pelo desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro na Amazônia admitiu ter enterrado seus corpos na floresta, informou, nesta quarta-feira (15), a Polícia Federal.

O suspeito Amarildo da Costa de Oliveira "narra com detalhes o crime realizado e aponta o local onde havia enterrado os corpos", um lugar de muito difícil acesso mata adentro, disse Eduardo Alexandre Fontes, delegado superintendente da Polícia Federal do Amazonas.

Fotos: Avener Prado/Agência Pública e Divulgação/Polícia Federal

O superintendente da Polícia Federal (PF) confirmou que foram encontrados “remanescentes humanos” durante as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, que estão desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do estado. 

Diante da confissão, PF foi até o local do crime, onde foi realizada a reconstituição da cena do crime. Durante as escavações, as equipe encontraram “remanescentes humanos” em uma área de mata fechada. 

A corporação informou que os remanescentes estão sendo coletados e serão enviados para perícia para identificação dos corpos. “Sendo comprovados que esses remanescentes são relacionados ao Dom Philips e ao Bruno Pereira, nós vamos restituir mais breve possível às famílias”, afirmou. 

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, que estão desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. 

De acordo com a coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Bruno Pereira e Dom Phillips chegaram na sexta-feira (3) no Lago do Jaburu, nas proximidades do rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas. 

Segundo a Unijava, no domingo (5), os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidado de Churrasco. No mesmo dia, uma equipe de busca da Unijava saiu de Atalaia do Norte em busca de Bruno e Dom, mas não os encontrou e eles foram dados como desaparecidos. 

- "Fim da angústia de não saber" -

A esposa do jornalista inglês, a brasileira Alessandra Sampaio, declarou que, embora ainda aguarde as "confirmações definitivas", trata-se de um "desfecho trágico" que "põe fim à angustia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno".

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca de justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas", completou em um comunicado.

Após dez dias de buscas intensas, as autoridades haviam encontrado vestígios de sangue em uma embarcação do primeiro detido e material "aparentemente humano" que já estava sendo analisado em Brasília. Também foram encontrados objetos pessoais, como roupas e calçados.

O presidente Jair Bolsonaro havia dito esta semana que "vísceras humanas" haviam sido encontradas flutuando no rio, mas essa informação não foi confirmada pela Polícia Federal.

Após o desaparecimento, Bolsonaro qualificou a incursão de Phillips e Pereira como uma "aventura não recomendável" e, nesta quarta-feira, disse que o repórter era "malvisto" na região amazônica por seu trabalho informativo sobre atividades ilegais como o garimpo.

"Esse inglês, ele era malvisto na região porque ele fazia muita matéria contra garimpeiros, [sobre] a questão ambiental", disse o presidente durante uma entrevista nesta quarta ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube.

O desaparecimento de Phillips e Pereira gerou uma onda de solidariedade internacional e voltou a provocar críticas contra o governo Bolsonaro, acusado de incentivar as invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica.