Polícia investiga se paciente com óbito atestado por Covid na verdade morreu após plástica
Dona de casa fez cirurgia em agosto do ano passado e teve complicações após voltar para casa, em Belford Roxo
A Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam) de Duque de Caxias vai investigar o que causou a morte da dona de casa Rafaela de Souza Ferreira, de 24 anos, no Hospital Santa Branca — que tem como sócio o médico Bolívar Guerrero Silva — em 3 de outubro de 2021.
De acordo com parentes da mulher, que procuraram a especializada na manhã desta quarta-feira (20) para denunciar o cirurgião plástico, ela morreu depois uma cirurgia de implante de silicone e uma abdominoplastia malsucedida. Entretanto, na certidão de óbito, a unidade de saúde destaca que a mulher morreu por insuficiência respiratória aguda decorrente da Covid-19.
Segundo a família, Rafaela, que morava em Belford Roxo e deixou dois filhos , fez o procedimento em agosto do ano passado e, dois meses depois, morreu na unidade. Ela teria feito as cirurgias estéticas com o médico Bolívar Guerrero. O que chamou a atenção dos familiares foi a recusa do hospital em deixar a mulher ficar com acompanhante. Após sua morte, a unidade custeou todos os gastos. O corpo da vítima foi enterrado no Cemitério Memorial, em Cordovil.
— Ela fez uma cirurgia estética: colocou silicone e fez abdominoplastia. Após a cirurgia, que aconteceu em 28 de agosto do ano passado, a minha sobrinha começou a sentir muitas dores. Ela voltou para casa, ficou alguns dias e foi para o hospital tirar os pontos. Ela ficava muito cansada e não aguentava se locomover. Alguns dias após retirar os pontos, voltou para o hospital. Nesse período, a gente não podia vê-la, só podia falar com ela por telefone. Eles alegavam que não podia ter acompanhante porque era maior de idade. Não podia ter visita nenhuma. Ela falava que era para a gente tomar conta dos filhos dela, porque achava que ia morrer — conta a empregada doméstica Janes Nunes Ferreira, de 52 anos, tia de Rafaela.
De acordo com familiares de Rafaela, ela morreu 15 dias após sua internação. A mãe da jovem, Janaína de Souza Ferreira, morreu dois dias antes, segundo a família, por não aguentar ver o estado de saúde da filha.
— A mãe dela morreu por não aguentar a filha naquele estado. A Janaina morreu na sexta e a minha ex-nora morreu no domingo. Ela deixou dois filhos, um de 7 anos e outro de 4 — conta Andréia Dias Machado, de 45 anos, ex-sogra da jovem, que também esteve na Deam de Caxias.
Questionada porque só agora registraram o caso, Andreia diz:
— Não tivemos força naquela época para registrar o caso. Agora, após as denúncias contra esse médico, viemos aqui denunciá-lo. Os filhos dela perguntam "cadê a mãe?". Não sabemos o que falar. Nós não vimos como ela estava, porque eles impediam. Ela reclamava de sair muita secreção na barriga. Toda mulher sonha ter um corpo perfeito. A sociedade cobra isso. Por isso ela fez.
A morte teria sido as 10h59 do dia 3 de outubro. No mesmo dia, a jovem foi sepultada. Quem pagou os custos foi o Hospital Santa Branca, segundo a família.
— Ela morreu no dia 3 de outubro e no mesmo dia o hospital mandou enterrá-la. Eles pagaram tudo. Achamos estranho o hospital pagar tudo. Eles disseram que ela teve insuficiência respiratória por conta da Covid. Mas, a minha sobrinha não tinha a doença — lembra Jane. — Ele é um monstro. Aquilo é um hospital dos horrores. Eles matam as pessoas. Agora, que viemos na TV, tomamos coragem pra denunciar
A ex-nora de Rafaela vai na mesma linha de Jane:
— O que achamos estranho era o hospital pagar por sepultamento. Acreditamos eles pagaram tudo porque tinha alguma coisa de errado e queriam esconder. Se fosse Covid, seria fechado. Ninguém pôde ver o corpo no IML.
A delegada Fernanda Fernandes, titular da Deam de Caxias, afirmou que o caso foi registrado nesta quarta-feira (20) e que tudo o que foi cabível e mais urgente para a elucidação do caso será feito.
— Vamos realizar diligências para apurar essa morte. O fato foi registrado hoje (quarta-feira). Vamos pegar o prontuário dela para saber o que aconteceu. A partir daí, vamos ver quais as principais diligências a serem tomadas. Uma delas é intimar a médica que atestou o óbito para prestar depoimento. Queremos saber quais foram os procedimentos adotados com o corpo após a morte dessa vítima — destacou Fernanda.
O Globo tem tentando falar com a defesa do médico Bolívar Guerrero. Sua advogada não tem atendido as ligações. Em resposta aos questionamentos do Globo sobre essa paciente, a defesa do Hospital Santa Branca disse que vai apurar o caso.