Conflito

EUA sanciona por 'corrupção' o ex-presidente paraguaio Cartes

Horacio Cartes governou o Paraguai de 2013 a 2018, pelo Partido Colorado

O ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes - Arquivo/Agência Brasil

O governo de Joe Biden acusou o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes de "corrupção" e vetou sua entrada nos Estados Unidos, informou, nesta sexta-feira (22), o Departamento de Estado.

Cartes, um rico empresário do setor de tabacaria, governou o Paraguai entre 2013 e 2018 pelo conservador Partido Colorado.

Washington o imputou "por corrupção significativa" ao ter "obstruído uma importante investigação internacional sobre um crime transnacional para proteger a si mesmo e a seu cúmplice de um possível julgamento e danos políticos", garantiu o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, sem identificar o cúmplice. 

Estas ações "minaram a estabilidade das instituições democráticas do Paraguai ao contribuir para a percepção pública de corrupção e impunidade no gabinete do presidente", conclui.

O ex-presidente negou as acusações.

"Nego e rejeito o conteúdo das acusações, que considero infundadas e injustas", declarou em um comunicado, oferecendo "todo o apoio e informação de primeira fonte que as autoridades precisam" para esclarecer a situação.

Seu advogado, Pedro Ovelar, denunciou durante uma coletiva de imprensa que Cartes "sofre perseguição do governo" do presidente Mario Abdo Benítez, seu rival pela liderança do partido Colorado nas eleições internas marcadas para 18 de dezembro.

Ovelar sustenta que o Departamento de Estado se baseia em "informações tendenciosas produtos de um forte lobby de seus adversários políticos".

O governo americano afirma que as ações de Cartes "permitiram e perpetuaram a participação recentemente documentada de Cartes com organizações terroristas estrangeiras e outras entidades designadas pelos Estados Unidos". 

Isto afeta, segundo Blinken, a segurança dos Estados Unidos contra a criminalidade e o terrorismo transnacional e "ameaça a estabilidade regional". O chefe da diplomacia não forneceu em detalhes.

Em sua defesa, o advogado mencionou dois episódios em que Cartes esteve envolvido, um deles pela suposta ocultação de um caso de lavagem de dinheiro pelo brasileiro Darío Messer.

Segundo Ovelar, o caso foi esclarecido perante a justiça brasileira e o ex-presidente ficou isento de acusações. Além disso, ressaltou que "aconteceu depois dele ter deixado a presidência".

Se referiu também ao escândalo sobre o uso de um avião da empresa venezuelana Emtrasur, com tripulação iraniana e venezuelana, que em maio transportou cigarros de sua empresa de tabaco do Paraguai para a ilha caribenha de Aruba.

"A empresa Tabesa (de tabaco) nunca contratou, teve relação comercial ou pagou a empresa Emtrasur (pelo frete de cigarros). Foi paga pelo comprador final, que é uma empresa vinculada a terceiros da qual Horacio Cartes não é acionista", esclareceu.

A aeronave e sua tripulação foram retidos posteriormente na Argentina e estão sob investigação judicial.


Sem visto

O ex-presidente paraguaio foi imputado com base na seção 7031(c), que impede que funcionários de governos estrangeiros envolvidos em violações graves de direitos humanos ou corrupção significativa e seus familiares imediatos sejam elegíveis para um visto para entrar nos Estados Unidos.

O Departamento de Estado também imputou a três de seus filhos: Juan Pablo Cartes Montaña, Sofía Cartes Montaña e María Sol Cartes Montaña.

Apesar da acusação atual, Cartes agradou aos Estados Unidos durante seu mandato ao se tornar um dos poucos países a transferir a embaixada em Israel para Jerusalém, cidade que os palestinos querem tornar sua futura capital. A decisão foi revertida por seu sucessor, o presidente Mario Abdo Benítez.