Cesare Battisti

Cesare Battisti critica "cinismo político" de Lula e culpa ex-presidente por eleição de Bolsonaro

Italiano deixou o Brasil e fugiu para a Bolívia no final de 2018, onde foi preso e extraditado

Cesare Battisti - Miguel Schincariol/AFP

O terrorista italiano Cesare Battisti criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontando “cinismo político” e afirmando que ele seria “capaz de tudo para colocar de novo a faixa de presidente”. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele disse que a postura do petista (que, no ano passado, se desculpou por não ter extraditado Battisti) faz parte de uma estratégia visando as eleições presidenciais no fim deste ano.

“Todos sabemos que Lula é capaz de tudo para colocar de novo a faixa de presidente. O animal político que nunca se contradiz. Aconteceu também comigo de admirar seu cinismo político e o extraordinário jogo de cintura”, disse Battisti.

Segundo Battisti, Lula abandonou antigos aliados à esquerda por conta do “clima de campanha política” e da necessidade de se realizar acenos à direita. Ele diz, também, que Dilma Rousseff teve a mesma postura em relação ao seu caso ao longo do processo de seu impeachment, em 2016.

“Aconselharam Lula a fazer isso se quisesse recuperar parte dos setores que votaram em Bolsonaro, ele não hesitou. Mesmo que para isso tivesse que mentir despudoradamente, dizendo que ele e Tarso Genro [então ministro da Justiça] não sabiam de nada”, disse.

Entenda o caso

No último dia de seu mandato, em 2010, Lula concedeu asilo ao italiano. Ex-membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti chegou ao Brasil em 2004 para evitar de ser extraditado na França. Em 2007, foi preso no Rio de Janeiro e cumpriu prisão preventiva para fins de extradição na penitenciária da Papuda, em Brasília, até 2010.

Em 2018, o então presidente Michel Temer revogou a decisão de Lula e, com aval reiterado do STF, determinou a extradição de Battisti. O italiano, então, fugiu do Brasil, mas foi capturado em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, em janeiro de 2019. Como a entrada no país foi ilegal, a expulsão dele foi requerida pela Itália e acatada pelo governo boliviano.

Dois meses após retornar preso à Itália, Cesare Battisti admitiu envolvimento em quatro assassinatos durante interrogatório feito na prisão pelo procurador Alberto Nobili, responsável pelo grupo antiterrorista da cidade italiana de Milão.

Lula já havia pedido desculpas sobre o caso. Em agosto de 2020, o ex-presidente disse que se arrependeu de ter defendido Battisti, em um programa de debates da TV Democracia.

“Hoje, acho que, assim como eu, todo mundo da esquerda brasileira que defendeu Cesare Battisti aqui ficou frustrado, ficou decepcionado. Eu não teria nenhum problema de pedir desculpas à esquerda italiana e às famílias do Battisti”, disse Lula na ocasião.