Inflação na Argentina

Na Argentina, preços saltam quase 20% em uma semana

País afunda ainda mais na crise após troca no ministério, e argentinos correm para comprar eletrodomésticos temendo disparada da inflação

Bandeira argentina - Pixabay

No domingo de manhã, os argentinos acordaram cedo e correram para o supermercado, a padaria, o shopping, onde quer que pudessem se abastecerem com rapidez. O noticiário da noite anterior havia trazido uma bomba: o ministro da economia, Martín Guzmán, havia renunciado de repente. E os argentinos, há muito acostumados ao caos financeiro, sabiam que a crise atual estava prestes a piorar ainda mais.

Antes que a cotação do dólar disparasse assim que os mercados reabrissem, e antes que os varejistas aumentassem os preços, correram para comprar o essencial o mais rápido possível.

Foi uma corrida contra a inflação em um país que já tem uma das taxas mais altas do mundo - 60% ao ano em maio. A taxa de câmbio paralela da Argentina, livre dos rígidos controles do governo, registrava desvalorização de 17% do peso até quinta-feira, o que levou os lojistas em Buenos Aires a colocar cartazes anunciando um aumento de 20% em todos os preços.

Os preços de colchões e bicicletas aumentaram 18% em apenas uma semana, enquanto as TVs custam 13% a mais e telefones celulares tiveram aumento de 8%, segundo dados da consultoria Ecolatina, com sede em Buenos Aires.

"Ninguém tem uma estratégia, estamos apenas vivendo o momento", disse Maximiliano Martinez, gerente de uma pequena loja de eletrodomésticos em uma faixa comercial de Buenos Aires, na tarde de quinta-feira.

Como outros, Martinez aumentou os preços de todos os itens de sua loja – máquinas de café, torradeiras, liquidificadores, fones de ouvido – em 20%. Ele diz que seus fornecedores imediatamente aumentaram seus preços em 35%. E ele está procurando comprar etiquetas de preço digitais porque, segundo ele, ficou difícil acompanhar o constante aumento de preços: "Não consigo mudar todas as etiquetas".

Mesmo em uma economia global abalada pela inflação, a situação na Argentina é extrema. E levanta o temor de que a espiral inflacionária perene do país está entrando em uma nova fase vertiginosa , o que vai piorar a pressão sobre o presidente Alberto Fernández e o sofrimento de uma população que vem perdendo poder aquisitivo há anos.

Guzmán, embora não fosse dos mais queridos de Wall Street, era visto como alguém que garantia o tênue e crucial pacto de financiamento do governo com o Fundo Monetário Internacional.

As reservas de moeda forte do país estão diminuindo. Os títulos da dívida externa, que foi reestruturada em 2020 após um terceiro default neste século, são negociados a meros 20 centavos por dólar. A diferença entre a taxa de câmbio paralela - 295 pesos por dólar - e a taxa de câmbio oficial - 127 por dólar - atingiu níveis não vistos desde o último pânico de desvalorização em 2020.