Partido de extrema direita da Espanha usou quase 100 mil euros na produção de filme contra Lula
Segundo 'El País', o Vox arrecadou meio milhão de euros em subsídio do fundo do Ministério da Cultura, parte usado para custear o curta que tem a participação de Eduardo Bolsonaro
O presidente do partido de extrema direita Espanhol Vox, Santiago Abascal, usou quase € 100 mil (mais de R$ 560 mil) de recursos do Fundo do Ministério da Cultura para financiar a produção de um documentário contra o ex-presidente Lula (PT), de acordo com reportagem do jornal espanhol "El País".
O curta "Desenmascarando al Foro de São Paulo", de 2021, tem como um de seus principais protagonistas o filho do presidente Jair Bolsonaro (PL) e deputado por São Paulo, Eduardo Bolsonaro (PL), que ataca diretamente o rival do pai.
No documentário, Eduardo Bolsonaro aparece dizendo:
— Estão falando na rua que Lula é livre, [que] é perseguido politicamente, quando sabemos que ele é o protagonista do maior escândalo de corrupção da história do Brasil.
O documentário alterna imagens históricas com entrevistas de líderes do Vox e seus aliados, incluindo o próprio Abascal, que em julho do ano passado criou a sua própria fundação, intitulada “ Disenso” — que já recebeu cerca de € 92 mil euros em ajudas públicas, o equivalente a mais de 500 mil reais, e espera obter outros € 112.342, ainda este ano.
O Vox já havia proposto acabar com os chamados "gastos políticos" e conseguiu que a junta de Castilla y León, região no noroeste da Espanha, reduzisse em 50% os subsídios aos empregadores e sindicatos, mas não renunciou a nenhuma das ajudas públicas correspondentes ao partido. O principal deles, arrecadado até agora, foi concedido em novembro do ano passado pelo Ministério da Cultura, num pacote de meio milhão de euros.
Segundo o Disenso, esse subsídio público teria sido usado para financiar o documentário contra o Fórum de São Paulo, plataforma que reúne partidos de esquerda latino-americanos, de social-democratas e comunistas, com o objetivo de promover “ estudos e desenvolvimento de atividades políticas, sociais e culturais”.
O documentário, entretanto, não só ataca Lula e outros partidos da esquerda latino-americana, mas também o "Podemos" e o governo de Pedro Sánchez, líder do Partido Socialista Operário Espanhol (Psoe), que faz parte da coalizão de esquerda "Unidas Podemos", que tem o apoio de várias outras siglas pequenas regionais e nacionalistas, também atacada por Eduardo Bolsonaro:
— Tenho certeza de que os espanhóis vão mudar de posição e tirar os socialistas do poder porque, se não o fizerem, a Espanha será a próxima Venezuela”, diz Eduardo.
O filho de Bolsonaro não é o único que ataca Lula no documentário do Vox. A escritora cubana Zoé Valdés declara que:
— Lula se tornou o que já sabemos hoje que ele é: um homem corrupto.
A política venezuelana María Corina Machado disse que "vários membros do Fórum de São Paulo foram processados por corrupção, como o ex-presidente brasileiro Lula da Silva". Já o jornalista peruano Aldo Mariátegui garante que as construtoras brasileiras fizeram um pacto com Lula para "distribuir propinas, subornos, por toda parte".