Artesanato

Vida de artesão; conheça histórias de expositores da Fenearte

Feitos de diversas elementos, o artesanato é o sustento de muitos artesãos no Brasil

O artesanato como fonte de renda - Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

De mãos caprichosas saem lindas peças de artesanato expostas na Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte). Seja de barro, linha, couro, madeira e tantos outros elementos, os produtos são o sustento de muitos artesãos no Brasil.

Segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são 12.074 empreendedores voltados ao artesanato em Pernambuco. No Estado, a renda média desse público é de R$ 81 mil por ano, o que pode representar, por mês, uma média de R$ 6.750.

Às vezes como única renda e, em outras, como complemento considerável de renda, o artesanato é fundamental para a sobrevivência de milhares de famílias. Entre outros caminhos de vendas que são escolhidos pelos artesãos, a Fenearte é uma grande oportunidade que muitos deles enxergam para vender no local, além de receber encomendas para vendas futuras. Ela congrega artesãos de diversas cidades de Pernambuco, vários estados e países.

O barro moldado

Maria da Cruz Santos, conhecida como Maria de Ana. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

As mãos de Maria da Cruz Santos, não conseguem ficar paradas durante uma semana sem lapidar o barro. Conhecida como Maria de Ana, a artesã de 66 anos trabalha fazendo carranca de barro há quase 60 anos, desde os seus 8 anos de idade. Filha da reconhecida Ana das Carrancas, de Petrolina, no Sertão pernambucano, Maria realiza o processo artesanal quase que diariamente. Sua mãe, já falecida, - pioneira na arte da carranca de barro, dando início ao processo na década de 1970 - foi sua grande fonte de aprendizado.

A família cresceu a partir da arte do barro. “Mamãe era muito pobre e a gente levava o barro para vender na feira. Pra mim ela quem deu o pontapé inicial da arte no Sertão, é tanto que foi considerada patrimônio vivo de Pernambuco em 2005. E foi na década de 70 que nossa vida começou a melhorar porque começamos a ser convidadas pra feiras, políticos iam ver nosso espaço de produção, e assim as vendas cresceram. Minha mãe me dizia que daqui era pra tirar o sustento”, contou Maria, orgulhosa da trajetória da sua mãe.

Arte das carrancas no barro de Maria da Cruz Santos. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Mesmo com esse crescimento a partir do artesanato, Ana, na época analfabeta, sempre pediu que Maria estudasse. Maria fez o colegial e depois se formou em Pedagogia. Em 1966, foi para sala de aula ser professora, mas ficava ansiosa pra chegar em casa e trabalhar nas peças de barro. “Já saí da sala de aula porque eu queria ter mais tempo para fazer a carranca, mas a formação foi muito importante porque aglutinei minha renda”, disse Maria.

Em 2000, a família construiu o Centro de Artes Ana das Carrancas, espaço com loja, ateliê e um acervo de Ana, através da Lei Rouanet. Hoje, além do centro, Maria participa de várias mostras, feiras e pedidos de lojistas. Para ela, a Fenearte é a melhor renda do artesanato. “Acho que na Fenearte melhora uns 75% na renda da gente. Tem ano que vendemos todas as peças”, disse Maria, que continua com o desejo de levar para mais lugares do mundo as peças de barro.

O couro do vaqueiro

Irineu do Mestre faz arte do couro. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Foi em Salgueiro, no Sertão de Pernambuco, que começou a história de seu Irineu do Mestre, de 56 anos. Em 1909, seus avôs, Mestre Luiz e Mestre Lino começaram a fazer peças de couro. Depois o conhecimento passou para os pais de Irineu, Zé do Mestre e Dona Toinha, até chegar na sua geração.

“Meus avôs eram sapateiros e disso começou a produzir produtos do couro. Meus pais começaram a fazer indumentárias dos vaqueiros de Salgueiro. Foi quando eu tinha de 6 para 7 anos de idade e também já comecei a fazer. Hoje, faço mais de 200 criações em peças, como chapéus, sandálias, bolsas, e todas as peças usadas no vaqueiro, cavalo e boi”, contou Irineu do Mestre, que disse que sempre viveu do couro, além de ser agricultor em Salgueiro como também fonte de renda.

Peças de couro de Irineu do Mestre. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Na Fenearte, ele participa há 15 anos e é um momento importante de conhecer as pessoas que conversam com ele por telefone para encomendar as peças. “Tenho a Fenearte como o céu do artesanato. Eu me encontro aqui com pessoas de todos os estados do Brasil que me compram e eu entrego via Correios. Além de vender 80% do trabalho que trago para cá, volto com encomenda para três, quatro meses de serviço. Ao longo desses anos, a Fenearte melhorou em 50% a minha renda”, contou Irineu do Mestre.

A linha e a agulha da renascença

Sandra Regina Santos faz renascença. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Pela primeira vez na Fenearte, Sandra Regina Santos, de 46 anos, estava encantada com a grandiosidade do evento. Nascida em Cimbres, distrito de Pesqueira, no Agreste de Pernambuco, Sandra tem orgulho de ser índia Xucuru e ter aprendido com sua mãe a fazer renda renascença. Ela iniciou na arte aos 10 anos de idade e, durante toda a vida, a renascença é sua grande fonte de renda.

“Sou rendeira e filha de rendeira com muito orgulho. E já repassei para as minhas três filhas. A renascença é minha fonte de trabalho, faço a peça que o cliente pedir, seja vestido, blusa, toalha de mesa. Pago as contas de casa, gás, feira, com o dinheiro da renda. Vendo em feira e também para uma loja de Pesqueira. E com certeza a Fenearte vai me ajudar mais esse ano”, disse Sandra.

O segredo da arte da Marchetaria

Antônio Carlos Cordeiro trabalha com a arte da Marchetaria. Foto: Paullo Allmeida/Folha de Pernambuco

Quando o paraense Antônio Carlos Cordeiro, de 59 anos, viajou para morar na Guiana Francesa, em 1985, ele aprendeu uma técnica de arte através da madeira, a Marchetaria. Foram os maçons que o ensinaram a arte. Quando voltou ao Brasil, em 2010, ele ensinou a técnica para seus três irmãos. Foi quando decidiu instalar um ateliê na sapataria de um dos seus irmãos e iniciar uma empresa familiar.

“Depois comecei a procurar mercado para isso e viajar pelo Brasil. No início tinha mercado apenas em Belém e eu tirava entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil por mês. Fui atrás de crescer e hoje estou com peças em vários países do mundo e participo de várias feiras. Já consegui tirar em uma feira R$ 40 mil, em cinco dias. A Fenearte é uma dessas feiras que me proporciona crescimento”, relatou Antônio Cordeiro, que intitula sua empresa como Brigada da Madeira.