Três procedimentos custaram R$ 28 mil a paciente mantida em hospital por cirurgião preso
A vendedora Daiane Chaves Cavalcante, de 35 anos, que teria sido mantida em cárcere privado pelo médico Bolívar Guerrero Silva, fez abdominoplastia, glúteos e seios
Moradora da comunidade Rocinha, na Zona Sul do Rio, a vendedora Daiane Chaves Cavalcante, de 35 anos, teria pago R$ 27.800,00 por três procedimentos no Hospital Santa Branca, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ela continua internada na unidade, em estado grave, pois teria sido mantida em cárcere privado por dois meses no local pelo cirurgião plástico equatoriano Bolívar Guerrero Silva, de 63 anos, preso na última segunda (18). As primeiras operações às quais Daiane foi submetida foram abdominoplastia e glúteos. Mas, posteriormente, teria sido convencida por Bolívar a fazer os seios. A informação é da defesa da paciente.
De acordo com a defesa, o montante era oriundo de uma poupança que ela tinha feito durante a vida. Mãe de dois filhos, a família diz que a mulher está em estado grave e precisa ser transferida imediatamente.
— Neste momento é a vida em primeiro lugar. Depois vamos pleitear outra reparação. A Daiane pagou R$ 27.800,00, da reserva da vida. Ela fez a abdominoplastia e bumbum num primeiro momento. Ele a liberou 24 horas depois e ela voltou mais três vezes por conta dos problemas. Na quarta vez ela não aguentou mais andar e voltou a ser internada. Mesmo assim, depois de todos os problemas, ele a induziu a fazer os seios. Em seguida, ele fez uma âncora, uma cirurgia reparadora e piorou ainda mais a situação — conta Ornélio Mota Rocha, advogado da vendedora.
Apaixonada pelos filhos, a vendedora não os vê há cerca de dois meses, período em que foi até o hospital por complicações em uma das cirurgias, foi internada e não saiu desde então. Nessa terça-feira (19) a defesa de Daiane pediu no Fórum de Duque de Caxias o bloqueio parcial dos bens do Hospital Santa Branca para custear o tratamento da vítima em outra unidade particular.
Os advogados do Hospital Santa Branca destacaram que “a unidade nunca praticou nenhum ato contra a saúde da paciente, ou qualquer ilegalidade”. A defesa do hospital explicou que “está interessada em resolver o problema”. O GLOBO não conseguiu localizar a defesa do médico.
Na manhã desta quarta-feira, mais uma mulher, que diz que operou com Bolívar, apareceu na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) de Caxias para registrar boletim de ocorrência contra o cirurgião. A operação aconteceu em 2020 e a cabeleireira disse que pagou R$ 21 mil pelo conhecido “X-tudão”: quando são feitos seios, glúteos e abdominoplastia.
— Conheci o Bolívar pelas redes sociais. Ele é muito conhecido né. Eu fiz mama, barriga e bumbum. Eu disse que estava uma porcaria depois. Deu uma bolha e ele abriu seis meses depois. A gente faz uma operação para a autoestima. Eu não quis mais voltar lá porque ele acabou com o meu sonho. Ele não dá atenção suficiente. Não foi barato — conta a cabeleireira, de 40 anos, que mora em Madureira, e não quis se identificar.
— Ele tem que pagar. Nós mulheres temos sonhos e pessoas destróem. Não foi de graça. Eu paguei. No começo ele te trata com carinho e depois ele destrata. Eu tinha um sonho de ter um corpo legal. Meu corpo está deformado. Meu peito está deformado. Eu não tenho coragem de andar com biquíni. Não tenho coragem de ir à praia — conta a mulher que se diz vítima.
Ela diz que a operação aconteceu em 10 de outubro de 2020. E seis meses depois ela começou a sentir e ver problemas. Só agora, após a repercussão do caso da vendedora Daiane, que ela resolveu denunciá-lo.
— Eu paguei R$ 1.000,00 na primeira parcela, que é em um carnê. Mas decidi juntar um dinheiro e paguei R$ 18.500,00 à vista. No dia da cirurgia eu paguei mais R$ 2.500,00 da anestesia — conta.