Política

Enem, homossexuais, deficientes, bíblia com foto: além de pastores, crises marcaram Ribeiro no MEC

Ex-ministro, agora preso, havia dito que "homossexuais eram fruto de famílias desajustadas", disse que crianças com deficiência atrapalham no aprendizado das demais e viu debandada em órgãos técnicos

Milton Ribeiro - Cleia Viana/Ag. Câmara

A gestão de Milton Ribeiro no MEC foi cercada de crises e polêmicas, além dos casos dos pastores que motivaram sua prisão na manhã de desta quarta-feira (22). Em seus primeiros meses à frente da pasta, Ribeiro afirmou durante entrevista em setembro de 2020 que homossexuais eram fruto de famílias "desajustadas". A declaração fez com que a Procuradoria-geral da República denunciasse Ribeiro pelo crime de homofobia.

No ano passado, uma declaração de Ribeiro sobre crianças com deficiência gerou ampla repercussão. Na época, Ribeiro afirmou que alunos com deficiência atrapalham outros estudantes em sala de aula. Após a fala, o ministro pediu desculpas e argumentou que sua afirmação havia sido retirada de contexto.

Além das declarações controversas, Ribeiro foi alvo de duras críticas por parte de gestores municipais e estudais por sua gestão durante a pandemia de Covid-19. De acordo com secretários, o MEC não implementou ações efetivas para conter os danos gerados pela pandemia na educação e se omitiu de coordenar estados e municípios para atravessar o período.

Durante a gestão de Ribeiro, órgãos ligados ao MEC, como o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), enfrentaram crises com a debandada de quadros técnicos.

Em novembro do ano passado, às vésperas do Enem, 37 servidores do Inep pediram para deixar funções de coordenação no instituto. Os técnicos acusaram o presidente Danilo Dupas, colocado no cargo por Ribeiro, de assédio moral, censura e de se negar a assumir responsabilidades na gestão do Inep. O caso foi classificado por especialistas como a maior crise no instituto em mais de 80 anos de história.

Durante a crise do Inep, também vieram a público denúncias de tentativas de interferência no conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Na época, servidores do Inep relataram que foram alvo de pressões para evitar questões consideradas polêmicas pelo governo. As denúncias feitas pelos servidores foram levadas à Câmara dos Deputados e ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Pouco depois do Inep, a Capes foi o centro da turbulência. Mais de cem colaboradores da instituição, que atuavam na avaliação de mestrados e doutorados, renunciaram a seus postos com críticas à gestão do órgão. Na ocasião, eles denunciaram que a presidência do órgão, ocupada por Cláudia Toledo, não respaldava o trabalho desempenhado pelos pesquisadores e não defendia a avaliação dos programas de pós-graduação. Tanto no Inep como na Capes os presidentes foram mantidos em seus cargos.

Em março deste ano, O Globo revelou que a compra de bíblias era uma das vantagens indevidas pedidas por Arilton Moura e Gilmar Santos para facilitar recursos no MEC. Prefeitos relataram à reportagem que Arilton Moura pediu que os gestores dessem uma "oferta" para a Igreja por meio da compra dos exemplares. Os livros traziam fotos do então ministro Milton Ribeiro.

Já depois de sua saída do MEC, em abril deste ano, Milton Ribeiro voltou ao noticiário. O ex-ministro disparou acidentalmente uma arma no aeroporto de Brasília. Na ocasião, uma funcionária do local se feriu com estilhaços. Ribeiro foi levado à superintendência da Polícia Federal e argumentou que tentava desmuniciar a arma quando houve o acidente.