Presidente do Peru depõe na Procuradoria em caso de suposta corrupção
Pedro Castillo é investigado por supostos crimes de tráfico de influência, organização criminosa e conluio
O presidente do Peru, Pedro Castillo, foi visto, nesta sexta-feira (17), caminhando pelas ruas do centro de Lima até a sede da promotoria para depor em um caso de corrupção envolvendo seu meio político e familiar, pelo qual é investigado.
A procuradoria investiga Castillo, no poder há 11 anos, por supostos crimes de tráfico de influência, organização criminosa e conluio, agravado por um caso que envolve seu entorno político e familiar.
"Tomamos todo o tempo e toda a predisposição para responder todas as perguntas" da procuradoria, disse o presidente após responder às perguntas do procurador Samuel Rojas.
Por se tratar de um chefe de Estado, esteve presente no interrogatório o procurador nacional, Pablo Sánchez.
"Estamos dispostos a continuar respondendo porque o Peru precisa que esclareçamos as coisas e vamos continuar fazendo isso", acrescentou Castillo, que se disse "satisfeito".
O presidente esquerdista deixou o palácio do governo a pé pela manhã e caminhou cerca de oito quarteirões, levantando a mão para cumprimentar pedestres, acompanhado por assessores e cerca de trinta escoltas à paisana e policiais uniformizados, observaram jornalistas da AFP.
Da Procuradoria, onde havia cerca de 20 manifestantes opositores, Castillo voltou de carro ao palácio do governo e falou rapidamente com a imprensa, em revelar as perguntas do procurador, aludindo que o caso "está em processo de investigação".
Seu advogado, Benji Espinoza, informou que o presidente havia "respondido todas as perguntas" (uma centena) e que foi feita uma ata de 32 páginas sobre seu depoimento.
"Não há nenhuma organização criminosa em que o presidente esteja envolvido", disse o advogado.
Trata-se da investigação sobre o consórcio "Puente Tarata III", que busca determinar se um ex-ministro dos Transportes, seis legisladores, um ex-secretário geral da Presidência e dois sobrinhos de Castillo integravam uma suposta rede criminosa - liderada pelo presidente - para conceder um contrato de obras públicas.
O procurador Samuel Rojas intimou Castillo, enquanto quatro investigados próximos ao presidente estão foragidos após a emissão de uma ordem de prisão preventiva contra eles. A polícia está oferecendo recompensas entre 4.000 e 13.300 dólares por sua detenção.
Outra intimação
A legislação peruana impede que um presidente seja julgado enquanto está no poder, mas não que prossigam as investigações contra ele, sustenta a acusação. Castillo, um ex-professor rural de 52 anos, termina seu mandato em 28 de julho de 2026.
Enquanto isso, a Comissão de Supervisão e Controladoria do Congresso, dominada pela oposição, concordou na quinta-feira em convocar Castillo para comparecer a depor sobre o mesmo caso em 21 de junho.
"A política peruana se transformou em um exercício policial e judicial, não se discutem os temas políticos de fundo, nem os problemas urgentes" do país, disse à AFP o analista político Hugo Botero.
"Isto é não entender os problemas que vive o povo do Peru, como o desemprego, a pobreza e a inflação", a maior em três décadas, acrescentou Otero, ex-assessor do falecido presidente Alan García.
A nova intimação estabelece que o presidente poderá escolher o local onde vai depor à comissão legislativa.
O congressista fujimorista (direita populista) Héctor Ventura, que dirige a comissão, disse que "existem grandes indícios e suspeitas reveladoras de supostos atos de corrupção".
"Vacância"
Em seus 11 meses no poder, Castillo tem estado sob assédio permanente do setor radical da oposição, que o acusa de suposta inaptidão e estar salpicado por fatos de corrupção.
Em 8 de abril, o Congresso peruano aprovou uma moção meramente simbólica que exortava Castillo a renunciar, dez dias depois de fracassar a segunda tentativa de destituí-lo em um julgamento político relâmpago, ao obter apenas 55 dos 87 votos necessários.
As moções de "vacância presidencial" se tornaram hábito no Peru e causaram a queda dos presidentes Pedro Pablo Kuczynski (direita) em 2018 e Martín Vizcarra (centro) em 2020. Desde dezembro de 2017, o Congresso debateu seis iniciativas deste tipo.
Vários legisladores opositores radicais pedem diariamente a destituição de Castillo, mas até agora não contam com os votos necessários.