POLÍTICA

Em busca da reeleição, Bolsonaro justifica gastança pública: 'Não dá para entregar o tanque cheio'

Presidente promove um pacote de bondades que custará o dobro do orçamento previsto para a Saúde

Jair Bolsonaro - Evaristo Sá / AFP

Numa conversa com um ministro, Jair Bolsonaro usou uma metáfora para justificar a gastança desenfreada às vésperas das eleições. Segundo a lógica do presidente, "não dá para entregar o tanque cheio"

Numa conversa com um ministro, Jair Bolsonaro usou uma metáfora para justificar a gastança desenfreada às vésperas das eleições. Segundo a lógica do presidente, "não dá para entregar o tanque cheio" para um eventual novo governo. Ou seja, o chefe do Executivo entende que, para garantir a sua reeleição, vale a pena esvaziar os cofres públicos, mesmo que esse descontrole orçamentário deixe o país estacionado nos próximos anos.

Em um desespero eleitoral, Bolsonaro promoveu um pacote de bondades que custará R$ 343 bilhões somente neste ano, o dobro do orçamento previsto para a Saúde. Essa conta poderá ficar ainda maior a partir de 2023, quando a indisciplina fiscal cobrará o seu preço, impulsionando a alta do dólar, da inflação, da taxa de juros e do desemprego.

Esse cenário traçado por economistas graduados foi desconsiderado por Bolsonaro em seu discurso ontem no Senado durante a cerimônia de promulgação da PEC Eleitoral, uma gambiarra política que torrará R$ 41,2 bilhões em recursos públicos enquanto os eleitores decidem em quem votar.

Cercado de lideranças do Congresso agraciadas com o orçamento secreto, o presidente deixou de lado os ataques infundados ao sistema eleitoral e fez uma fala ensaiada, com pausas, para deixar claro o seu aceno a dois segmentos em que enfrenta uma alta aversão.

No mesmo dia em que disse que a maioria do público feminino vê motos e armas como "símbolo de machismo", o presidente afirmou que tem um "olhar todo especial para as mulheres do Brasil".

"Esses recursos (da PEC Eleitoral) vão diretamente no bolso na conta dos beneficiários. São 18 milhões de famílias no Auxílio Brasil. E deixo claro, um pouco mais de dois terços, em torno de 14 milhões, são mulheres", disse Bolsonaro.

O índice de rejeição do presidente entre as eleitoras atingiu 61%, de acordo com pesquisa Datafolha divulgada em junho. Não por acaso, em seu discurso no Senado, Bolsonaro relembrou que nomeou recentemente uma mulher para comandar a Caixa Econômica Federal. O banco público era chefiado, até pouco tempo atrás, por um aliado íntimo do presidente que pediu demissão após ser acusado de assédio sexual.

Em tom eleitoral, Bolsonaro ainda fez questão de repetir três vezes a expressão "nosso Nordeste", em referência à segunda região mais populosa do Brasil, onde Bolsonaro amarga um índice de 62% de rejeição.

"A satisfação de visitar o nosso Nordeste é excelente, excepcional. Um carinho inigualável desse povo maravilhoso do nosso Nordeste. Com a chegada da água naquela região, prometida há tanto tempo, reconhecemos cada vez mais que somos realmente bem-vindos", discursou Bolsonaro, após fazer campanha no Maranhão.

Ao promulgar a PEC Eleitoral, deflagrando um vale-tudo orçamentário para vencer nas urnas, Bolsonaro demonstra que só tem uma preocupação nos próximos dias: esvaziar o tanque do governo. Custe o que custar para o país.