Caso Henry

Em parecer, hospital reafirma que Henry Borel já chegou morto à unidade de saúde

Documento do Barra D'Or rebate argumentação de defesa de Jairinho, que sugere que laceração hepática pode ter sido provocada durante procedimentos de reanimação em atendimento emergencial

Henry Borel e Monique Medeiros - Reprodução/Instagram

Um parecer do Hospital Barra D’Or, reafirma que Henry Borel Medeiros já chegou morto à unidade de saúde, na madrugada de 8 de março de 2021, quando foi levado pela mãe, a professora Monique Medeiros da Costa e Silva, e por seu ex-namorado, o médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Jairinho.

O documento, juntado ao processo em que o ex-casal é réu por torturas e homicídio do menino, no II Tribunal do Júri, rebate a argumentação da defesa do ex-parlamentar, que afirma que o menino chegou vivo ao local e sugere que a laceração hepática pode ter sido provocada durante procedimentos de reanimação no atendimento emergencial.

De acordo com o parecer, assinado pelo médico Daniel Romero Muñoz e ao qual O GLOBO teve acesso, conforme a documentação médica analisada, Henry deu entrada no Barra D’Or às 03h50, “em parada cardiorrespiratória, apresentando trismo (rigidez de mandíbula), cianose central e periférica, palidez cutânea, extremidades frias e cianóticas, sem perfusão periférica e sem pulsos centrais e/ou periféricos”. 

 

 

 

O profissional descreve que as anotações médicas e de enfermagem fazem referência de manutenção das manobras de ressuscitação por 60 minutos, sem qualquer retorno da circulação espontânea durante todo o período em foi assistido, tendo sido declarado óbito e encaminhado o corpo para o Instituto Médico-Legal (IML).

“As fichas de atendimento descrevem a presença de equimoses nos membros superiores, abdome e membros inferiores desde o início do atendimento, não restando nenhuma dúvida sobre a presença de tais lesões anteriormente à admissão hospitalar”, pontua.

Daniel Romero Muñoz ainda refuta o depoimento prestado pelo assistente técnico Sami El Jundi, contratado por Jairinho, no plenário do Tribunal de Justiça, em 1º de junho, quando o profissional apresentou uma radiografia de tórax realizada em Henry nas dependências do Barra D’Or e afirmou que o exame denotaria a “presença de vida durante o atendimento prestado naquela instituição de saúde”

“Importante mencionar que, nas necrópsias de rotina, o ar represado na cavidade pleural (pneumotórax) se perde durante a abertura da cavidade torácica, a menos que se utilizem técnicas especiais de necropsia, tais como realizar o exame dentro d’água ou com o uso de espirômetro. As dificuldades em realizar estas técnicas especiais são utilizadas, inclusive, como justificativa para o uso de exames de imagem na sala de necropsia como método rotineiro. Deste modo, a menos que o IML realize tais procedimentos na sua rotina, o que não é o esperado no Brasil, no exame necroscópico não é, habitualmente, detectado o pneumotórax referido”, escreve o médico.

No documento, Daniel Romero Muñoz explica que a “realização de manobras de ressuscitação cardiopulmonar, ainda que tenha sido feita em indivíduo já sem vida, especialmente quando já existia dano pulmonar (como o verificado no exame necroscópico), pode determinar extravasamento do ar para o espaço pleural, visto que este é insuflado sob pressão positiva nas vias aéreas.

Em crianças, nas quais as paredes alveolares são naturalmente mais frágeis, esta possibilidade assume maior importância, podendo haver rompimento desses alvéolos e consequente pneumotórax pelo barotrauma”.

“(…) a rigidez apresentada na região da mandíbula de Henry já significava a existência de sinais médico-legais de certeza de morte e, ainda que tenham sido realizadas as manobras de ressuscitação cardiopulmonar, não seria esperado que fossem eficazes. Ainda assim, no afã de tentar salvar a vida da criança, a equipe manteve os esforços na realização dos procedimentos recomendados em casos de parada cardiorrespiratória”, ressalta. “Apesar de não constar, no prontuário médico, a descrição de todas as medicações administradas, considerando a presença de sinais abióticos consecutivos de certeza de morte, não era plausível que houvesse alguma resposta à tentativa de terapia instituída”.

Na conclusão, Daniel Romero Muñoz afirma que, diante do exposto no parecer de 20 páginas, “não se pode falar em qualquer relação entre a morte de Henry, constatada no exame necroscópico como tendo sido causada por hemorragia decorrente de rotura hepática, e as condutas adotadas nas dependências do Hospital Barra D’Or, dado que já havia sinais evidentes de que a criança já se encontrava morta quando do seu atendimento”.