Jackson do Pandeiro, a maior verve nordestina do ritmo
Com recém quarenta anos de morte completadas neste mês de julho, artista paraibano mantém insubstituível seu título de "Rei do Ritmo"
À parte da efeméride de datas, discorrer sobre Jackson do Pandeiro é/deveria ser compromisso afeito a qualquer roda de conversa, papo de esquina ou mesa de bar, em prosas que, por óbvio, passariam longe de ser comum, haja vida o quão singular ele era.
A 'conversa' destas linhas se justifica pela ausência há quatro décadas do maior ritmista da música popular brasileira, completada no último dia 10. Era julho de 1982 e àquela altura, com discografia vasta, três décadas de carreira e um Nordeste nacionalizado a partir de sua musicalidade, aos 62 anos de vida a missão do “Rei do Ritmo” se fazia cumprida, perpetuada e inconfundível.
Não é exagero afirmar que outro José Gomes da Silva Filho – nome de batismo do paraibano de Alagoa Grande, que depois surgiria como Zé Jackson, por causa do ator Jack Perrin, para então enveredar a alcunha de “do Pandeiro” - não se faria mais, desde então.
Ao lado de Luiz Gonzaga, embora sem a mesma reverência direcionada ao “Rei do Baião” talvez pela maior popularidade que tinha Seu Luiz - Jackson, cuja figura franzina, tomada por um chapéu de abas curtas usado sempre de lado, segue como nome insubstituível ou como bem disse Silvério Pessoa, “continua sendo uma prateleira indispensável e inesgotável na MPB”.
“Versátil como compositor e instrumentista, grande percussionista, versátil como letrista, um cara que foi responsável por uma narrativa contemporânea de um Sertão, um Agreste, uma Zona da Mata, uma Metrópole pós Luiz Gonzaga – considero este o pai de tudo e Jackson o que praticamente redimensionou todo esse universo do que a gente chama de forró”, complementou Silvério em conversa com a Folha de Pernambuco.
Silvério, que bebeu da fonte de Jackson em 2015 com “Cabeça Feita”, projeto em que o artista paraibano é aclamado em quinze faixas que contemplam a discografia do ritmista e traz à tona com fidelidade melodias em meio à versatilidade típica que lhe era inerente.
“Ele enfatizou a indumentária, a culinária, trabalhou no cinema, na dança e no imaginário, na mística e na religiosidade popular a partir do que hoje chamamos de forró. Quarenta anos de sua ida e presença inesgotável, infinita sempre para todo o Brasil”, reforçou Silvério, influenciado por Jackson tal qual foram/são, entre outros, Elba Ramalho, Lenine, Nação Zumbi, Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo – dupla que cantou no Festival Internacional da Canção de 1972 a embolada “Papagaio do Futuro”. Alceu, tempos depois, chegaria com “Coração Bobo” inspirado pelas estripulias musicais do artista paraibano.
Coco que ditou ritmos
Foi misturando xaxado, embolada, coco, samba, frevo e marchinhas de Carnaval, levados por ele, também, no reco-reco, na gaita, na sanfona e na zabumba, que Jackson do Pandeiro ritmou o mundo, a partir do seu jeito de falar, inclusive.
Com “Sebastiana”, de autoria do compositor pernambucano Rosil Cavalcanti, ele ganhou os holofotes como cantor. Coco – que segundo o próprio, em entrevista à TV Cultura na década de 1980, tudo se resumia ao ritmo “(...) tudo é coco. Se não é coco, é samba” - dotado de ineditismos que posteriormente iriam ditar o futuro de outros ritmos Nordeste afora. “O Canto da Ema” e “Chiclete com Banana” também integraram as interpretações de Jackson.
“Falar de Jackson é falar de alegria, de ritmo, é o Rei do Ritmo que levou a música da gente para o mundo inteiro, com simplicidade. A arte dele é muito forte no ritmo (...) eu me inspiro nele, pela simplicidade que ele tinha e que eu também carrego. Sou muito fã dele, ele influenciou muito no meu samba de latada”, enalteceu Josildo Sá, outro nome forte da cultura pernambucana que bebeu da fonte de Jackson do Pandeiro, nome que segue como o maior, em se tratando da verve nordestina e ligeira.