Presidente ucraniano destitui procuradora-geral e chefe de Segurança
Ação de Zelensky ocorreu em meio a uma onda de suspeitas de traição de funcionários a serviço da Rússia
A Ucrânia enfrenta, neste domingo (17), um abalo administrativo pela decisão do presidente, Volodimir Zelensky, de destituir a procuradora-geral e o encarregado da agência de Segurança do país em meio a uma onda de suspeitas de traição de funcionários a serviço da Rússia.
"Hoje tomei a decisão de exonerar de suas funções a procuradora-geral e o encarregado da agência de segurança da Ucrânia" (SBU), afirmou Zelensky em sua mensagem diária à nação.
Os funcionários sancionados são a procuradora-geral, Iryna Venediktova, encarregada das investigações sobre as atrocidades cometidas contra civis durante a ocupação russa da cidade de Bucha, na periferia de Kiev, e do chefe do serviço de Segurança, Ivan Bakanov.
Zelensky disse que são investigados cerca de 650 casos de possível traição, ajuda e cumplicidade com a Rússia entre funcionários de segurança ucranianos.
Em seu pronunciamento vespertino, Zelensky também falou do poderio militar devastador que Moscou usou contra a Ucrânia, e disse que as forças russas dispararam mais de 3.000 mísseis de cruzeiro contra alvos na Ucrânia no domingo.
"Preço alto"
A guerra, iniciada em 24 de fevereiro, já teria custado à Rússia a perda de 50.000 homens entre mortos e feridos, e milhares de tanques, disse à BBC o chefe de Estado-maior das Forças Armadas britânicas, almirante Tony Radakin.
Mas, apesar das baixas, as forças russas continuam bombardeando localidades no leste e no sul da Ucrânia.
Na madrugada de domingo, os mísseis atingiram Kharkiv, segunda cidade da Ucrânia, no nordeste. Também foram registrados vários "bombardeios maciços" em Mikolaiv (sul), perto do Mar Negro, informou o governador regional, Vitaliy Kim.
Donetsk também foi alvo dos "russos, (que) continuam bombardeando infraestruturas civis", disse o governador da região, Pavlo Kyrylenko.
Neste contexto, os ministros da União Europeia (UE) vão avaliar nesta segunda-feira várias propostas, entre elas uma da Comissão, que recomenda proibir a compra de ouro da Rússia e, assim, alinhar as sanções com seus parceiros do G7.
Outra propõe adicionar novas personalidades russas à lista de sancionados da UE.
"Moscou deve continuar pagando um preço alto por sua agressão", disse na sexta-feira a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.
A guerra na Ucrânia completará cinco meses em 24 de julho, mas até agora não há um número oficial de vítimas civis.
Segundo a ONU, cerca de cinco mil pessoas morreram, entre as quais mais de 300 crianças, mas é provável que o número real seja muito maior.
Só na cidade de Mariupol (sudeste), que caiu em maio após um cerco terrível, as autoridades ucranianas registraram 20.000 mortos.
Fim de semana tenso
Em um fim de semana marcado pela tensão, neste domingo (17), a polícia russa deteve a jornalista Marina Ovsyannikova, de 44 anos, que em março interrompeu a transmissão ao vivo de uma emissora para denunciar a ação militar na Ucrânia, informou seu advogado, embora não se conheça um comunicado oficial do Kremlin.
No sábado (16), o operador ucraniano de energia nuclear acusou as forças russas de mobilizar lança-mísseis na usina nuclear de Zaporizhzhia, uma área que está sob controle russo desde março.
"A situação [na usina] é extremamente tensa e a tensão aumenta a cada dia. Os ocupantes estão trazendo seu maquinário, inclusive os sistemas de mísseis com os quais têm atacado o outro lado" do rio Dnipró e "o território de Nikopol", 80 km a sudoeste de Zaporizhzhia, informou Petro Kotin, presidente da companhia nuclear ucraniana Energoatom, no Telegram.
Cerca de 500 soldados russos permanecem no recinto da usina e a mantêm sob seu controle, assegurou.
Atualmente, o grosso dos combates ocorre no sul e na bacia mineradora e industrial do Donbass, no leste, parcialmente ocupada por separatistas pró-russos desde 2014.
As forças separatistas acusaram o exército ucraniano de ter disparado 60 foguetes contra um bairro de Donetsk.
"Atingiram edifícios residenciais", disseram, publicando imagens de prédios reduzidos a escombros, sem informar sobre vítimas até o momento.
Na sexta-feira (15), as forças separatistas afirmaram que estavam se aproximando de seu alvo seguinte, Siversk, depois de terem assumido o controle das cidades irmãs de Lysychansk e Severodonetsk, cerca de 30 km a leste.
Segundo o Ministério da Defesa britânico, "as forças russas avançam lentamente para o oeste, após bombardeios e ataques em direção a Siversk a partir de Lysychansk, para abrir uma via para Sloviansk e Kramatorsk".
O Ministério da Defesa russo, por sua vez, afirmou, neste domingo (17), que tinha destruído um "depósito de mísseis antinavio Harpoon entregues à Ucrânia pela Otan" em Odessa, no sul, às margens do Mar Negro.
A Ucrânia negou e disse que Moscou havia destruído o "armazém" de uma empresa sem vínculos com o meio militar.