Alvo de notícia-crime, Ciro reage a ministro da Defesa: "Tenta interferir no processo político"
Ciro afirmou ter sido surpreendido com a reação das Forças Armadas e que a iniciativa da Defesa é uma "ação política"
O pré-candidato do PDT à presidência da República, Ciro Gomes, reagiu nesta sexta-feira (24) à notícia-crime contra ele apresentada pelo Ministério da Defesa e pelas Forças Armadas à Procuradoria-Geral da República. Em nota divulgada hoje, Ciro afirmou ter sido surpreendido com a reação das Forças Armadas e que a iniciativa da Defesa é uma "ação política". Ele também criticou o ministro da pasta.
Em entrevista à rádio CBN na terça-feira, o pré-candidato do PDT afirmou que Bolsonaro destruiu as bases de comando e controle na Amazônia e que isso transformou a região em uma "holding de crime". Ciro também afirmou que o "narcotráfico é claramente protegido por autoridades brasileiras, inclusive as Forças Armadas, não aconteceria se isso não fosse verdadeiro".
"O que ele faz pela Amazônia? Ele destruiu as precaríssimas estruturas de comando e controle, desmontou o ICMBio, desmontou a Funai, desmontou o Ibama, destruiu a capacidade operacional das Forças Armadas, que não tem efetivo, verba, que não tem tecnologia para administrar uma imensa faixa de fronteira seca, toda uma malha de igarapés, rios, riachos, bacias, e isso acabou transformando o território nessa holding do crime", disse na entrevista.
Dois dias depois, o Ministério da Defesa e as Forças Aramadas publicaram uma nota conjunta repudiando as declarações de Ciro Gomes e afirmaram que as "acusações levianas afetam gravemente a reputação e a dignidade" das instituições. O comunicado também destaca que foi apresentado uma notícia-crime ao procurador-geral da República, Augusto Aras, para apurar supostos crimes de “incitar, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade” e “propalar fatos, que sabe inverídicos, capazes de ofender a dignidade ou abalar o crédito das Forças Armadas ou a confiança que estas merecem do público”.
Nesta sexta-feira, Ciro afirmou que em "nenhum momento" disse que as Forças Armadas, "enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa". Segundo o pedetista, a nota "explicita" o grau de politização do atual comando das Forças.
"A nota, que mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas, tenta distorcer a crítica que fiz ao notório descontrole que impera, em áreas da Amazônia", diz trecho da declaração de Ciro.
"Em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei - e reafirmo - que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão", escreveu o pré-candidato do PDT.
Ciro Gomes alegou também que exerceu o seu "direito de liberdade de expressão, sem excesso ou qualquer discurso de ódio" e que respeita as Forças Armadas. "Inclusive, afirmei, na mesma entrevista, que os militares são elementos essenciais a um Projeto Nacional de Desenvolvimento, além de ressaltar a importância do fortalecimento das Forças Armadas em um possível governo que eu venha a presidir", afirmou.
Ciro finalizou o texto criticando o atual ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e afirmando que o militar vem se "notabilizando por tentativas de interferência no processo político". Ciro ainda fez uma referência indireta ao presidente Jair Bolsonaro ao mencionar que o general provavelmente atuou "obedecendo ordens de seu comandante supremo". O chefe do Executivo já reforçou em diversas ocasiões ser o chefe das Forças Armadas.
"Não me surpreende, portanto, que a iniciativa desta ação política contra mim -e contra a minha candidatura- parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político. Como fez, recentemente, em relação ao Tribunal Superior Eleitoral. Vale lembrar que, há pouco tempo, este mesmo ministro disse autoritariamente ao TSE que vai indicar nomes de militares para fiscalizar as urnas", escreveu Ciro Gomes.