Crise com prisão de ex-ministro impulsionou Bolsonaro a dar aval a reajuste de auxílio
Ideia de aumentar o benefício para R$ 600 já era defendida por núcleo duro da campanha para criar fato positivo para o governo
A prisão do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro impulsionou o presidente Jair Bolsonaro a dar o aval para o governo colocar em prática o plano de aumentar o Auxílio Brasil para R$ 600 reais a cem dias do primeiro turno da eleição. A ideia já vinha sendo defendido pela cúpula da campanha. A estratégia era criar um fato novo para interromper a agenda negativa de Bolsonaro, que incluía os ataques às urnas, a crise na Petrobras e as mortes do indigenista Bruno Pereira e o jornalista Dom Phillips na Amazônia.
Com a crise envolvendo o ex-ministro suspeito de fazer um balcão de negócios no Ministério da Educação, que foi considerada um "desastre" por aliados, Bolsonaro cedeu aos apelos do núcleo duro da campanha. A reunião ocoreu no Palácio do Planalto na tarde quarta-feira. Embora não divulgada com antecedência, a agenda já estava prevista. Participaram da conversa o presidente do PL, Valdemar Costa, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Célio Faria. O marqueteiro do PL, Duda Lima, também esteve presente.
Valdemar Costa e Ciro Nogueira já vinham argumentando que o incremento do benefício será fundamental para Bolsonaro conseguir "sair das cordas" na disputa eleitoral. Ambos relatavam que os valores, embora maiores que o Bolsa Família, eram insuficientes. Além disso, relatam ao presidente que nos estados há muitos relatos de que os recursos são baixos.
Os estrategistas da campanha observam ainda que aumentar o valor do auxílio neste momento pode ajudar a associação de Bolsonaro ao programa de distribuição de renda. Pesquisas internas apontam que a população ainda não credita o substituto do Bolsa Família a Bolsonaro e que é preciso tentar reverter isso o mais rápido possível.
De acordo com a pesquisa Datafolha de maio, o presidente tem rejeição de 59% entre eleitores que têm renda mensal de até dois salários mínimos. Entre as mulheres, a maior parte dos titulares do Auxílio Brasil, a rejeição é de 57%. Aumentar o valor do benefício tem o intuito de ajudar Bolsonaro a melhorar a avaliação nesses grupos de eleitores.
Integrantes do Palácio do Planalto afirmam que o texto ainda está sendo elaborado e deve ser apresentado na próxima semana. O tema deve ser apresentado a uma reunião de líderes do Congresso na próxima segunda-feira. A ideia é que o aumento do programa seja limitado até dezembro.
O tempo até a conclusão do texto final também deverá ser usado pelos articuladores do governo para ganhar apoio no Senado e até mesmo no Supremo Tribunal Federal (STF) para que o aumento do auxílio não seja derrubado por uma decisão monocrática.