Bolsonaristas e integrantes da campanha tentam capitalizar baixa nos preços dos combustíveis
Em peça divulgada nas redes, governadores são envolvidos em falsa narrativa sobre impostos
Sob o comando de Jair Bolsonaro e de olho nas urnas, integrantes do governo e da campanha à reeleição desencadearam uma ofensiva para capitalizar a queda do preço dos combustíveis. A três meses do pleito, a intenção é vincular a baixa de gasolina, diesel e gás ao esforço pessoal do presidente da República, que aparece em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto. Vídeos, montagens e fotos vêm sendo disparados nos últimos dias para cumprir a demanda.
A ofensiva ocorre após uma reunião ministerial, em que Bolsonaro pediu engajamento a ministros para divulgarem as ações do governo. Na quarta-feira, um dia após o encontro, Bolsonaro editou um decreto obrigando a "divulgação transparente dos preços dos combustíveis": os postos de gasolina terão que mostrar, além do preço atual do combustível, qual era o preço no dia 22 de junho — dia em que o presidente sancionou a lei que trata do teto do ICMS para combustíveis.
Como os preços estão sendo reduzidos na maioria dos estados, na prática o decreto serve para vincular essa queda com o limite ao ICMS, defendido por Bolsonaro e criticado por alguns governadores.
Além disso, nos últimos dias, o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, tem se esforçado para divulgar em suas redes a queda nos preços. Na quinta-feira, ele gravou um vídeo em um posto de gasolina em Brasília para mostrar que a gasolina estava custando menos de R$ 6.
"Competição, transparência e trabalho duro, e estamos conseguindo reduzir o preço do combustível. Fiquem com Deus e obrigado a todos que ajudaram", disse o ministro.
Nesta sexta, Sachsida chegou a divulgar um vídeo em que um homem derrama gasolina, em comemoração à redução do preço, que ele atribui a Bolsonaro. Horas depois, no entanto, o ministro apagou a publicação.
Também nesta sexta, o ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten, que tem atuado na pré-campanha de Bolsonaro, publicou em sua conta no Twitter uma música em ritmo de forró que atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a governadores aliados do petista uma resistência à redução do ICMS.
"Se a gasolina não baixou, é porque o Lula manda no seu governador. Bolsonaro fez de tudo para baixar a gasolina, governador de Lula, na miúda e na surdina, não está nem aí para gente, só pensa na eleição. Em vez de baixar o preço, comemora a inflação", diz a canção.
No vídeo, aparecem fotos dos nove governadores do Nordeste, que são apresentados como se não estivessem cumprindo a nova regra do ICMS. A narrativa, porém, é falsa: todos os estados da região anunciaram a diminuição do imposto. Outros integrantes do governo também trataram de repassar o mesmo vídeo por Whatsapp (veja abaixo a peça divulgada).
Coordenador da campanha, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) também publicou no Twitter uma imagem com os preços dos combustíveis e uma provocação aos adversários: “Petista Lixo, por favor, quando for abastecer peçam o preço sem a redução do ICMS, já que seus deputados e senadores votaram contra.” O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) também fez uma publicação no mesmo tom, bem como Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Os estrategistas da campanha definiram que julho é um mês chave para Bolsonaro diminuir a diferença em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto.
Além da queda do preço dos combustíveis, o núcleo político aposta no pacote de bondades que está sendo discutido no Congresso na PEC Eleitoral. A expectativa era que a proposta fosse voltada na quinta-feira pela Câmara, mas o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), adiou a votação para terça-feira por falta de quórum. Agora, o governo concentra esforços para garantir a presença dos deputados e garantir a aprovação do texto que é visto como fundamental para a reeleição de Bolsonaro.