Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos a tiros na Amazônia "com munição típica de caça"
Os restos dos dois foram encontrados em uma área apontada pelo primeiro dos três suspeitos detidos até o momento
Autoridades identificaram entre sexta e sábado (18) os restos mortais do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, e confirmaram que os dois foram mortos a tiros "com munição típica de caça" na Amazônia brasileira, onde um terceiro suspeito se entregou à polícia.
A Polícia Federal informou em nota neste sábado que "os restos de Bruno Pereira fazem parte do material" que está sendo analisado e explicou que a morte de Phillips, cujos restos mortais foram identificados na sexta-feira à noite, foi provocada por um tiro no tórax e que Pereira foi atingido por três disparos, um deles na cabeça.
Estas informações dissipam em parte as dúvidas sobre a chocante morte de Phillips, de 57 anos, e de Pereira, de 41, que foram vistos pela última vez em 5 de junho, quando se dirigiam de barco para a cidade de Atalaia do Norte, oeste do estado do Amazonas, como parte de uma pesquisa para um livro sobre a preservação ambiental da floresta.
Os restos dos dois foram encontrados em uma área apontada pelo primeiro dos três suspeitos detidos até o momento, o pescador Amarildo da Costa de Oliveira, conhecido como 'Pelado', que confessou na terça-feira ter enterrado os corpos mata adentro, perto desta cidade.
O município fica no Vale do Javari, que abriga a segunda maior terra indígena do país, perto da fronteira com o Peru, e conhecida por sua periculosidade. Ali atuam narcotraficantes, pescadores e garimpeiros ilegais.
A Polícia informou na sexta-feira que suas investigações indicam que quadrilhas de criminosos que atuam na região não têm relação com o duplo homicídio, mas a União dos Povos do Vale do Javari (Univaja), cujos membros participaram ativamente das buscas, afirmaram em nota que "um grupo organizado planejou minimamente os detalhes deste crime".
"É muito preocupante que nesta altura das primeiras etapas de uma investigação, as autoridades já tenham dito que os assassinos agiram sozinhos, que não há autor intelectual, nem participação de uma organização criminosa", disse à AFP Renata Neder, representante no Brasil do Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ).
Terceiro detido
As autoridades continuam investigando a motivação, as circunstâncias do crime e seus eventuais vínculos com a pesca ilegal, um negócio muito lucrativo e que, segundo especialistas, serve para lavar o dinheiro do narcotráfico.
Na manhã deste sábado, um terceiro suspeito, Jefferson da Silva Lima, conhecido como 'Pelado da Dinha', se entregou em uma delegacia de Atalaia do Norte.
As autoridades divulgaram uma foto do detido, um homem de baixa estatura, com boné e camiseta vermelha. Cabisbaixo e com o rosto coberto, foi levado para depor perante uma juíza, que determinou sua prisão preventiva por um mês, informaram fontes à AFP.
Em declarações à imprensa, o delegado da Polícia Civil Alex Perez Timóteo afirmou que "não temos duvidas da participação dos três no duplo homicídio" e considerou "bem provável" que haja novas prisões nos próximos dias.
"Com a prisão do Jefferson a gente vai tentar entender se houve algum acordo prévio ou se eles já estavam planejando essa situação", acrescentou o delegado, que disse que o terceiro detido não é familiar dos outros dois, que são irmãos.
O desaparecimento e a morte de Phillips e Pereira gerou uma onda de solidariedade internacional e reacendeu as críticas contra o governo de Jair Bolsonaro, acusado de estimular as invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica.
Bolsonaro causou indignação ao assegurar que a incursão de Phillips e Pereira era uma "aventura não recomendável" e que o jornalista era "malvisto" na região por seu trabalho informativo sobre as atividades ilegais.
O presidente, que participou neste sábado de uma motociata em Manaus, reagiu às mortes de Phillips e Pereira na quinta-feira, um dia depois da descoberta dos restos mortais, com um tuíte sucinto: "Nossos sentimentos aos familiares e que Deus conforte o coração de todos".