Homem de 101 anos condenado a cinco anos de prisão por crimes nazistas
O alemão foi condenado por "cumplicidade" no assassinato de 3.518 prisioneiros entre 1942 e 1945 no campo de Sachsenhausen, ao norte de Berlim
Um alemão de 101 anos, Josef Schütz, a pessoa mais idosa acusada por crimes nazistas, foi condenado nesta terça-feira (28) a cinco anos de prisão por cumplicidade no assassinato de milhares de pessoas quando era guarda em um campo de concentração durante o Holocausto.
Schütz, ex-suboficial da Waffen SS, unidade de combate nazista na época dos eventos pelos quais foi julgado, foi condenado por "cumplicidade" no assassinato de 3.518 prisioneiros entre 1942 e 1945 no campo de Sachsenhausen, ao norte de Berlim.
"Senhor Schütz, você teve um papel ativo durante três anos no campo de concentração de Sachsenhausen, onde foi cúmplice de assassinatos em massa", disse o presidente do tribunal, Udo Lechtermann.
O magistrado afirmou que por sua presença no local, o acusado apoiou as ações praticadas no campo de concentração.
"Todas as pessoas que queriam fugir do campo foram fuziladas. Portanto, qualquer guarda do campo participou ativamente dos assassinatos", disse o juiz.
No momento da leitura da sentença, que é superior aos três anos contemplados no direito alemão em casos de cumplicidade em assassinato, o acusado permaneceu impassível.
"Estou preparado", afirmou Schütz horas antes, quando foi levado para a sala de audiências, em uma cadeira de rodas.
O advogado de defesa já havia anunciado que em caso de uma sentença muito dura, ele apresentaria recurso de apelação, o que atrasaria o cumprimento da sentença até o início de 2023. Dada a idade avançada e a saúde frágil do acusado, que compareceu em liberdade ao processo, é pouco provável que ele seja preso.
Em nenhum momento das quase 30 audiências do caso, o réu expressou o menor sinal de arrependimento.
Na segunda-feira, antes do fim do julgamento, ele voltou a negar qualquer responsabilidade.
"Não sei por que estou aqui. Digo a verdade. Não tenho nada a ver com a polícia e o exército, tudo o que foi dito é falso", disse o acusado, com a voz trêmula.
Relatos contraditórios
Josef Schütz apresentou vários relatos sobre seu passado, às vezes contraditórios. Recentemente, ele afirmou que saiu da Lituânia no início da Segunda Guerra Mundial para seguir até a Alemanha, onde teria exercido a função de trabalhador agrícola durante todo o conflito.
"Derrubei e plantei árvores", disse, depois de jurar que nunca vestiu um uniforme alemão, e sim "roupa de trabalho".
Uma versão que é contestada por vários documentos históricos que mencionam, entre outros dados, seu nome, data e local de nascimento, o que demonstra que de fato atuou, do fim de 1942 ao início de 1945, na divisão "Totenkopf" das Waffen-SS.
Após a guerra, ele foi transferido para um campo de prisioneiros na Rússia e depois se mudou para Brandemburgo, região vizinha de Berlim.
Ele foi sucessivamente agricultor, depois serralheiro e nunca foi incomodado pelas autoridades.
Com 21 anos de idade no início dos fatos imputados, Schütz foi acusado, entre outras coisas, de ter fuzilado prisioneiros soviéticos, de "ajuda e cumplicidade em assassinatos sistemáticos" por gás Zyklon B e por "deter prisioneiros em condições hostis".
Entre a abertura em 1936 e sua libertação pelos soviéticos em 22 de abril de 1945, o campo de concentração de Sachsenhausen registrou quase 200 mil prisioneiros, em particular opositores políticos, judeus e homossexuais.
Dezenas de milhares deles morreram, vítimas principalmente de exaustão devido ao trabalho forçado e às condições cruéis de detenção.
Depois deter demonstrado por várias décadas pouca vontade de julgar todos os autores de crimes nazistas, a Alemanha ampliou nos últimos 10 anos suas investigações.
Os guardas dos campos de concentração e outros executores da máquina nazista podem ser processados por cumplicidade em assassinatos.