Criminosos no Alemão estavam com roupas similares às das polícias, diz comandante do Bope
Há pelo menos 400 policiais participando da ação. Número de mortos subiu para cinco, contando com três suspeitos também baleados, segundo porta-voz da PM
Durante coletiva sobre a ação no Complexo do Alemão, representantes das Polícias Militar e Civil lamentaram a morte do cabo Bruno Costa e de Letícia Marinho Salles, de 50 anos, que morreram durante os confrontos. Segundo o tenente-coronel Uirá Nascimento, comandante do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), criminosos usavam roupas parecidas com as das políciais do Rio:
"O Bope, juntamente com a Core, e com o apoio final da PRF, fizemos a ação de hoje. Tínhamos informações de inteligência de que aquela quadrilha pudesse fazer movimentações criminosas, e agimos de forma muito rápida. Criminosos estavam com roupas similares às das polícias para cometer atentados dentro da nossa cidade, como roubos a instituições financeiras e invasão a comunidades rivais", afirmou o comandante do Bope.
"A reação da polícia depende da ação dos criminosos. Desde o início, quando chegamos, havia várias barricadas com fogo. Nossas equipes foram violentamente atacadas. Há registros inclusive de tiros traçantes em direção a aeronaves. Em razão disso, a polícia precisa agir para proteger as próprias vidas e a sociedade ", completou o Delegado Fabrício Oliveira, titular da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core).
No início desta tarde, segundo o porta-voz da PM, tenente-coronel Ivan Blaz, três suspeitos também morreram durante a ação. Ao longo do dia a Defensoria Pública do Rio divulgou uma lista com 15 pessoas que teriam morrido durante a ação. No documento há o nome de 12 mortos, a menção de três homens sem identificação e duas pessoas feridas. O nome do cabo Bruno Costa, morto durante os confrontos, não foi citado.
De acordo com as secretarias de Saúde, cinco mortos estão na UPA do Alemão e dois no Hospital Estadual Getúlio Vargas, o que aumentaria o número de óbitos comunicados pela PM para sete. Embora ainda não tenham sido identificados pela polícia, mais três corpos chegaram à UPA no início desta tarde.
Com os nomes já identificados no Hospital Getúlio Vargas, o número de mortos na operação, somando a lista enviada pela Defensoria Público, chegaria a 17.
"Oficialmente temos cinco mortos: um PM, uma vítima e três criminosos", disse o porta voz da PM.
No local acontece uma ação da PM em conjunto com a Polícia Civil para combater o roubo de veículos, de carga e a bancos. Equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) estão na ação. Há pelo menos 400 policiais, com apoio de quatro aeronaves e de 10 veículos blindados. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) também participa da operação.
Em nota divulgada no fim da tarde desta quinta-feira, a Polícia Rodoviária Federal disse que foi procurada para participar, mas por ter parte do seu armamento acautelado para perícia após a operação da Vila Cruzeiro, apenas prestou apoio após ter sido acionada às 11h.
"Cumpre ressaltar que não houve nenhuma ocorrência relevante envolvendo a Polícia Rodoviária Federal na citada operação e que, por volta das 15 horas, após concluída a extração das equipes, a PRF retornou para base."
Os agentes também atuam nas comunidades do Juramento e Juramentinho, nos bairros de Vicente de Carvalho e Tomás Coelho. As equipes são lotadas no 3º BPM (Méier), no 41º BPM (Irajá) e em outros batalhões do 2º Comando de Policiamento de Área (Zonas Norte e Oeste do Rio).
O Ministério Público do Rio afirmou que foi informado de que a polícia faria uma operação no Alemão na madrugada desta quinta-feira e que acompanha a ação desde cedo para avaliar possíveis casos de violência e abusos de autoridade durante a ação dos policiais.
Conhecido como “matador de policiais” no estado do Pará, Hideraldo Alves, de 27 anos, deu entrada na UPA do Alemão com a identificação de Adriano Castro Pires, ferido a tiros nas pernas. Com mandado de prisão em aberto, “Esquilo”, como é chamado, está sob custódia da Polícia Militar e permanecerá preso.
Letícia Marinho Salles, de 50 anos, foi uma das vítimas da operação no Alemão. Ela era mãe de três filhos, moradora do Recreio dos Bandeirantes e estava desempregada. Segundo o namorado Denilson Glória, Letícia enterrou a mãe há uma semana.
"Estou desnorteado. A mãe dela acabou de morrer por velhice, foi enterrada na semana passada. Hoje aconteceu isso. Ela estava na minha casa, na Penha, e nós viemos para cá (Alemão) tomar café na minha tia. Nessa hora não estava tendo tiroteio. Nós paramos em um sinal e logo depois meu carro foi alvejado. Ela foi atingida no peito" contou.
Técnica de enfermagem registrou ocorrência: Presidente do Conselho de Medicina do Rio é indiciado pela polícia por assédio sexual
O rapaz afirma ainda que quem atirou na vítima foi um policial militar.
"Só tinha polícia na hora. Estavam a sete metros da gente. Tinha uma policial em um carro descaracterizado do nosso lado. Ela botou a arma para fora e começou a discutir com os agentes depois que a Letícia foi baleada".
O homem continua relatando que após o ocorrido, levou a vítima para UPA do Alemão, mas ela já chegou morta.
"Não teve o que fazer. Agora é aguardar a liberação do corpo para enterrar".
Segundo a PM, os três suspeitos foram encontrados já mortos. Foram apreendidas uma metralhadora 50 (capaz de derrubar helicóptero), quatro fuzis e duas pistolas. Na comunidade Favela da Galinha, próximo ao Alemão, quatro homens em fuga foram detidos.
Em nota, a PM afirma que informações dos setores de inteligência "apontam a presença de criminosos da região do Complexo do Alemão praticando roubos de veículos principalmente nas áreas dos bairros do Grande Méier, Irajá e Pavuna". Esses criminosos seriam responsáveis pelos "roubos a bancos como aqueles que ocorreram no município de Quatis, em Niterói e na Baixada Fluminense, e roubos de carga, além de planejar tentativas de invasão a outras comunidades", segundo a corporação.
Parentes de Charles dos Santos de Paula, de 32 anos, baleado durante operação policial no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio, questionam o atendimento recebido por ele. Segundo a família, o homem deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da região ainda no início da manhã, mas, por volta 17h, ainda aguardava transferência para um hospital. Funcionários teriam alegado que não havia ambulância ou escolta disponível para encaminhar o paciente a outra unidade de saúde.
Ainda de acordo com os parentes, Charles foi atingido nas duas pernas, na altura da canela, além de um ferimento de raspão na cabeça. Ele terá de passar por cirurgia.
"Já falei com a assistente social várias vezes, mas não resolvem. Ele está largado lá dentro, perdendo sangue, a própria equipe daqui disse que é uma situação de risco. A gente entende o momento, a tensão, mas ele está às traças. Já se passaram várias horas, e não deram nem remédio para dor. Ele está se contorcendo. Não se trata nem bicho assim", reclama Adriana Ribeiro, de 38 anos, prima de Charles.
A própria família reconhece que o paciente já teve envolvimento com o tráfico de drogas no passado, mas afirma que, hoje, ele não possuía mais ligação com o crime. Atualmente, Charles está desempregado.
"Mas essa não é nem a questão. Desse portão para dentro, ele é um paciente como qualquer outro, e precisa de cuidados. É só isso que a gente pede", diz Adriana.
Moradores não podem sair de casa
Nas redes sociais há relatos de que criminosos estariam atrapalhando o trabalho da polícia colocando fogo em barricadas e jogando óleo na via. Há pelo menos 400 policiais participando da operação.
Moradores relatam que a situação é tensa na região. Há pessoas tentando se esconder dentro de casa para fugir de disparos:
"Tô falando com a minha mãe, ela disse que se escondeu no meu antigo quarto (cômodo mais seguro da casa) e tá rezando pra ninguém tentar entrar lá. E eu tô aqui em casa desesperada enquanto ela demora a me responder", escreveu uma moradora da comunidade no Twitter.
Na mesma rede, uma outra moradora disse que a casa da mãe foi atingida por disparos e que não é possível deixar o imóvel devido ao conflito, que segue desde o início desta manhã.
"Essa guerra não é nossa. Minha mãe está com a casa toda furada de tiro e presa lá dentro sem poder sair. Nós do Complexo do Alemão só queremos paz", destacou.
O Centro de Operações Rio informou, por volta das 13h10, que a Estrada do Itararé está fechada, em ambos os sentidos, entre a Avenida Itaoca e a Rua Paranhos devido à operação policial. As linhas de ônibus que passam pela região também tiveram alteração no trajeto (veja o que muda abaixo).
Um PM morto e outro ferido
O cabo da PM Bruno de Paula Costa, de 38 anos, foi baleado no pescoço durante a operação. Socorrido pelos colegas de farda para o Hospital estadual Getúlio Vargas, na Penha, ele já chegou morto na unidade. Na corporação desde 2014, atualmente, estava lotado na UPP Nova Brasília. O PM estava na base onde houve o ataque. Abalados, familiares do militar estiveram na unidade de saúde e não quiseram falar. Ele era casado e deixa dois filhos portadores de espectro de autismo.
Outro policial militar que deu entrada na unidade foi o PM Sérgio Rodrigues de Souza. Ele foi atingido por um disparo no pé durante o ataque. O militar recebeu atendimento também no Hospital Getúlio Vargas e foi liberado ainda pela manhã.
O governador do Rio, Cláudio Castro, usou as redes sociais para lamentar a morte do policial e para falar da ação, que teve início nas primeiras horas desta quinta-feira:
"Nossas forças de segurança foram covardemente atacadas hoje cedo durante uma grande operação no Complexo do Alemão para prender criminosos. Um policial foi morto e outro, baleado. Lamento profundamente a morte do nosso agente e me solidarizo com a família', escreveu na postagem acompanhada por um vídeo que mostra um helicóptero da polícia sendo alvo de tiros.