Gabriel Monteiro diz em depoimento que filmava relações sexuais para evitar acusações de estupro
Segundo Chico Alencar (PSOL), relator do processo do qual o ex-PM é alvo no Conselho de Ética, o vereador alegou que 'não via problemas éticos' nas gravações por se tratar de 'autoproteção'
O vereador do Rio e youtuber Gabriel Monteiro (PL) prestou depoimento na tarde desta quinta-feira (23) ao Conselho de Ética da Câmara. O órgão avalia as acusações que podem levar à cassação do mandato. Ele foi ouvido por cerca de três horas e, segundo Chico Alencar (PSOL), relator do processo, alegou que gravava as relações sexuais que mantinha para comprovar que eram consensuais e evitar acusações de estupro. Monteiro deixou a casa sem dar declarações.
"Ele disse que filmava as relações íntimas e consensuais para se precaver sobre possíveis denúncias de estupro. E não via problema ético por (ser algo para) autoproteção", afirmou Chico Alencar ao término da sessão.
No depoimento, Gabriel Monteiro reiterou que desconhecia que a adolescente com quem mantém relações sexuais em um vídeo que viralizou na Internet era menor, e que a garota teria mentido a própria idade. A gravação é um dos alvos do processo ético.
Monteiro também falou sobre os vídeos em que aparece com crianças em supostos experimentos sociais e de outro episódio que mostra a agressão de um morador de rua.
"O vereador se defendeu de forma muito específica acerca dos vídeos que são alvo da denúncia. Sobre o vídeo em que foi oferecido R$ 400, seria para abordar a temática do feminicídio. Ele disse que a ideia era mostrar que as pessoas se vendem para praticar feminicídio. Essa era a ideia dele", disse o presidente do Conselho, Alexandre Isquierdo (União Brasil).
Ainda de acordo com os membros do Conselho, Monteiro também alegou que os assessores que participaram das filmagens não eram contratados pela Câmara. E que no grupo só havia a equipe de segurança que faz sua proteção pessoal. Após depor, o vereador participou normalmente de votações na Casa.
Ao todo, doze testemunhas foram ouvidas, sendo oito pela acusação e quatro pela defesa. A previsão é que o caso chegue ao plenário, que pode decidir ou não pela cassação do mandato, em meados de agosto. O relator Chico Alencar disse ter visto contradições no depoimento de Monteiro:
"Ele afirmou que essas pessoas que trabalhavam para ele recebiam por fora. E, sobre o morador de rua, disse que não considerava antiético oferecer dinheiro em nome de uma experiência social. Mas a pessoa saia como vilã. (Ele diz que) não contratava ninguém para sair como vilão ao oferecer dinheiro para pessoas comuns. Mas os vídeos mostram isso: vilões e só um herói, no singular", ponderou Chico, antes de continuar.
Chico Alencar deve apresentar seu parecer no dia 1º de agosto, na volta do recesso. As sessões parlamentares se encerram na semana que vem. E no dia 10 do mesmo mês, deve ir a plenário. A representação é pela cassação. Se não tiver quórum, a matéria volta à paula na sessão seguinte.
Dinheiro para que morador de rua cometesse crime
Há alguns dias. Gabriel Monteiro postou vídeos nas redes sociais marcando os vereadores do Conselho, pedindo para que a audiência fosse transmitida ao vivo pela internet, o que não é permitido pelos ritos do conselho.
Nessa terça-feira (21), a Comissão de Ética ouviu os depoimentos do delegado Luis Maurício Armond, da 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), e do policial militar Pablo Foligno. Na mesma data, o parlamentar confirmou para os jornalistas que ofereceu dinheiro para que uma pessoa em situação de rua praticasse um crime na Lapa. Gabriel Monteiro afirmou “Paguei sim”, mas disse que se tratava de um "experimento social", uma campanha contra o feminicídio.
O delegado Luis Maurício Armond, convidado pela defesa do vereador, foi ouvido na tarde desta terça-feira pela Comissão que apura se Gabriel Monteiro cometeu ou não quebra de decoro parlamentar. Ao final do depoimento, o delegado falou com os jornalistas e explicou que um dos crimes pelo qual o vereador está sendo investigado é a exposição de pessoas em estado de vulnerabilidade. Segundo Armond, do ponto de vista da lei, forjar um crime é ilegal, independentemente de se tratar ou não de um experimento.
"A simulação tudo bem, mas a exposição é real. Está se simulando uma situação, mas nem todos os personagens, pelo que está sendo apurado, estariam cientes disso. Então não seria só uma encenação, teria a possibilidade de acontecimentos imprevisíveis. O risco é real", analisou Luis Maurício Armond.