Baixas temperaturas podem ajudar a diminuir a obesidade, aponta estudo
Pesquisadores das universidades de Cambridge, na Inglaterra, e de Boston, nos Estados Unidos, descobriram que o frio estimula produção de molécula anti-inflamatória
Um estudo realizado em conjunto entre pesquisadores das universidades de Cambridge, na Inglaterra, e de Boston, nos Estados Unidos, apontou que baixas temperaturas podem ajudar a reduzir a obesidade em humanos. As descobertas foram feitas após análises experimentos feitos com camundongos, apontando que o frio estimulou o corpo a produzir uma molécula que reverte a inflamação causada pela obesidade, reduzindo o peso corporal.
“A obesidade induz a uma inflamação crônica, resultando em resistência à insulina e distúrbios metabólicos. A exposição ao frio pode melhorar a sensibilidade à insulina em humanos e roedores, mas os mecanismos não foram totalmente elucidados. Descobrimos que o frio ameniza a inflamação induzida pela obesidade e a resistência à insulina, além de melhorar a tolerância à glicose em camundongos obesos induzidos por dieta”, aponta o estudo.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 13% da população adulta em todo o mundo era obesa em 2016 — 11% dos homens e 15% das mulheres —, com a prevalência global de obesidade quase triplicando entre 1975 e 2016.
A entidade estima, ainda, que 38,2 milhões de crianças menores de 5 anos estejam com sobrepeso ou obesidade, sendo uma “questão fundamental” de saúde pública, uma vez que o quadro pode desencadear um grande número de doenças, de acordo com a OMS.
Liderado por uma série de especialistas, incluindo cientistas do Joslin Diabetes Center, Brigham and Women's Hospital, e pesquisadores das universidades de Cambridge e Boston, o estudo procurou entender melhor as maneiras pelas quais a inflamação crônica de baixo grau pode levar a problemas de saúde relacionados à obesidade.
Estudos anteriores haviam mostrado que a exposição ao frio pode, também, gerar mediadores lipídicos da inflamação na gordura marrom (que tem função termogênica), diferente da gordura branca (tipo que armazena o excesso de energia), que queima lipídios e glicose para gerar calor corporal e nos manter aquecidos.
Neste sentido, a gordura marrom é considerada uma gordura “boa”, e, por esta razão, está no centro de muitas pesquisas sobre obesidade destinadas a converter uma no outra para ajudar a lidar com o excesso de peso corporal e problemas de saúde relacionados à obesidade.
Esta nova análise envolveu camundongos alimentados com uma típica dieta ocidental, rica em gordura, justamente para torná-los obesos. Em seguida, os animais foram expostos a ambientes frios com temperaturas em torno de 4,4°C, e os cientistas descobriram que sua sensibilidade à insulina aumentou, seu metabolismo de glicose melhorou e seu peso corporal também diminuiu.
Em comparação com ratos de controle mantidos em temperaturas neutras, os cientistas encontraram reduções significativas na inflamação. A pesquisa revelou que esses efeitos dependiam da produção de uma molécula natural na gordura marrom chamada Maresin 2.
“Descobrimos que a gordura marrom a produz e que resolve a inflamação sistemicamente e no fígado. Esses achados sugerem um papel anteriormente não reconhecido para o tecido adiposo marrom na resolução da inflamação na obesidade através da produção desse importante mediador lipídico”, disse o coautor Matthew Spite, do Centro de Terapia Experimental e Lesões de Reperfusão do Brigham and Women's Hospital e da Harvard Medical School.
A descoberta se junta a outras sobre como a gordura se comporta em resposta a diferentes temperaturas, como um estudo de 2020, que mostrou como o treinamento intervalado de alta intensidade no frio pode aumentar a queima de gordura em comparação com o treinamento em temperaturas neutras.
“Amplas evidências indicam que a obesidade e a síndrome metabólica estão relacionadas à inflamação crônica que leva à resistência sistêmica à insulina, Então, interromper a inflamação na obesidade pode oferecer terapias promissoras para doenças relacionadas à obesidade”, concluiu o coautor Yu-Hua Tseng, cientista da Seção de Metabolismo e Fisiologia Integrativa do Centro de Diabetes Joslin, em Boston.