Mesmo a 100 km da costa, Grande Recife Amazônico é alimentado pela floresta, diz novo estudo
Sistema ocupa cerca de 900 km da costa, entre o Maranhão e a Guiana Francesa, e é riquíssimo por estar repleto de espécies endêmicas, muitas das quais desconhecidas
Descoberto em 2016, o Grande Recife Amazônico (GARS) vem sendo entendido pela ciência brasileira. Nesta semana, um grupo de pesquisadores publica um novo estudo que conseguiu mapear todo o funcionamento do GARS, da molécula ao sistema, e descobriu que a prórpria Floresta Amazônica o alimenta.
O GARS ocupa cerca de 900 km da costa, entre o Maranhão e a Guiana Francesa, e é riquíssimo por estar repleto de espécies endêmicas, muitas das quais desconhecidas, como esponjas gigantes com até 2 metros de diâmetro e que pesam mais de 100 kg.
Em entrevista ao GLOBO, o pesquisador Fabiano Thompson, pesquisador chefe do Laboratório de Microbiologia da UFRJ, afirma que pela primeira vez foi possível identificar que microrganismos e nutrientes da pluma do Rio Amazonas alimentam as esponjas do Grande Recife Amazônico e que local pode ser considerado uma “farmácia submersa”.
— Trata-se de um mega-bioma composto pela maior floresta tropical do mundo, com o maior sistema de manguezais do Atlântico (um dos maiores do mundo) e o maior sistema recifal do Atlântico Sul. Este megabioma está todo conectado — explica Thompson, que participou da pesquisa.
O que é o Grande Recife Amazônico?
O GARS é um recife que ocorre entre aproximadamente 50 a 200 metros de profundidade, constituído majoritariamente por esponjas, rodolítos (algas calcáreas), mas também possui corais. Trata-se de um grande recife de pelo menos 56 mil Km2 que é extremamente rico em biodiversidade. Também é uma das principais regiões de produção pesqueira do país, se extendendo do Amapa ao Pará.
Como o GARS funciona?
O funcionamento do GARS depende de processos de heterotrofia e autotrofia. Microrganismos quimiossintetizante retiram energia de minerais (Hidrogênio, Nitrogênio, Enxofre) para produção de alimento (biomassa e matéria orgânica) para as esponjas. Microrganismos fotossintetizantes também são relevantes sobretudo ao largo da foz e ao sul da foz do Rio Amazonas onde luz é mais abundante por conta da menor incidência da pluma do Amazonas. O estudo mostra que o GARS esta conectado a Floresta Amazônica, e se nutre de elementos e microrganismos da pluma do Rio Amazonas. Portanto, há um contínuo, rio Amazonas-pluma-recife.
Por que é preciso conhecer com profundidade o funcionamento do GARS?
Porque a região ainda é pouquíssimo conhecida. O GARS somente foi descrito em detalhes em 2018. A região da Foz do Amazonas é uma das menos estudadas de toda a costa brasileira comparativamente. Além de ser habitat para importantes cardumes de peixe e para a vida marinha em geral, o GARS pode ser considerado uma farmácia submersa. Há riquezas que podem ser transformadas em produtos biotecnológicos, como novos medicamentos e alimentos, para a geração de divisas para o Brasil.
Por que é importante o Brasil entender que existe uma ligação desse tipo entre o Rio Amazonas e o recife?
É importante por várias razões. Trata-se de um mega-bioma composto pela maior floresta tropical do mundo, com o maior sistema de manguezais do Atlântico (um dos maiores do mundo) e o maior sistema recifal do Atlântico Sul. Este megabioma está todo conectado.
Também cabe mencionar: 1) que mudanças no continente, ocasionadas pela ação humana, podem afetar o funcionamento do GARS. 2) mudanças globais que alterem eventualmente o regime de águas do Amazonas poderiam afetar o funcionamento do GARS, embora esteja longe da costa e no fundo do mar. E 3) o conhecimento leva a melhor condição de uso sustentável dos recursos. Por exemplo os manguezais da região servem de berçários para vida marinha, para a vida no GARS. E o GARS serve como um banco de “sementes” para recifes mais rasos, das regiões costeiras, um recurso biológico inestimável no contexto das mudanças globais (com aquecimento e acidificação de águas)