Indústria de games cresce no Brasil, e número de estúdios salta 169% em quatro anos
País abriga mais de mil unidades hoje, contra apenas 375 em 2018. Setor movimentou mais de US$ 2 bilhões no ano passado
A indústria brasileira de desenvolvimento de games está em fase de expansão. Driblando o cenário macroeconômico que combina inflação e juros altos, o setor de games brasileiro desponta como hub na América Latina, fomenta novos negócios e amplia suas receitas. Há 1.009 estúdios de desenvolvimento de jogos no país, um salto de 169% nos últimos quatro anos, quando o país abrigava 375 empresas desse tipo.
É o que aponta a 1ª Pesquisa Nacional da Indústria de Games, realizada pela Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais) em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos (ApexBrasil).
Os dados foram divulgados na manhã desta quinta-feira, em painel promovido pela Abragames no BIG Festival, o maior festival de games da América Latina voltado para criação, networking e negócios, que vai até domingo no São Paulo Expo, em São Paulo.
Amadurecimento da indústria
Segundo outro relatório recente do Brazil Games, da ApexBrazil e Abragames, o mercado de jogos eletrônicos no Brasil movimentou US$ 2,3 bilhões em 2021 e a exportação de games chegou a US$ 53 milhões no ano.
Na avaliação de Rodrigo Terra, presidente da Abragames, o crescimento do setor está relacionado com o amadurecimento da indústria no país, tendo a popularização da profissão de desenvolvedor de jogos e a disseminação da cultura gamer contribuído para essa expansão.
Ele ressalta que diferentes áreas - como o setor de educação, saúde, marketing - passaram a entender o game como um formato de trabalho:
— A gente começa a ter um movimento de que fazer jogo não é um hobby, de que pode ser uma profissão e você pode, de fato, criar uma empresa, trabalhar no mercado de jogos e isso ser seu meio de subsistência.
Ele continua:
— A pandemia também jogou no holofote o mercado de jogos e, como a barreira de entrada no mercado é muito baixa, basta você ter um computador para desenvolver jogos pra PC, mobile e console, você consegue começar a aprender a desenvolver para depois empreender.
As desenvolvedoras de games costumam produzir jogos para mais de uma área, diversificando a fonte de receita. Entre as maiores receitas, destacam-se: jogos de entretenimento (76%), jogos educacionais (12%), advergames (6%), treinamento corporativo (4%) e simuladores com uso de hardware específico (1%).
Games para celular
Os dispositivos mobile (38%) são a principal plataforma tecnológica utilizada, seguida dos PCs (20%), consoles (17%), web (13%), realidade virtual/realidade aumentada (9%) e redes sociais (0,4%).
Os principais mercados consumidores das produções brasileiras são Estados Unidos e América Latina, que fizeram negócios com 55% e 53% dos estúdios brasileiros, respectivamente. Em seguida estão Europa Ocidental (49%), Canadá (49%), países de língua portuguesa (41%), Japão (37%) e China (24%).
— O Brasil é a porta de entrada para o mercado de jogos na América Latina, tanto em termos de desenvolvimento [de jogos] como de consumo. Estamos numa posição muito estratégica porque estamos no meio do caminho dos pólos de desenvolvimento, o que dá pra trabalhar com empresas de diversos continentes ao mesmo tempo — avalia Terra.
Além das vendas, a pesquisa revelou que 12% dos estúdios brasileiros possuem representação ou assessoria em outros países, enquanto 9% têm empresa formalizada, 2% contam com escritório local e 2% pelo menos uma unidade de desenvolvimento no exterior.
Descentralização do setor
A pesquisa revela que a região Sudeste ainda concentra mais da metade dos estúdios de desenvolvimento de jogos (57%), seguido do Sul (21%), Nordeste (14%), Centro-Oeste (6%) e Norte (3%).
Segundo os executivos da Abragames, embora este seja o primeiro levantamento que mapeou a distribuição geográfica dos estúdios pelo Brasil, o setor passa por uma descentralização nos últimos anos, com aumento da presença das regiões Sul e Nordeste, ainda que lenta.
Pesquisa divulgada em 2014 intitulada “Mapeamento da Indústria Brasileira e Global de Jogos Digitais”, da Universidade de São Paulo (USP), financiada pelo BNDES, mostrou que somente São Paulo abrigava 36,24% dos 133 estúdios mapeados no período.
De acordo com o levantamento da Abragames e ApexBrazil, há cerca de 12.441 pessoas trabalhando com desenvolvimento de games no país, sendo 29,8% mulheres. Em levantamentos anteriores de 2018 e 2014, essa mesma fatia representava apenas 20% e 15%, respectivamente.
Além disso, 57% das empresas brasileiras afirmam ter uma equipe diversa, com transexuais, idosos, estrangeiros, refugiados, portadores de deficiência, pessoas pretas, pardas ou indígenas.