Justiça

Principal acusado por atentados de 2015 em Paris é condenado à prisão perpétua

Abdeslam recebeu a maior pena, que foi aplicada apenas quatro vezes na França

Participantes esperam para entrar na sala do tribunal construída momentos antes do veredito - Geoffroy Van Der Hasselt / AFP

A Justiça francesa condenou à prisão perpétua, nesta quarta-feira (29), Salah Abdeslam, o único sobrevivente dos comandos que mataram 130 pessoas em Paris e Saint-Denis em 13 de novembro de 2015.

Seis anos depois do pior ataque em Paris desde a Segunda Guerra Mundial e após dez meses de processo, os 20 acusados receberam suas penas, que variam de dois anos de prisão à prisão perpétua sem liberdade condicional. 

"As penas são bastante duras. Não vão sair da prisão de imediato. Vamos comemorar. Sinto um grande alívio", comentou Sophie, uma sobrevivente da casa de shows Bataclan, ao sair da sala com lágrimas nos olhos.

O principal acusado ouviu impassível e de braços cruzados o veredito, que o presidente do tribunal, Jean-Louis Périès, leu em menos de uma hora no Palácio da Justiça, em Paris.

Abdeslam recebeu a maior pena, aplicada apenas quatro vezes na França, apesar dos esforços de sua defesa em apresentá-la como uma "pena de morte social" e garantir que ele desistiu de detonar os explosivos que carregava junto a seu corpo na noite do ataque. 

"Não sou um assassino e se for condenado por assassinatos, vocês cometeriam uma injustiça", declarou o francês de 32 anos, que voltou a pedir desculpas aos sobreviventes e parentes das vítimas. 

"A opinião pública pensa que eu estava nos bares, atirando contra as pessoas, que estava no Bataclan. Vocês sabem que a verdade está no sentido contrário", afirmou Absdelam ao tribunal, antes do início das deliberações.

Para a Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT), o principal réu, preso na Bélgica em 18 de março de 2016, quatro dias antes dos atentados contra o metrô e o aeroporto de Bruxelas (32 mortos), tentou ativar seu cinturão de explosivos.

E os cinco magistrados do tribunal parisiense que o julgaram consideraram que o cinturão de explosivos estava "defeituoso", questionando "seriamente" suas declarações sobre uma eventual "desistência".

'Medo do vazio' 
Dos 20 acusados, apenas 14 estiveram presentes. Seis foram julgados à revelia, entre eles cinco dirigentes do grupo Estado Islâmico (EI), dados como mortos, como o belga Oussama Atar, a quem se atribui a ordem de cometer o atentado.

Os sobreviventes e parentes das vítimas, que lotaram a sala, juntamente com jornalistas, durante a leitura do veredito, receberam o mesmo com um misto de satisfação, alívio e medo do vazio: "É um verdadeiro alívio que o processo tenha terminado. Há um medo do vazio hoje, mas é o momento de sair dele. Na próxima segunda-feira retomo o trabalho", disse o sobrevivente Bruno Poncet.

"Vou virar uma enorme página e, depois disso, a vida vai recomeçar. Isso é certo. Haverá um depois", disse antes do veredicto ao jornal Libération Aurélie Silvestre, que perdeu o companheiro no Bataclan e a quem o julgamento lhe permitiu "digerir o drama".

A defesa havia alertado contra uma "justiça de exceção" neste ataque, que deu a volta ao mundo e deixou um rastro de sangue no Stade de France, em Saint-Denis, nos terraços de bares da capital e na casa de shows Bataclan, também em Paris.

"O objetivo de um processo é entender para julgar melhor e delimitar a responsabilidade de cada um e evitar que [este tipo de atentados] se repita", declarou nesta quarta-feira Olivia Renan, uma das advogadas de Abdeslam.

Os atentados aconteceram em um contexto de ataques na Europa, enquanto uma coalizão internacional lutava contra o grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e no Iraque. Milhares de sírios chegavam por sua vez ao continente europeu para fugir da guerra em seu país.

A prisão perpétua "real" é aplicada em pouquíssimos casos na França. Só foi decretada em quatro ocasiões desde que foi instaurada em 1994, para condenados por matar crianças, após estuprá-las e torturá-las.