Lisca deixa Sport e assume comando do Santos; presidente leonino diz que treinador foi antiético
Técnico ficou no clube menos de um mês, comandando o Leão em apenas quatro jogos, com saída tumultuada
"Demorei 10 anos para estar aqui, mas eu cheguei", disse o técnico Lisca, na Ilha do Retiro, à torcida do Sport, nos primeiros dias de trabalho. Frase que poderia significar o início de uma lua de mel com os rubro-negros. Porém, o que era aguardado há uma década terminou em menos de um mês. Em 23 dias, o comandante fez quatro jogos pela equipe na Série B. Só venceu um e empatou três. No estádio rubro-negro, foi da euforia - com direito a subir no alambrado - aos xingamentos dos leoninos, após a notícia de que o comandante estaria negociando com o Santos. Ele negou inicialmente, mas no dia seguinte a saída foi selada. A oficialização partiu do presidente leonino, Yuri Romão, que não poupou críticas à postura do agora ex-funcionário da instituição. "Atitude antiética", citou.
“Ontem à noite, pouco antes do início da partida contra o Vila Nova, eu, juntamente com o vice-presidente, Augusto Carreras, fomos pegos de surpresa com uma avalanche de ligações de jornalistas do Sul perguntando pela saída do nosso treinador. Ao final do jogo, fomos até a sala para conversar com ele, saber da veracidade da informação”, iniciou o presidente.
“Dentro da conversa, ficou claro que estava sendo criada uma narrativa para o clube demitir o treinador. Ele alegou que a torcida do Sport havia o demitido, dizendo que não tinha mais clima para que ele ficasse. Não tivemos atitude com relação a isso porque ela oneraria muito o nosso clube. Todo contrato sempre tem uma cláusula de rescisão. Não poderia jamais inverter essa posição, onerando ainda mais nossa situação financeira. Tudo isso denota uma atitude antiética por parte do treinador. Quando fomos contratá-lo, ele fez questão de conversar comigo por vídeo, porque eu não estava no Brasil na data. Falamos do projeto de chegar à Série A. Inclusive, dele permanecer após o acesso. Hoje, recebemos o comunicado oficial em que ele pede demissão do Sport. Já estamos atrás de treinador e reforços para o nosso clube”, completou.
O presidente também se defendeu das declarações de Lisca, que afirmou ter sido ‘demitido’ pela torcida do Sport, após os protestos que presenciou na Ilha do Retiro. Além disso, deixou claro que o Leão não abre mão de receber a multa rescisória pela saída.
“Nossa torcida o abraçou desde o primeiro momento. Mas, antes da partida, em tom enigmático, o próprio profissional deu todas as características que iria deixar o clube. Logicamente, a nossa torcida teve a insatisfação e se manifestou contra. Dizer que nossa torcida é culpada não é justo, correto, não faz parte do profissionalismo do Sport. Com relação à rescisão, o Sport não abre mão da multa rescisória. Estamos aguardando que o clube (Santos) ou ele (Lisca) nos procure para tratar da multa. Também quero dizer que não houve perseguição a qualquer familiar da comissão técnica. Observamos as câmeras de segurança do nosso clube e não há registro de agressão. Estão criando uma narrativa antiética, que não combina com a atual gestão, que recebeu a comissão técnica de forma respeitosa. Ele deveria ter a hombridade de nos procurar e dizer a verdade. Ele faltou com a verdade. Comigo, diretoria, instituição e torcedor. No quesito respeito e ética, ele está do outro lado do alambrado. Ele pulou o alambrado”.
Entenda
Minutos antes do jogo do Sport contra o Vila Nova, na Ilha do Retiro, pela Série B, jornalistas de São Paulo cravaram o acerto do treinador com o Santos. Lisca foi questionado à beira do gramado sobre a situação. “Depois do jogo, falo”, frisou. Ele xingado por boa parte da torcida. Atiraram bebida no treinador. O clima na Ilha estava tenso. Após o duelo, na entrevista coletiva, o técnico deu sua versão - um tanto contraditória em algumas partes.
“Sou treinador do Sport. Estou aqui falando pelo Sport. Tem alguma declaração de dirigente do Santos? Minha? Do meu agente? Não é verdade. Saiu uma notícia durante um jogo. Eles (jornalistas) criaram esse clima. O amor e o ódio ficam próximos. Imagina a torcida ver uma notícia de que o treinador está saindo? Eu também ficaria chateado. Infelizmente, eles se voltaram contra mim e vou respeitar a manifestação que eles tiveram. Mesmo que, hoje, eu tenha sido ‘demitido’ pela torcida do Sport”, afirmou.
Minutos depois, contudo, Lisca foi enfático: o fato de ter negado acerto com o Santos não significava que ele continuaria no clube pernambucano. “Não garanto (permanência). Tem treinadores que recebem propostas e aceitam. Outros são demitidos. Faz parte do mercado. Sempre avalio quando chega proposta. Desde que cheguei aqui, recebi três propostas para sair. Nenhuma delas foi do Santos. Quero ver se, quando chegar em casa, vai ter essa proposta. Se tiver, vou avaliar”, apontou, na ocasião. Ele avaliou, aprovou e deixou o Sport.
Lisca estreou no Sport com um empate em 0x0 com o Vasco, no Maracanã. Em seguida, venceu o Londrina por 2x0, na Ilha do Retiro. Depois, novos empates sem gols, contra Operário/PR (Germano Kruger) e Vila Nova (Ilha). Aproveitamento de 50%. O Leão é o quinto da Série B, com 27 pontos.
Mais curto do século
No século atual, desconsiderando o trabalho de interinos e treinadores de base que assumiram momentaneamente o Sport, Lisca foi o treinador com a passagem mais curta no clube. O agora ex-comandante leonino superou a marca de Edinho Nazareth, que ficou à frente dos rubro-negros, na Série B 2005, por apenas 27 dias, disputando também quatro partidas, com duas vitórias e duas derrotas.