Iraniano é condenado à inédita prisão perpétua na Suécia por execuções em 1988
Homem foi considerado culpado de "crimes agravados contra o direito internacional" e de "assassinatos"
A Justiça sueca condenou, nesta quinta-feira (14), um ex-diretor de uma prisão iraniana por seu papel nas execuções em massa de milhares de opositores por parte do regime de Teerã, em 1988 - uma sentença sem precedentes no mundo.
Hamid Nury, de 61 anos, à época procurador-assistente em uma prisão perto de Teerã, foi considerado culpado de "crimes agravados contra o direito internacional" e de "assassinatos", conforme a decisão do tribunal de Estocolmo.
"O acusado, em seu papel de procurador-assistente na prisão de Gohardast em Karaj, perto de Teerã, de maneira conjunta e em conluio com outros, esteve envolvido nas execuções que ocorreram após um 'fatwa' do guia supremo do Irã", o aiatolá Khomeini, afirma a sentença.
A diplomacia iraniana, que criticou repetidamente o processo, exigindo a libertação de Nury, denunciou rapidamente um veredicto "político", baseado em "acusações infundadas e fabricadas contra o Irã".
Embora o acusado ocupasse uma função de subalterno, é a primeira vez que um responsável iraniano é julgado e condenado por estas execuções, cujo principal alvo eram membros do movimento armado de oposição Mujahideen do Povo (MEK).
Os juízes aplicaram a pena pedida pela promotoria. Na Suécia, a prisão perpétua corresponde geralmente a uma pena de quinze anos de prisão.
Iniciado em agosto de 2021, o julgamento tensionou as relações entre Suécia e Irã e levanta preocupações sobre possíveis represálias contra prisioneiros ocidentais mantidos em instalações iranianas. Entre eles, estão dois cidadãos sueco-iranianos condenados à pena de morte.
Grupos de defesa dos direitos humanos estimam que pelo menos 5.000 presos foram executados em 1998 neste sangrento expurgo que teve como principal membros do movimento armado de oposição dos Mujahedines do Povo (MEK). Segundo o MEK, o balanço de vítimas chega a 30.000 pessoas.
Apelação
O massacre foi ordenado após ataques cometidos pelo grupo armado, então aliado do regime iraquiano de Saddam Hussein no final da guerra entre esses países vizinhos.
Ao longo dos nove meses de audiências, Hamid Nury, muitas vezes sorrindo e com gestos teatrais, rejeitou os depoimentos de ex-detentos que o acusaram de ter participado de uma série de acusações.
Nury denunciou um complô montado pelo MEK visando, segundo ele, desacreditar o regime de Teerã.
"A decisão será objeto de recurso", disse à AFP, Thomas Söderqvist, um de seus dois advogados.
O processo deu origem a uma mobilização diária de opositores iranianos próximos aos Mujahideen do Povo que se manifestaram em frente ao tribunal de Estocolmo.
Reunidos novamente nesta quinta-feira, cerca de 300 pessoas receberam o veredicto com gritos de alegria e agitando bandeiras.
As partes civis esperam que o julgamento abra caminho para outros processos contra altos funcionários iranianos.
"Este é apenas o começo da história", disse Reza Fallahi, uma das 46 testemunhas do julgamento, à AFP.
"Isso não é apenas contra Hamid Nury, é uma decisão contra o governo iraniano como um todo", reagiu o advogado das partes civis Kenneth Lewis, na escadaria do tribunal.